sábado, 31 de dezembro de 2011

Vamos mudar de ano, perguntou o Tobias. então o que é isso de mudar?

Tobias de novo apareceu-me com um coleira anti-pulgas não muito satisfeito, perguntando-me se não podia mudar aquilo, muda-me isto por favor. Não dá Tobias, não dá. Chama-se prevenção e por isso é melhores usares. Mas não andam todos a dizer que temos que mudar coisas, deitar fora as coisas velhas, eu podia deitar esta coleira que não previne nada porque eu não tenho pulgas. Pronto já está é a negação como da medicação que se quer deixar porque se está bem esquecendo que se está bem por causa disso. Pronto mas hoje que é final do ano tenho de mudar qualquer coisa e não sei então o quê? O que vai acontecer por mudar o ano? Nada! disse-lhe eu. Para uns absolutamente nada, para outros tudo e para uns e outros alguma coisa quer para melhor quer para pior. Mas mudança não significa algo de bom, se estamos bem porquê mudar. eu não me apetece nada mudar de aspecto sou este Rotweiller e sinto-me bem por isso vou manter. Neste sentido mudar significar manter e por vezes é o melhor que podemos fazer se estou bem assim se me sinto bem assim fico assim. Mas ao Tobias não és tu que mandas nas mudanças, elas acontecem só por acontecer são obra da inter-acção com a vida. E tu não podes mudar de aspecto não podes ser quem não és. aceita a tua realidade. Mas porquê se sou mais feliz assim. mas estás iludido. Então estar iludido é bom, deixa-me estar. que chatice sempre mudança, mudar, mudar. sou assim e pronto e aceito-me como sou. Tobias é ao contrário estás com os pólos invertidos. então estou na moda pois não é isso que dizem que vai acontecer a terra para 2012, a inversão dos pólos. Se assim é já estou preparado para a mudança. Ou seja já mudei e não foi preciso nenhum tsunami, nem terramoto, mudei e pronto. agora vou entrar no proximo dia diferente?, não , não acredito nisso, vou estar igual a mim próprio. Porque quem diz que quer mudar ou vai mudar é porque está confuso e precisa de afirmar-se. acho que é ilusão ou então negação da própria pessoa. Ok Tobias olha de qualquer forma vai mudar o ano quer tu queiras quer não queiras e só para que saibas as coisas mudam sempre, as pessoas mudam sempre, tudo está em mudança e transformação. Ouve, ouve o silêncio pois nesse silêncio está o espaço e o tempo, está o som da vida em constante vibração (Om), faz parte dessa transformação que a humanidade está a procura sem saber onde a encontrar sem perder as mordemias e a posse. Ah, já percebi então se estou sempre em transformação admites que já não sou um caniche mas que modifiquei para algo maior, como as causas, admite, não queres é ver. O Tobias assim não dá. pois não dá isso é filosofia e eu sou mais prático. Pragmático ou até deslumbrado contigo mesmo deixa-lá isso e para acabar o ano vamos à rua.
Tobias, anda vamos à rua.

2012 - Um ano depois do final de 2010, onde se inicio 2011.


quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Vai acabar o ano - vai começar o ano.

O Tobias pediu um tempo para pensar se deve mudar ou manter a sua postura junto árvore de Natal. confrontei-o com a sua impaciência para que o natal acabe e o que ele quer é começar um bom ano novo. Posso ficar menos tempo, claro que podes, não há registo de cães na história do natal. Vamos mas é preparar o próximo ano. Vamos ter mais consultas. Então que abandonar a terapia. É que tenho coisas para fazer e isto está-me a prejudicar. como assim? é ue quero passar o ano como eu quiser sendo quem eu quiser. Pronto estamos de volta a problema. Andamos em círculos. Mas não é essa a história do homem, da humanidade, das sociedades. eu sou evoluído disse ele bem alto num rosnar elegante. Claro Karma/Dharma, ying/yang, Verdade ou consequência, Ciência/religião, Homem/Mulher, rotweiller/caniche: dicotomias que não são separaveis, nem com muita terapia. O Tobias sofre de algo tão igual a vida.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Álcool; Álcoolismo; Álcoolico; Bio-Psico-Social;Tratamento.


*Álvaro Augusto dos Santos Carvalho

RESUMO

O presente trabalho visa a aquisição de conhecimentos e competências de intervenção do psicólogo clínico e da saúde no tratamento dos problemas ligados ao Álcool. O Álcool, O Alcoolismo e o Alcoolico são aqui abordados no desenvolvimento das suas dimensões. Com base no Plano Nacional para a redução dos Problemas Ligados ao Álcool de 2010 – 2012; de Novembro 2009 do Instituto da Droga e da Toxicodependência, reflecte-se sobre o terreno de actuação. Esta problemática afecta os individuos e a sociedade em toda as suas dimensões Bio-Psico-Sociais. O tratamento combina várias vertentes sendo o mais efiscaz o que combina a terapia Cognitiva-Comportamental com os grupos de Auto-ajuda dos Alcoólicos Anónimos e Prevenção à Recaída. Neste ambito foi realizada uma visita à Unidade de Alcoologia de Lisboa bem como uma entrevista sobre o papel do psicologo.


Palvras-Chave: Álcool; Álcoolismo; Álcoolico; Bio-Psico-Social;Tratamento.



O objectivo deste trabalho é dar a conhecer modelos e competências de intervenção da prática clínica na saúde do Psicólogo e em concreto no Alcoolismo.
A psicologia clínica define-se como um método, na medida em que postula a avaliação e o diagnóstico criteriosos do sujeito a fim de viabilizar a intervenção com diferentes técnicas. O campo de actuação do psicologo inserido na área da saúde é oltado para a superação do sofrimento psíquico dos sujeitos (Schneider, 2002).
A saúde e principalmente, a doença, têm sido tradicionalmente objecto de estudo e intervenção da medicina e das ciências (McIntyre, 1994 p. 17). A psicologia ocupa um lugar previligiado como ciência social e do comportamento para a promoção da saúde e bem-estar. Os psicologos da sáude actuam no desenvolvimento de programas comportamentais para promover comportamentos para a saúde e extinguir comportamentos de risco (McIntyre, 1994 p. 28).
Sabendo-se que o estado de saúde está intimamente ligado aos estilos de vida, é necessário promover a adopção de comportamentos saudáveis, sensibilizando os indivíduos para a redução dos comportamentos mais prejudiciais para a saúde, facilitando informação que permita decisões autónomas e escolhas informadas, de acordo com a liberdade individual (2010 PNA, p. 2).
A Organização Mundial de Saúde, publicado no the Journal of American Medical Association em 26 de agosto de 1992, define que o alcoolismo é uma doença primária, crónica, com factores genéticos, psicossociais e ambientais. A doença é geralmente progressiva e fatal. Primária porque é uma entidade em si própria não é causada por outros factores. É crónica porque a pessoa não volta a beber de forma controlada ou normal e é progressiva porque os sintomas e as consequências continuam a ocorrer com gravidade crescente e utilização continua (Scheel, 2001, pp. 90-92).

O Alcoolismo.
O presente Plano Nacional para a Redução dos Problemas Ligados ao Álcool pretende, antes de mais, operacionalizar a maioria das intenções explicitadas no Plano de Acção contra o Alcoolismo, e o seu objectivo primordial consiste em reduzir de forma significativa o consumo nocivo de álcool entre a população e diminuir os seus efeitos perniciosos em termos sociais e de saúde (2010, IDT, p. 1).
A eficácia das intervenções em geral está intimamente associada ao conjunto das boas práticas levadas a cabo por profissionais competentes. Os indivíduos com dependência, bem como os que apresentam co-morbilidade médica, psiquiátrica ou aditiva, devem beneficiar de tratamentos mais intensivos, ministrados por profissionais especializados, em Unidades específicas. Os indivíduos com dependência, bem como os que apresentam co-morbilidade médica, psiquiátrica ou aditiva, devem beneficiar de tratamentos mais intensivos, ministrados por profissionais especializados, em Unidades específicas (2010, PNA, IDT, p. 7).
A dependência alcoólica corresponde a um conjunto de fenómenos fisiológicos, cognitivos e comportamentais que podem desenvolver-se após uso repetido de álcool. Inclui um desejo intenso de consumir bebidas, descontrolo sobre o seu uso, continuação dos consumos independentemente das consequências, uma alta prioridade dada aos consumos em detrimento de outras actividades e obrigações, aumento da tolerância ao álcool e sintomas de privação quando o consumo é descontinuado (OMS, 1992). Trata-se de “uma doença primária, crónica, cujo desenvolvimento e manifestações são influenciados por factores genéticos, psicológicos, sociais e ambientais; a doença é frequentemente progressiva e fatal; caracteriza-se por uma perda de controlo do consumo, permanente ou temporária, com o uso de álcool apesar das consequências negativas e acompanha-se de distorções cognitivas, com particular ênfase para a negação” (McQueen, 2004, cit in PNA, IDT, p. 6)[1].
A doença Adictiva ou adicção é uma doença em que a pessoa desenvolve dependência bio-psico-social de qualquer substância que altere o humor “ Uma relação patológica de amor e confiança com um objecto ou acontecimento (Nakken, 1988, p. 22). A adicção leva a pessoa a obter gratificação imediata e desconforto a longo-prazo (Gorsky, 1986, p. 18). Quando não usa a pessoa que sofre de adicção, pensa, planeia e só deseja voltar a usar e isso é a obsessão. A compulsão é a urgência irressistível de satisfazer essa necessidade e usar de novo. Cria-se um Ciclo Adictivo  onde o pensamento adictivo é activado pela obsessão e compulsão que levam à negação, incapacidade de reconhecer que existe um problema e a Racionalização, acusar e atribuir a causas externas a responsabilidade (Gorsky, 1986, p. 23).

Nas últimas décadas, tem sido feito um esforço pela medicina na identificação das doenças, através de sinais e sintomas, exames, diagnósticos, testes, avaliação para identificação das suas causas e investigação da eficácia dos tratamentos (Cunha Filho H., 2004, p. 138). Torna-se importante a definição de um quadro claro sobre o cliente, que permita a decissão sobre como ajudar a cada momento do processo (Cunha Filho H., 2004, p. 141). Para isso a utilização de instrumentos baseia-se numa abordagem sistematizada com a triagem e a avaliação. Por triagem entenda-se que:
“é o processo através do qual terapeuta, cliente e outras pessoas significativas determinam a acção mais apropriada a seguir, de acordo com as necessidades e com os recursos disponíveis na comunidade”. (Cunha Filho H., 2004, p. 136)

Na Avaliação o que é tido em conta é o desenvolvimento físico e problemas médicos e de saúde, HIV, Hepatites, tuberculose história dos consumos, tentativas de parar de usar, outros tratamentos, problemas associados aos consumos psico-sociais, desordens psiquiatricas, família, relações significativas, área educacional e ocacional e ainda legais e financeiros (Scheel, 2001, p. 133).
 A triagem e a avaliação permitem escolher e adaptar o melhor setting para o paciente e o tratamento é composto por uma série de abordagens quer com bases biologicas, comportamentais e psico-sociais. Na abordagem biologica, farmacologica é usada o disulferam, um anti-abuse que interfere com o metabolismo do álcool e causa efeitos desagradáveis na pessoa se o ingerir, sendo muito usado com sucesso na prevenção à recaída (Scheel, 2001, p. 108). É nas variantes comportamentais e ou psico-sociais que se incluem modalidades de tratamento em consulta, em ambulatório ou semi, bem como o internamento hospitalar, comunidades terapeuticas em regime de internamento, havendo programas diversos quer no tempo quer nos modelos de intervenção adotados (Scheel, 2001, p. 112).
Os critérios de encaminhamento da ASAM - American Society of Adiction Medicine – em Portugal APMA Associação Portuguesa de Medicina de Adicção elaborou um instrumento para regular as intervenções, o PPC-2r, propõe seis Níveis e seis Dimensões para a abordagem da adicção: Nível 0,5-intervenção precoce para as situações de abuso; Nível I-tratamento ambulatório; Nível II-ambulatório intensivo; nível III-tratamento residencial/internamento, CT; Nível IV-Internamento com apoio médico e psiquiatrico intensivo e Nível TMO-tratamento de Manutenção Opiácea de substituição. Quanto as dimensões o PPC-2r, define: Dimensão 1-intoxicação e sindroma de privação aguda; Dimensão 2-condição biomédica e complicações físicas, eixo III do DSM IV; Dimensão 3-estado emocional, cmportamental e cognitivo, eixo I e II do DSM IV; Dimensão 4-prontidão e disponibilidade para a mudança; Dimesão 5-potencial para a recaída e Dimensão 6-ambiente de recuperação e sistemas sociais de apoio, eixo IV e V do DSM IV. Com base nesta dimensões torna-se poss´vel uma intervenção estruturada (Henriques, 2003).
Nos programas de tratamento são várias as abordagens que passam desde os grupos de auto-ajuda de àlcoolicos Anónimos, aconselhamento individual e de grupo e deve ser incluída também a terapia familiar e as estratégias, skills básicos e avançados para modificação do comportamento e dos crenças com intervenções cognitivas-comportamentais (Scheel, 2001, p. 106).
Em Portugal, O IDT, Instituto da Droga e Toxicodependência tem no seu Plano Nacional os objectivos de promover a qualidade de intervenção, a investigação, elaboração de informação actualizada, promoção de intervenções formativas dirigidas a profissionais, monitorização e avaliação contínua das intervenções nos três níveis de cuidados primários de prevenção, secundários de tratamentoe terciários de reinserção(PNA, 2010, pp. 42-57),. O Plano Nacional para a redução dos Problemas Ligados ao Álcool de 2010 o IDT define áreas prioritárias de intervenção, que incide nos jovens, crianças e grávidas, bem como diminuir a exposição ao fenomeno do álcool e redução dos consumos, redução da sinistralidade rodoviária e prevenir os efeitos nocivos do álcool nos adultos e reduzir as repercurssões negativas no local de trabalho com PAE, Programas de Apoio aos Emprgados (PNA, 2010, p. 35).
No campo de intervenção secundária encontra-se o tratamento:
“Os programas de tratamento devem ser ser contemplados de forma a responder com efiviência às necessidades da população com consumos problemáticos de álcool” (PNA, 2010, p. 37).

Assim, estabelecem-se redes de referenciação e articulação por diferentes vectores de actuação de forma a melhorar às necessidades de tratamento.

O Modelo Bio-Psico-Social emergiu para compreender toda a problemática associada aos consumos do álcool (Scheel, 2001, p. 91). A predisposição hereditária, as alterações químicas no organismo, nas funções mentais, no lobo frontal, na área de wernicke entre outros provocados pelos consumos de álcool bem como os seus efeitos na vida pessoal e da sua integração social levam a necessidade de uma compreensao holística (Scheel, 2001, p. 91).
As pessoas tentam parar sozinhas mas a eficácia é baixa e o tratamento é a via mais segura. Neste modelo não se fala em cura mas sim em recuperação. Sendo que o primeiro passo é a desintoxicação, cujo objectivo é ajudar a estabilizar o paciente fisica e psicologicamente (Scheel, 2001, p. 99).
O Tratamento com mais sucesso para a dependência química é o que combina os principios e o programa dos Doze-Passos dos àlcoolicos Anónimos (A. A.), com aconselhamento e terapia profissional na vertente cognitiva-comportamental (Gorsky, 1986, p. 25). Por direito próprio o tratamento mais efectivo é a abordagem bio-psico-social que combina a filosofia dos A. A. com a entrevista motivacinal e a prevenção à recaída (Scheel, 2001, p. 215).
Os grupos de auto-ajuda dos àlcoolicos Ánonimos tem como filosofia de base  um programa de Doze-Passos e Doze-Tradições, são homens e mulheres àlcoolicos com o desejo de parar de usar que se reunem com regularidade com o sentido de se auto-ajudarem no caminho da recuperação. Este programa tem o seu inicio nos anos trinta com Bill W. e Dr. Bob. Bill era um álcoolico corretor da bolsa e com sérios problemas provocados pela ingestão de álcool. Apesar de querer parar não percebia porque voltava a beber. Um dia com uma forte vontade de beber resolve pedir ajuda e vai falar com Dr. Bob, um médico da localidade com graves problemas de álcool. Não vai com o intuíto de o ajudar mas pede-lhe cinco minutos do seu tempo para se poder ajudar a ele porque tem fortes vontades de beber mas não pode. Falaram cerca de cinco horas sobre o que acontecia quando bebiam, não das memórias eufóricas, mas do problema do primeiro copo e da forma como perdiam o controlo e como se sentiam. As vontades de beber foram-se e juntos resolveram manterem-se abstinentes pela partilha procurando ajuda e dando a outros, no dia 10 de Junho de 1935 fundam os Alcoólicos Anónimos (Scheel, 2001, p. 115). Os Doze Passos nasceram assim para as pessoas com problemas de álcool poderem se ajudar, serem ajudados e darem ajuda para se manterem sóbrios. são um grupo de voluntários onde não há lugar a descriminação, não olham a raça, ao sexo, a religião. O anonimato é uma forma de protecção dos seus membros. Os A.A. acreditam que o Alcoolismo é uma doença que não pode ser curada mas que a sua progressão pode ser travada pela recuperação. São uma Organização Mundial com mais de 15 milhões de pessoas em pelo menos 134 países (Scheel, 2001, p. 116).
O Modelo Minnesota baseia-se na filosofia dos A.A. e dos seus Doze-passos. Em meados do Século XX, as Instituições Psiquiatricas, hospitais, sofriam uma revolução e homens com Daniel Anderson e Nelson Bradley do Wilmar State Hospital, são os arquitectos pricipais da experiência multidisciplinar e fundam em 1950 aquele que é hoje o método Minnesota (Margalho Carrilho, 1996) acreditavam no potencial do paciente para a sua recuperação numa fusão genial e pragmática de princípios oriundos das ciências médica e psicológica e estrutura vivencial em comunidade associando a filosofia dos Alcoólicos Anónimos. Instituições como Hazelden Foundation, O Centro de Estudos Cientificos Betty Ford, Pioneer House entre muitos de renome adaptaram esta abordagem para tratamento das pessoas com problemas com o álcool. No Modelo Minnesota a abordagem é caracterizada por uma avalição completa, holistica e sistémica, multimodal num contexto Bio-Psico-Social. A composição da equipa é multidisciplinar e o seu principal objectivo é de que a abstinência é um pré-requesito e o tratamento fornece ferramentas ao cliente para aprender novas maneiras de viver sem o uso de álcool. O seu objectivo final é a mudança de personalidade e de pensamento. Os programas de Prevenção à recaída são uma peça fundamental deste modelo (Scheel, 2001, p. 118)
A recaída é considerada como um sintoma do álcoolismo. Estudos demonstram que 54% das pessoas recaiem e que desses apenas 1/3 vão se manter sóbrios ao longo da sua vida (Simpson, Joe & Lehman, 1986 cit. in Scheel, 2001, p. 237)[2]. Metodologias de prevenção de prevenção são importantes para o sucesso do tratamento. O Modelo de Gorsky para a prevenção à recaída aponta para que 1/3 dos pacientes nunca recaíe, o outro 1/3 recaíe tem sucessivas recaídas antes de entrarem em recuperação e os que nunca vão entar em recuperação (Gorky, 1986, pp. 9-12). Gorsky estudo o porquê das pessoas apesar de quererem parar e manterem-se sóbrias acabavam por recaír e identificou três fases com Disfunção interna, Externa e Perda de Controlo, com sinais específicos, que aumentam o risco de recaída e que se forem identificados pode-se  ajudar o paciente a reduzi-los ou a aprender a lidar com eles (Gorsky, 1986, pp. 9-12).
O modelo bio-psico-social de Gorsky, evolução do modelo médico, considera que os objectivos genéricos de um programa de recuperação são: Reconhecer a dependência química como uma doença; Aceitar a necessidade de abstinência total; Estabelecer um programa para manter a abstinência; Diagnosticar e tratar problemas bio-psico-sociais que possam interferir com a sobriedade (Henriques, 2003)[3]

O conceito de processo de recaída vai contra a ideia tradicional de que a recaída começa com o uso de álcool. “Muitas pessoas tornam-se disfuncionais em sobriedade, antes de recomeçarem a beber” (Gorsky, 1986, p. 14). A abstinência permite o processo de recuperação e começa com a aceitação do que a pessoa não pode usar de forma controlada e segura o álcoo. Reflectindo sobre o que aconteceu com ajuda terapeutica o processo de mudança começa a acontecer, no entanto, apesar de ser esse o ponto de partida para uma vida normal, aprender a viver de forma satisfátoria sem beber requer muito mais e torna-se necessário corrigir os danos físicos, psicológicos e sociais causados pela adicção (Gorsky, 1986, p. 15).
Recuperar implica parar e mudar de um locus de controlo mais externo para um mais interno. A gestão de sintomas de abstinência que surgem após a fase aguda de desintoxicação, Sintomas de Abstinência a Longo-Prazo, ALP, são o que torna para os álcoolicos a sobriedade tão dificil (Gorsky, 1986, pp. 27-28) porque é a síndrome bio-psico-social que resulta da combinação das danos causados pela droga no Sistema Nervosos Central e do stress de enfrentar a cvida sem álcool. Segundo Gorsky estes sintomas podem ter diversos padrões e aprender a lidar com eles requer estratégias e podem ser controlados pela estabilização, educação e reaprendizagem, nutrição, exercicio fisico, relaxação, espiritualidade e uma vida equilibrada (Gorsky, 1986, pp. 33-40).
Mudar provoca stress, nos seus estudos sobre o que leva as pessoas a recairem? Gorsky identifica que as pessoas que recaiem não tem consciência dos primeiros sinais de aviso e identifica 37 sinais que se manifestam em três fases principais e dez etapas até ao acto de beber ou ao colapso físico e emocional (Gorsky, 1986, pp. 72-84).
Os programas de tratamento acompanham os pacientes nestas fases de mudança de forma a reduzir os riscos de recaída, sendo os pacientes encorajados a irem as reuniões dos grupos de auto-ajuda dos A.A. como forma de seguirem um programa e manterem no estágio de manutenção (Gorsky, 1986, p. 105).
Mas então o que é na realidade motivação para mudar. Miller & Rollnick na seu livro Preparar as pessoas para Mudarem os seus Comportamentos Adictivos de 1991, apresentam que a motivação é muitas vezes vista como: Concordar com oterapeuta, aceitar o seu diagnóstico, admitir que se é um álcoolico, expressar um desejo real de querer recuperar e de precisar de ajuda e seguir os conselhos do seu Conselheiro. E, que se o paciente não apresentar estas características não está suficientemente motivado. Gorsky nas suas palestars refere-se ao conceito de doença e como se pode recusar ajudar uma pessoa que não sabe que precisa de ajuda mas que no entanto sofre com isso, “Como podemos dizer a uma pessoa que sofre de um ataque de coração, pedimos desculpa mas este é o seu terceiro ataque e assim não o podemos ajudar mais”. As declarações por si só não dão garantias de que se vai mudar o que parece resultar é um plano de acção e de prevenção (Miller & Rollnick, 1991, p. 12).
A probabilidade de que uma pessoa entre, continue e adere a uma determinada estratégia deve ser um papel fundamental do terapeuta. É da sua responsabilidade usar técnicas especiais para aumentar as probabilidades do sucesso da mudança dos comportamentos adictivos usando abordagens efectivas de motivação.

O Modelo Transteórico de Mudança
Desenvolvido por Prochaska e DiClemente este modelo teve um impacto significativo no campo das adicções, através do conceito de estágios de mudança. Os autores diferenciaram as etapas pelas quais qualquer pessoa passa quando vivência um processo de mudança de um comportamento (Carneiro & Gigliotti, 2004, p. 99).
Neste modelo as mudanças ocorrem em etapas progressivas e cada etapa possuí características próprias, sendo necessário a utilização de recursos técnicos diferenciados em cada momento (Miller & Rollnick, 1991 p. 56). Este Modelo influência drasticamente a maneira de trabalhar dos profissionais de saúde que operam mudanças no comportamento. Os estágios de mudança de Prochaska e DiClemente, “The Well of change” (Miller, Rollnick, 1991 cit. in Ferreira-Borges & Cunha Filho, 2004, p. 99)[4] são: Pré-Contemplação; Contemplação; Preparação; Acção; Manutenção e de Recaída ou Lapso podendo haver uma saída permanente ou reentrada na “roda”. Em Pré-Contemplação, o sujeito, não tem consciência do seu problema e não quer modificá-lo. Podendo ser trazido para tratamento sob coerção. Os pré-Contemplativos dividem-se em quatro tipos: Os 4r’s, relutantes, rebeldes, racionalizadores e os resignados. É um grande erro acreditar que não se pode fazer nada por eles (Carneiro & Gigliotti, 2004, p. 101) e a grande meta é ajudá-los a tornarem-se contempladores, a começarem a questionar o seu comportamento. Na Contemplação ou ambivalência, o cliente aceita a ideia de que tem um problema mas rejeita-o, começa a reflectir sobre aquilo que o tem vindo a prejudicar mas no entanto sente-se dividido, tem razões para mudar e razões para não mudar, ainda não tomou uma decisão. Aqui o papel do terapeuta será ajudá-lo a passar para a outra fase, ou seja, fazendo pender a balança e preparando-o para a acção. O momento da acção é onde a pessoa se envolve objectivamente na mudança de comportamento (Carneiro & Gigliotti, 2004, p. 102). Neste estágio concretiza as mudanças planeadas e implementa o plano delineado no estágio anterior. Interrompe o comportamento que o tem prejudicado. A fase de consolidação da prática dos planos de acção é a manutenção. Este estágio perpetua-se por toda a vida sendo assim atingido a saída permanente.
Muitas vezes o cliente baixa a guarda, diminuem as suas preocupações de manutenção, por vezes imagina-se curado, e aqui o processo pode se inverter e levar a uma recaída ou lapso. A recaída faz parte do processo de mudança e pode ser um boa aprendizagem e reforço para nova tentativa (Carneiro & Gigliotti, 2004, p. 103).

Baseiando-se no Modelo de estágios de Mudança “A Entrevista Motivacional de Miller & Rollnick é a técnica mais actual desenvolvida para mudanças de comportamento” (Carneiro & Gigliotti, 2004, p. 103). Revolucionou o tratamento de Dependência Química. Assenta em duas premissas básicas: De que existe uma abordagem para cada paciente dependendo do estágio de mudança em que a pessoa se encontre e que o estilo do terapeuta é mais importante do que a técnica eleita para o tratamento (Carneiro & Gigliotti, 2004, p. 103). Aqui ganha forma o quanto é importante mudar para determinada pessoa e quanto é que essa pessoa confia na sua capacidade para executar a mudança. Esta abordagem faz tábua rasa e evita qualquer rótulo. O modo como se lida com a resistência é fundamental para se implementar de forma eficiente é fundamental para se implementar a abordagem motivacional. Devendo-se usar técnicas relexivas e respostas estratégicas (Carneiro & Gigliotti, 2004, p. 104).
A abordagem motivacional é directiva, vai buscar características as não-directivas mas é claro que se estabelecem metas defenidas e são utilizadas técnicas específicas para as alcançar (Miller & Rollnick, 1991 p. 47). A entrevista motivacional propõe que os profissionais dêem sempre aos pacientes a sensação de que eles é que estão a fazer escolhas para a sua vida e que nada lhes está a ser imposto (Carneiro & Gigliotti, 2004, p. 107). A Remoção de Barreiras é um factor importante para a adesão ao tratamento e a acção do terapeuta é capaz de diminuir ou aumentar a resistência. Não sendo uma abordagem Rogeriana vai buscar conceitos como a empatia a Rogers. Onde a capacidade de se colocar no lugar do outro não é conduzir o seu “carro”. A empatia é uma forte preditora do sucesso terapeutico ao contrário dos métodos de confronto mais agressivos que não obtiveram nenhuma correlação com o sucesso do tratamento mas sim com o aumento das defesas e da desmotivação (Miller & Rollnick, 1991 p. 13). O seu grande objectivo é confrontar o paciente com a sua verdade e com uma estratégia para o aumento da motivação para a mudança não é necessário aumentar o tom de voz. Se for dado feedback ao paciente sobre a sua condição e os riscos do seu comportamento de forma empática isso aumenta a probabilidade de o paciente ouvir e de se questionar (Carneiro & Gigliotti, 2004, p. 108).

Em suma, o Modelo Bio-Psico-Social emergiu para compreender toda a problemática associada aos consumos adictivos do álcool e os objectivos do tratamento devem seguir critérios rigorosos de triagem e avaliação. As componentes mais efectivas para um tratamento de sucesso está na relação terapeutica e no uso de estratégias próprios para levar a mudança do comportamento de risco. Sendo que as abordagens Cognitivo-Comportamental, a Entrevista Motivacional e a Prevenção à recaída tem-se mostrado eficazes na abordagem do problema.
Em Portugal o Tratamento constitui um dos pilares ffundamentais da acção estratégica do IDT na diminuação de riscos e das consequências dos consumos de substâncias psicoactivas.
Os objectivos das comunidades terapeuticas incluem a habilitação ou reabilitação total do individuo dando inicio a uma aprendizagem de mudança dos comportamenos negativos, de pensamentos e emoções que possam predispor ao consumo de álcool. Tendo como meta o desenvolvimento de um estilo de vida saúdavel (Scheel, 2001, p. 112).



Referências
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Carneiro, E & Gigliotti, A (2004); Para além da Teoria: A Entrevista Motivacional; pp. 99-109; in Ferreira-Borges, C. & Cunha Filho, H. (2004); Aconselhamento: Manual Técnico 1; Climepsi editores, Lisboa.
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DSM-IV, 2002; Manual Diagnóstico e Estatístico de Pertubações Mentais, 4ª Edição rev.; Lisboa Climepsi.
Ferreira-Borges, C. & Cunha Filho, H. (2004); Alcoolismo e Toxicodependência, Manual Técnico 2; Climepsi Editores.
Gleitman (2007); Psicologia; Calouste Gulbenkien, 7ª Edição, 2007; Lisboa.
Graham; Shultz; Mayo-Smith, Reis; Principles of Addiction Medicine; 3º edition; American Society of Addiction Medicine; USA 2003.
Margalho Carrilho, J. (2005); Comorbolidade/Duplo Diagnóstico em Peturbações Mentais e do Comportamento relacionadas com substâncias psicoactivas; Junho 2005. UTITA.
Nakken, G. (1988); A Personalidade Adictiva; Hazelden Foundation; Ed. ATT, Lisboa.
Henriques, F., (2003); Vou Conseguir: Prevenção da recaída ou como manter activo o processo de recuperação.
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Correia, R, Henriques, F., Margalho Carilho, j., Santos, A. & Silveira, S. (1996); As Características do Modelo Minnesota: Parecer Técnico-Científico.
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PNA, (2010); Plano Nacional para a Redução dos Problemas Ligados ao Álcool: 2010 – 2012; Novembro de 2009, IDT; http://.idt.pt/PT/paginas/Publicações.aspx.




[1] McQueen, K. A. (2004). Alcoholism. In: Rakel RE, Bope ET, eds. Conn's Current Therapy. Philadelphia, Pa: WB Saunders; pp 1141-1145. – Cit. in: Alcoholism and Pathways to Recovery: New Survey Results on Views and Treatment Options CME.
[2] Simpson, D.D., Joe, G.W., Lehman, W.E.K. & Sells, S.B., (1986); Addiction Careers: Etiology, Treatment and 12-Years of followup outcomes; Journal os Drug Issues 16 (1), 107-121.
[3] Médico e Conselheiro em Adicção. Terapeuta Comportamental e Cognitivo pela APTCC e Emocional pela APTE-PB.
[4] Miller, W. R. & Rollnick, S (1991); Motivational interviewing: Preparing People to Change Addictive Behavior; Guilford Publications, Inc.; NY, USA.

Os pinguins são bons líderes ou bom gestores.

É de notar que são todos iguais, são todos pinguins, têm os mesmos traços, as mesmas características e resulta para a sobrevivência do grupo, mas a questão é se funciona para a segurança da empresa. Relembro as experiências de Haltrow, onde o grupo atingia um poder de entendimento que não deixava produzir mais, então aqui a segurança do grupo não permitia melhores resultados. E aproveitar as características pessoais, requer uma liderança objectiva e a forma de a efectuar no tempo para atingir os resultados esperados ou superá-los. Portanto não somos todos pinguins.
Quando um azar nunca vem só é apenas porque o desejamos. Então porquê ficar desiludido, frustrado, em raiva, porquê? porque somos humanos e como tal alvo dos nossos desejos. As nossas preocupações e os nossos problemas são escolhidos por nós. Muda a tua atitude e mudas a tua vida.

Porque deixámos de ser crianças?

http://youtu.be/pTgOLLmTQI0

http://youtu.be/pTgOLLmTQI0

"Nenhum de nós é tão inteligente quanto todos nós" - Ken Blanchard (também um provérbio japonês e também citado por Satchel Paige). Vídeo por Cinthia Reyes

O Trabalho de Equipe - Funciona.

O trabalho de grupo(equipa) não põe em risco um individuo para segurança do grupo. O grupo salva-se se trabalhar em conjunto. Team work

Quem mexeu no meu queijo?

http://ubiratangeo.blogspot.com/2011/04/palestra-livro-quem-mexeu-no-meu-queijo.html

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Os "porcos" que deram cabo do Natal - O Tobias quer resolver este problema.

Devido aos problemas com os porcos que deram cabo do Natal, O Tobias está a rever a sua posição. Pensa que pode ser importante ele ser o Natal, o menino Jesus não dá, o Pai do Natal já os três porquinhos deram cabo dele. E agora Tobias como vamos resolver está questão? Bem, disse ele, tu vais para a rua ajudar as pessoas. E eu fui, e hoje já ajudei uma senhora com um bebé no carro a estacionar, estava difícil a manobra e todos passavam "solidários" por causa do espírito do Natal e dirigiam-se para o supermarket o mais rapidamente possível, nem deram por nada, lá voltou a cegueira colectiva e depois ajudei um senhor no multibanco que não sabia fazer pagamentos de serviços e percebi que há coisas que eu aprendo que servem para ajudar as pessoas. Estava a contar isto ao Tobias sobre as minhas acções, quando ele me interrompe e diz: Então e o Natal? O quê? Sim o Natal não resolves-te o problema apenas fizeste foi de escuteiro "meirin" e eu que gostava mais de ser o "Merlin". Enfim fiquei desiludido e confuso sobre o que é afinal o Natal. O Tobias clarificou-me, não te preocupes pois estou a tratar disso.
A solução é:
Olha, se todos tivessem a minha foto na árvore de Natal ficavam mais satisfeitos e felizes. Como, assim? Estás novamente egocêntrico! Eu egocêntrico, não tenho é a certeza que devido a insegurança que anda por aí, politica, económica, de roubos e tiros e ainda por cima agora que os porquinhos deram cabo do Natal, mais insegurança trouxeram a todos nós. Por isso a minha foto de Rotweilller na árvore de natal ajudaria as pessoas a sentirem-se mais optimistas. E aconselho as pessoas a não comerem "porco" no Natal pois eles vão aprender a lição. Agora comigo eles não brincam com podem ver o Pai Natal está seguro, aquilo foi apenas um falso que tentava se fazer passar pelo Natal. Ponham a minha foto de guarda ao Pai Natal na vossa árvore e vão passar um Natal em segurança e em Paz.

Os Três porquinhos deram cabo do Natal.

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Reedição 2ª - As Consultas do Tobias


O Tobias foi à consulta.
Vi que ele não andava bem e resolvi fazer outra consulta com o Tobias, marquei para fora da sua casota para não ser no seu território e fomos para o sofá, o meu território. O Tobias apareceu-me, assim como se vai as consultas, na consulta, triste, cabisbaixo, demorou até começar a falar e eu esperei em silêncio terapêutico convidando ao profundo pensamento e ele entre hesitações lá foi dizendo: - ( que não tem namorada e pensa que se fosse um Rottweiler seria mais fácil. Seria mais fácil ser desejado, com menos esforço chegaria lá e que ouviu dizer, por aí, nos livros e na TV, que as pessoas podem ter ego e sentir orgulho. Eu perguntei-lhe depois de um silêncio, mas o que é que te impede? De quê, perguntou-me ele, num ar de quem está longe, com os pensamentos voando em imagens por ele imaginadas de tudo e de nada. Bem! acho que tenho medo! - Medo? Questionei eu, - medo de quê? Então ele com calma foi dizendo, que: - Não sei! Mas lembro-me de uma vez ler o “Principezinho” e fiquei com medo, nem dormi durante alguns dias, perturbado com a sua solidão e com a sua procura, à procura de um amigo. Que cruel foi aquele Saint Exupéry. Bem, aqui fiquei mais preocupado, pois pensei, não sei se hei-de de aplicar-lhe algum método quantitativo ou se vou ao cinema com ele, ver o “Alice no País das Maravilhas” do Tim B. para ele poder ter identificação e não se sentir tão sozinho, mas no cinema ainda me sinto mais só disse num latido triste, o meu Tobias. E continuou, falta-me qualquer coisa que me dê prazer, assim forte, potente, ouvi falar de sexo e não conheço, sou virgem e tenho vergonha, disse baixinho, mas depois aumentando o tom reforçou, que: - mas, aos cães lá da rua, vou à janela e ladro muito, como eles, para me fazer notar e eles assim pensam que eu já tive muitas, “experiências” e que sou difícil e forte como um rottweiler. Pensei em ir-lhe buscar um espelho, para ele se ver, mas podia-lhe criar uma falha narcísica e Orkut zangar-se-ia comigo dizendo que:  - Essa fenda! Não é para entrar, escolhe Pré-Contemplação.  Bem como estamos em consulta de forma Holística, vou tentar entendê-lo, com Empatia, viajando com ele, vou ser ele sem deixar de ser eu. É como se esta angústia de ter que ter prazer e sexualidade fosse comandada pelos meus genes, como disse o R. Dawkins, os memes, e que antecipando o perigo de não deixar descendentes eu vá sofrendo de angústia por oposição ao prazer que devia sentir, não sou livre, custa-me a respirar, doí-me o peito se calhar vou antes ao médico. Sobre a angústia da decisão parece que é pior quando o Locus de Controlo é interno. Do problema da angústia ser determinada pela antecipação de um perigo, como o sentimento de ausência de defesas ou o fracasso da razão. Aqui vi-lhe uma lágrima e lembrei-me do Pathos, Logos e Ethos, fugi para não sentir, pois não me posso emocionar quando estou em consulta tenho que ser “rottweiler” mas sereno. Passei o assunto para mim, tomei-lhe o leme e dei-lhe um rumo e resolvi falar-lhe dá angústia de Freud e de Kierkegaard e disse-me que já tinha lido isso tudo e que não o fazia sentir melhor. Disse-me que já foi religioso e existencialista, mas que não pode fugir dele. Já tinham passado mais ou menos 52 minutos no relógio de parede que eu observava sem que ele notasse para não ficar comprometida a nossa relação, pelo tempo e num tom calmo e amigável disse-lhe bem por hoje chegamos a fim e vamos marcar uma próxima consulta.
Tobias! Anda, vamos à rua!
Álvaro Carvalho, 10 de Novembro de 2011.

De novo em consulta, hoje o Tobias apareceu-me ou pareceu-me algo eufórico, falando muito de tudo de todos, dos meninos que estavam na rua com skates e que correu atrás deles e de uma bola mas que era muito grande para os dentes e que isso o arreliava, mas que correu muito, foi giro. Depois ouve uma menina que ele acha que não gosta de cães pois chorou e assustou-se quando o viu, depois ela quando ia a correr para o pai, atirou-se para o chão e que ele tinha saltado a volta dela, mas que ela chorava mais ainda, que triste disse: uma menina com medo. Eu expliquei-lhe as normas não são iguais para todos e que a menina estava era com medo pela generalização que faz. E, ele não aceitou isso, porque não fez nada e acha que ela é que não sabe brincar e que deve ter algum problema, pois se os outros meninos brincam com ele e até o chamam, esta menina está fora da norma e que os pais se deviam preocupar mais com ela pois ter medo não faz sentido. E queria continuar a falar dos outros e interroguei sobre o que é que isso lhe fazia sentir? Sentir? Sentir, como? Disse com um ar algo zangado e estranho. O que é que eu devia sentir por causa de a menina não saber brincar? Pensei cá para mim nos meus inventários de conhecimentos que ele podia estar a ter um problema de auto-estima, pois parece-me que precisa de se relacionar com todos dá mesma maneira e precisa de ser reconhecido nestas atitudes sociais. Bem! Interrompeu o Tobias os meus pensamentos enquanto eu olhava para os sinais físicos que me pudessem ajudar a compreender melhor a sua euforia de hoje. Bem! Voltou a dizer, as pessoas acham piada por eu ser pequenino, o que me dá a liberdade de fazer xixi onde quero e cocó, também tudo se aceita quando temos graça, e eu sei, me comportar de forma a ser aceite sem muitas ondas, nas calmas. As vezes mandam-me para a casota e sei que foi injusto e vou contrariado, mas vou, que é para não se aborrecerem mais e assim pensam que sou bem-educado, “Sou um bom cãozinho” sempre fui. Mas é preciso uma paciência a determinadas regras, e acho que eu devia era ir para padre, já que sou virgem, só me falta é um desgosto de amor para ter vocação. Bem continuava a falar por falar como se não quisesse falar dele, mas fosse dando pistas para eu entrar, parecia que me estava a testar, a mim? À minha prática, à minha ajuda. Até que depois de um valente silêncio, disparou, tenho vindo as consultas só faltei por causa da greve, e não sei se isto resulta mesmo, não vejo avanços, no outro dia fui daqui ainda mais triste e resolvi meter acção e fui para a rua ladrar e houve uma cadelinha que está sempre em casa, gira com um laço que esteve a ver as minhas brincadeiras com os miúdos eles até me puseram em cima do skate e eu corri muito e saltei cheio de vitalidade. Ora aqui está pensei eu fugiu-lhe a boca para a verdade e por isso está eufórico, não, não está, isso é a minha interpretação à sua alteração, ele está é motivado por algo novo lhe estar a surgir e são sentimentos naturais pois se nos dizem que é nos relacionamentos que se controla a nossa auto-estima, se ele não se sentisse com pica, com adrenalina, iria desencadear um falso sentido de perigo perante a realidade biológica a qual ele não deve bloquear, para alguns tratamentos ou abordagens é melhor mantê-los parados que é igual a estáveis ou deprimidos para se poder dar medicação, é tudo um ciclo, esquematizado de negação do eu pela normalização de um padrão que se quer controlado, maduro dizem uns que é o contrário de infantil. Não há maior mentira nisto, é tudo uma questão de conveniência. Mas voltamos à consulta, da última vez entrei com sentido que me faltava qualquer coisa mas esta semana, tenho-me sentido melhor, não sei se é do tempo, da lua cheia, de estarmos no verão de São Martinho, mas estou mais Up, mais energético. Coloquei nova pregunta no final do seu discurso: - não mudaste de ração? continuas a fazer as mesmas coisas? Sim está tudo igual bem tenho jogado um pouco mais de Nintendo mas nada que me tira tempo. Nintendo? Perguntei eu. Sim Nintendo é um novo modelo que saiu e estou a experimentar, é só empurrar com a minha pata. Notei que no seu ar sério ao falar, ele me pareceu um rottweiler e não um caniche Toy e pensei que, ele só tem dois anos mas está maduro para o tamanho e parece hoje aceitar-se mais, na sua condição. Estávamos quase a chegar ao fim da sessão, sendo verdade que as sessões não tem fim, mas que apenas são um percurso em etapas que vamos percorrendo, não há fim na obra do artista, pelo menos é o que ensina a História dos homens que o artista nunca alcança o final da sua obra e que pode até cegar com isso e que a história da humanidade em círculos viciosos continua a procura da sua estória. Em final de sessão fizemos um apanhado sobre o que falamos e com alguma informação básica reforcei que a euforia confundida com alegria, satisfação ou outro tipo de definição apenas serve, ao ser identificada para se tentar parar o comportamento, e que aquele que o identifica se encontra portador de algo só por ele conhecido. portanto um eu desconhecido é apresentado ao outro. O Tobias olhava para mim com ar de curiosidade mas discordou totalmente, algo que não se deve fazer ao terapeuta pois pode ser identificado como arrogância. Mas convencido, afirmou! Sim ou Não, isso tudo depende do que se quer ver ou fazer parecer. Como é que sabes que eu não te estou a enganar ou a despistar? Porque pensas que é assim tão benéfico para mim saber do motivo deste estado de espirito, não me chega a mim só e apenas o prazer de o sentir ou detestar, não me compete só a mim? Eh, lá! Então? Interrompi eu. Qual é o problema? O que se passa para quê toda esta reactividade, pensei eu entre os meus botões (mais tarde em supervisão fui analisar o que me provoca a reactividade do outro ou seja não fui analisar a sua reactividade, mas como terapeuta observei também a causa da sua reactividade, numa analise transaccional) algo de mim despoletou aquilo, pois é matemática simples comportamento gere comportamento, mesmo que não queiramos ou então posso justificar que é a sua dificuldade, a sua intolerância ou sempre dizer que esse comportamento é intolerável, santa ingenuidade a minha, sobre o controlo da sessão e do outro. E o Tobias respondeu-me com calma: Problema? Qual problema? Quem disse que havia um problema? Pois é, como é que eu fui nisto.
Tobias! Anda, vamos à rua!
Álvaro Carvalho, 11 de Novembro de 2011.


Preciso de ajuda, tenho estado a jogar um jogo! Ah, então temos …, eu ia dizer um problema, mas contive o meu impulso, naquilo que eu achei ter encontrado para explicar a sua euforia, ele substituiu uma coisa por outra, então depois desta reflexão onde me vale a experiência, apenas disse num tom de levantar a dúvida ao mínimo, como se não tivesse a compreender: Ah, um jogo? Então, na minha perspicaz e lucida dedução, pois é com muita confiança que faço as consultas e estudei bastante para poder compreender e predizer comportamentos, na minha astúcia conclui que ele estava a precisar de ajuda. São poucos os que chegam à consulta neste estado de Determinação, a quererem fazer algo para mudar um comportamento, com o qual tem dificuldade em lidar. Sendo, que por vezes, há uma realidade não acessível, latente, que nas maiores partes das vezes e dos casos, quem tem mais dificuldade em lidar com esse comportamento, que se chama problema, é a família ou alguém próximo. E, o não identificar este problema chama-se negação, ou que estão doentes. Os próprios, mesmo que não tenham reparado nos problemas que têm com isso, mesmo que o seu trabalho seja ingrato, não seja por vocação mas por necessidade, o que pode fazer que, o Eu entre em conflito e provavelmente doenças somáticos. São levados a acreditar que há um mundo melhor, de gratidão onde o Eu se satisfaz nas banalidades do dia-a-dia, sem causa um homem não subsiste, o Eu não se alimenta e regride naquilo que pode vir a ser ou a se desenvolver numa patologia, Esquecido de si, o Self neste conflito existencial, entre aquilo que virá será sempre melhor que aquilo que se tem, por isso só por hoje fica satisfeito na dúvida do sentido, não vá o diabo tecê-las e ele parecer um louco perdido de sentido. Não há justificações, nem tempo para ouvir um homem nas causas, não há causas. Trata-se o Breve em Terapias e depois se a remoção do sintoma der lugar a outro chama-se substituição, e não há cura pois todos podem voltar ao comportamento anterior. Como se isso não fosse óbvio e humano, também se chama processo de recaída a dificuldade de mudança para a “terra prometida”, vais ver que vão gostar mais de ti, que vais-te sentir melhor. Que sentes? Que raio, posso eu sentir, a não ser emoção e a expressá-la, não a quero classificar, não posso, não consigo, não quero. Ah, ponto de exclamação, então temos birra, um Rei Bebé em acção, não se pode agarrar querendo explicar o que é natural, para poder fazer parte de um qualquer relatório, ficar esquecido pelo pó, num arquivo. Neste espaço onde revejo técnicas apreendidas continua a terapia. Bem, disse eu, então compreendi que precisas de ajuda e que é por causa de um jogo. Sim, disse ele com um rosnar algo estranho de quem está com pouca paciência e acrescentou, é por causa de um jogo, que me deixa fulo, andava eu todo contente, divertido a jogar na Nintendo ao Dog’s life, quando dou por mim a ter um problema. Sim, disse eu, e como é que isso te afecta? Esqueces-te de fazer as coisas necessárias, básicas, como comer, ir a rua, brincar com a bola, estar deitado sem fazer nada, de estar ao colo a receber festas. O Tobias levantou as suas orelhitas e franziu as sobrancelhas e eu pensei, “Eureka, quando caí do sofá” como se tivesse acertado em cheio no seu vazio, que o tinha confrontado com a sua impotência perante o seu comportamento, onde ele se sentia preso numa teia, tecida por ele mesmo. Veio-me a memória um Kuan oriental que diz “Tu és a solução para os teus próprios problemas”. Então pensando ter aberto uma porta aberta, perguntei-lhe com comoção na voz, directo ao assunto como uma seta em direcção ao alvo, na muge. Então por que não paras? O Tobias mostrou um ar suspeito e desconfiado e respondeu, mas como sabes que eu não parei! Pronto temos confusão voltou para Contemplação. Não sei, eu apenas perguntei. E refiz a pergunta como mandam os cânones, então diz-me lá o que se passa com esse problema como o jogo, paras-te ou não paras-te? Ou estás a ter dificuldade em parar. O Tobias perspicaz disse-me logo que não falou de problema nenhum, e que disse era que precisava de ajuda e que eu o estava a deixar confuso. Eu identifiquei Negação e vi logo que estávamos com um problema e que se ele não me podia ajudar então era difícil identificar o problema e a mudança necessária para o fazer. O Tobias, confuso perguntou-me mas tenho que mudar de comportamento? Sim claro como queres mudar algo que não te está a fazer sentir bem, estás com raiva. Estou? Perguntou-me ele, ainda mais confuso e surpreendido. Então, se eu peço ajuda é porque estou com um problema que não consigo resolver. Lindo “menino”, cãozinho, claro e fiz-lhe uma festa, algo que não se faz em terapia mas que aqui não é desaconselhável pois mantêm o paciente mais submisso ao que eu prefiro chamar de rendido. Esta, talvez tenha sido a consulta mais difícil de ter e parece que estou num beco sem saída, disse o Tobias. Boa, reflecti eu, estamos a ir bem, fala lá então de ti. Bem o problema é que no jogo, da Nintendo, no Dog’s life, não consigo passar de nível, não consigo mesmo, nem sei como se faz, não conheço ninguém que jogue a isto e estou stuck, deixei de jogar porque não consigo passar de nível. Será que me podes ajudar a passar de nível ou explicar como se faz, tenho aqui a Nintendo.
Tobias! Anda, vamos à rua!
Álvaro Carvalho, 12 de Novembro de 2011.

23 de Novembro de 2011
Estamos em consulta, ou Quê?
Ou Quê, o quê?
Tic-tac, tic-tac, tic-tac, o relógio continuava a sua marcha, mas o Tobias não aparecia, estava atrasado aproveitei o tempo para refrescar a memória e tirar algumas teias de aranha, e viajei por onde me apeteceu pelo passado, o meu passado, não sabendo quem conduziu esta reprodução de memórias, mas deixando fluir e vendo, porque vejo também de olhos fechados e também sei sonhar de olhos abertos e noutros momentos não vejo nada e acredito que tenho os olhos abertos, nem sei sonhar a dormir, como diz o poeta «Os meus olhos são uns olhos, e é com estes olhos uns, que eu vejo escolhos, onde outros com outros olhos não vêm escolhos nenhuns». As coisas, que eu consigo e não consigo fazer, só por ser humano e adoro visitar-me a mim e as situações vividas. Se Narciso ouvisse isto, iria se sentir mais só. As saudades são coisas bem portuguesas, mas também pode ser por causa dos Velhos do Restelo. É como uma peça, um filme que vou seguindo com calma e segurança, pois visitar o passado é seguro porque sei onde vai dar, não vou ser surpreendido pelas consequências, mas posso sê-lo pelo tempo onde se desenrola a acção, como as crianças que vêem e repetem os desenhos animados, porque assim aprendem a lidar com o efeito surpresa e passam a ter a sensação de controlo sobre a situação, antecipam, preparam o simpático e o parassimpático, e sentem que controlam os seus sentimentos pois já conhecem o que vai suceder e assim antecipam o inesperado pois ele torna-se esperado. O que é que isto tudo tem a ver com ansiedade, aparentemente apresenta-se uma calma aparente mas os momentos são divididos entre esse espaço seguro, onde quero esperar, zona de conforto, em consciência, no entanto o emocional conduz-me a uma preocupação, ao por quê de este atraso? Algo aconteceu? Aqui abre-se um parentese curvo pois qualquer senso comum diria que é normal, porque nos preocupamos quando gostamos, outros mais introspectivos e relacionados com a causa efeito, falariam de controlo, de querer saber e controlar o que se passa na sua vida, elevando isto ao controlo do momento e no mesmo sentido me fariam ver ou reconhecer que talvez fosse no acto da vinculação, onde fiquei com medo da perda ou se não fosse do acto, seria do processo. Há sempre uma razão, uma explicação, procura-se reduzir e medir algo que é, tão da vida, e apreendê-lo numa estatística preditiva, modelos complexos de tomada de decisão, onde servirá para escrever e colocar notas de rodapé, credibilizando um momento, uma reacção, uma preocupação, para que talvez se possa fazer uma medicação ou mais uma sessão. E, que a minha segurança é adquirida pelo que os outros fazem ou não fazem, se estão ou não estão quando é esperado, se sou um actor ou um reactor é tudo culpa do coping, da modulagem e mesmo dos arquétipos. Tudo tem uma responsabilidade, as circunstâncias servem de atenuante ou de culpa. Bem vou esperar para ver o que aconteceu, é por isso que o mesmo tic-tac pode ser relaxante ou intolerável, então a culpa não é do relógio, mas de quem o fez, “The Blind Watchmaker”.  O controlo sobre o imprevisto tem esta monotonia pois não há simpático, nem parassimpático que o ature. O medo condiciona a entrega, mas alerta para o perigo. Mais dúvidas, neste momento, onde estou? Entre o esperar ansiosamente, sem o sentir e enganando o meu ser, dizendo: estou calmo, estou relaxado, confio e entrego. Posso continuar a minha busca silenciosa, ouvindo o silêncio, parando o tempo, rebobinando as viagens da mente no tempo real e no imaginário. No real no que foi ou direi antes aquilo que eu penso que foi, no imaginário, aquilo que eu penso que poderia ter sido, na negação é ficar naquilo que eu acho que devia ter sido. Ouvi, sim vem aí, no seu andar em quatro patas, movimento de quatro tempos que ele consegue fazer parecer dois bites, um tic-tac, relaxante do coração, e lá vem ele, ao ritmo do relógio. Então? Perguntei, então Tobias! o que aconteceu? Ele sentou-se e disse: estive a apanhar sol e que agora, o que era giro, era ir à rua. Ok Tobias, anda, vamos a rua! Como o complicado pode ser tão simples. Mas como as memórias podem ser uma boa companhia.

24 de Novembro de 2011.
Hoje não houve consulta por causa da greve, foi o que o Tobias justificou. Eu aceitei. Mas perguntei-lhe: Porque não vieste a consulta? Porque houve greve! -Eu disse-lhe, que isso não era justificação e que podíamos ter adiado ou arranjado outra forma. Argumentei que na última consulta ele tinha trocado as suas prioridades e que tinha ido apanhar sol, como se isso fosse fazer qualquer ou alguma coisa, confrontei-o com a sua pouca preocupação, direi mesmo negação sobre o seu problema. Porque não admite? Porque lhe custa a aceitar a sua condição? A sua perspectiva distorcida, na sua luta interior entre ser um caniche ou um rottweiler, entre ser ele e ser um desejo de si próprio, esta alma anda confusa, falta-lhe estrutura. Foi óbvio de mais para min as suas dificuldades, nem preciso de usar qualquer método de aferição, pois na minha consciência social das necessidades sociais e vitais para a própria existência ele está inconsciente na sua consciência, se fosse ingenuidade, se fosse demência compreendia-se agora negar a sua real existência está relacionado com o seu propósito, se aqui viesse o pai dele de certeza que o confrontava na sua atitude de despreocupação perante as responsabilidades. Sê tu próprio, sê forte, porta-te bem, vê-la o que fazes, não aguento mais um desgosto. Nele a neurose subjectiva de Flaubert é provocada pela situação particular e familiar. A valorização do fracasso para a sobrevalorização do êxito. A imagem como produção imaginária é a possibilidade de negar o mundo, ao negar o mundo pode negar a si próprio. Mais confuso fica e desorientado pois não entende o que está para além da sua perspectiva, e na sua diferença é anormal, incapaz por comparação com os demais. Vá-la a gente entender o comportamento humano que se fez para ser tal como a palavra define humanidade, ser igual ao outro, quebra de regras aceitar os outros na sua diferença e não na sua indiferença. Então Tobias não tens nada para me dizer, fala sobre isso, fiz-lhe o convite, generoso, dê-lhe a permissão de falar, a oportunidade de o ouvir e este ingrato não aproveita, se ele deixar de investir é porque não está motivado. Bem pode ser depressão. Pois com aquela euforia toda é bem capaz de estar a deprimir, há então é por isso que está em negação, depois virá a aceitação. Bem, disse o Tobias depois de reflectir um pouco sobre o que devia dizer, pelo menos foi o que eu pensei, que foi esse o significado do seu silêncio. Porque o silêncio quer sempre dizer qualquer coisa, nem que seja estar sem vida ou estar calado, para não dizer asneira, o que, já é, por si mesmo uma forma de representação de algo fechado ou oculto, sendo preferível torná-lo manifesto, para se poder catalogar, curar, ajudar a gerir e outras formas afim. Que poder é este? Que se julgam ter, sobre o inconsciente, ninguém conhece ninguém, na realidade, porque não sabemos, quem é ninguém, quem está por detrás da máscara, da persona. Quem assim fala, é porque é desconfiado e então é preso por ter e por não ter. Bem, disse ele! Penso que ando mais calmo, menos contente, mas também não ando aborrecido. Ah, um sintoma! Confusão, uma porta aberta, abri mais uma porta aberta. Presença de alguns sinais de alguma falta de ambição, de motivação, mais algumas pitadas de falta de expressão facial das emoções e uma forte tendência para a ambiguidade. Desnorte que pode querer dizer rumo ao Sul e não ter falta de Norte. Enfim voltando a consulta que não houve, então marcamos a próxima sessão, sim com certeza. Mas o que devo fazer até lá? Boa pergunta deves fazer o que todos fazem, ser como os outros, não te ponhas a inventar. A Imitação é um processo natural de crescimento e ainda és muito pequeno para tomares decisões, segue as orientações, vai com calma e não tomes nada que te possa fazer mal. Como assim? perguntou o Tobias zangado. Aqui está, pensei logo eu esta zanga quer dizer alguma coisa, tanta reactividade, apanhei-o, anda a tomar algo, de certeza que está! Nem umas migalhas do chão, posso apanhar? Não posso ladrar a janela, a quem passa? Estou confuso. Confuso não, não estás, estás é a ser desonesto, sem h. Estás é em negação, confrontei-o, eu, do alto da minha serenidade, num tom amigo e compreensivo. Ele continuava zangado, queria quebrar regras, não lhes via o sentido. E mais, disse ele, mais ainda, com este corpo de rottweiler não sou assim tão pequeno, tenho que me mostrar, de que vale a pena ser um rottweiler se não posso exercer, é como um advogado, ou qualquer outra profissão, só o é, se exerce, e numa feira de vaidades pode constatar o seu conhecimento pondo-se em perspectiva com outros, atestar o seu certificado, incluir-lhe notas de rodapé, que servem apenas para isso, serem notas de rodapé, estabelecendo uma hierarquia de conhecimento que se quer cientifica e precisa, tal como a fome ou a ilusão da lucidez. Afinal ele está mesmo neste problema de personalidade, sou forte ou sou fraco, ganho ou perco, sei ou não sei, sou assertivo ou mole, sei ter razão ou não. Aí Tobias, assim não dá. Anda Tobias, vamos à rua.

25 de Novembro de 2011
Hoje, tudo está no seu lugar graças ao Tobias que chegou a horas e iniciou-se o diálogo, chamemos antes monólogo, pois há terapias que são mais isto do que dialéctica. A dialéctica com um significado de um método de movimento do pensamento. A reflexão da razão dialéctica sobre si própria pode ver-se no percurso entre o antes e o depois, onde o ser toma consciência de si próprio. Então aqui reside a razão fundamental do efeito terapêutico. E da razão do Tobias discutir mais comigo do que com ele próprio, afirma-se em mim e comigo. Hoje, talvez tenha algo, ao qual posso chamar de angústia, não é medo, é outra coisa, como uma angústia, estás a ver? Perguntou-me ele, ficando com o olhar parado no tempo, como se fosse aquele o momento em que se descobre nada mais haver para além da condição, da sua condição, das suas dúvidas existenciais. Eu não “via” nada, mas segui-o com atenção: como assim? O que queres dizer com, estás angustiado. Não sei, talvez seja do meu problema! Hum! Afinal, sempre temos um, problema. Qual problema? Indaguei eu. Então sabes bem que tenho tido problemas desde que aqui venho, tens-me confrontado com a minha condição de não querer ser aquele que não sou. Eh, lá, agora o problema, sou eu, que transferência é esta? Ou será efeito da terapia que quebrou a negação e o colocou em depressão antes da aceitação. Um confronto directivo tem sempre os seus efeitos práticos, nem que seja zangar o paciente e fecha-lo, resistência, claro, sem dúvida. Ora bem, então reconheces que há um certo problema associado a tua personalidade, que se vê reflectida na tua imagem, distorcendo o real do ideal do Self. Disse-lhe em tom de seriedade e numa questão aberta, coloquei-o perante a obrigação de responder, fazendo participar na sessão pois torna-se necessário participar, se não, é simples não há sessão terapêutica. Mas então o silêncio não é terapêutico, sim claro, mas o silêncio de que falo é aquele do filme do César Monteiro sem imagem e da música sem som, é o do som de um bater de palmas com uma só mão. Ele olhou para mim e perguntou-me: com um olhar triste e vago, estamos a falar de quê? Ah, já sei de eu não querer ser um caniche, não me sinto assim, e não posso ser o que não sinto, seria estar a enganar-me a mim e aos outros. E que dizem os outros, questionei eu. Quais outros? Os outros são os outros e eu sou eu, disse ele num tom seco e que eu achei arrogante. Não podes estar isolado no teu mundo, vives com os outros e precisas dos outros, não é verdade? De onde vem a tua auto-estima? A minha auto-estima vem de ser quem sou, um rottweiler e não aquilo que os outros querem que eu seja. Já li muita coisa e sei que isso de dar ouvidos aos outros, se chama, emprenhar pelos ouvidos, ser parte do rebanho ou influência social. O homem torna-se prisioneiro das suas decisões, não é livre, pois tem consciência e a liberdade está associada e confunde-se ao homem alienado no grupo, na sua totalidade passiva, que se produz como factor para a sua integridade, renega a sua condição em proveito de um todo, este alienado pelo social encontra-se vazio, desprovido de sentido como um Robinson Crusoe que se vê preso na liberdade da sua condição, na qual não teve escolha, ou livre arbítrio. A consciência sofre da intencionalidade da fenomenologia e do inconsciente Freudiano. Ter consciência é ter sempre consciência de algo, de Husserl, em Hume até Sartre. Eu sou mais aquele igual ao homem que ultrapassa as dificuldades e que se fez a si próprio. Lembrando Saint Genet de Sartre ou a Resiliência das crianças do Haiti. Eu ripostei, mas tu não estás só no mundo, pois tens a liberdade de não escolher e estás sempre colocado diante do outro. O absurdo da existência é sem dúvida o encontro que fazes contigo mesmo pelo confronto com os outros, “Houis clous”, será sempre o infindável truque mágico da fé no humanismo, na viagem Utópica de Moore. O Tobias ripostou, logo e também, na sua cultura, mas é também o Absurdo de Camus. Eu aproveitei e filosofei mais, para o confundir numa intelectualização de razões absurdas mas vincadas de significância do seu significado, pois também é uma técnica, ouvi dizer por ai, que deixar alguém confuso é bom para se poder tomar uma decisão ou uma não decisão. Como é que o mundo, a vida pode adquirir um sentido para ti? se estás ausente do sentido de ti, procuras o teu reflexo numa passagem do tempo onde te esqueces-te de ser o futuro. Sendo considerado motivação as falhas do passado projectadas no futuro, como se fosse para chegar a algo que se quer conhecido antes de se ter descoberto. Um homem não é mais do que a soma dos seus actos. Onde, os seus “actos falhados” são a inconsciência da sua verdade, porque falhamos ao optar, ao escolher, castrados da realidade da decisão é nos permitido escolher moralmente o que vai contra os desígnios do homem e acarreta culpa, Sísifo subindo e recomeçando numa programação ao estilo de Matrix para não ser esquecida, para doer na consciência, na condição ou num “País das Maravilhas” onde Alice se perde para se encontrar. Tu não serás outro se não fores tu próprio, assim ficas confuso, e deves ter em consideração o viver em comunidade, com os outros para os outros, assumindo o teu papel, tu és o actor, o fazedor da tua realidade. Então estás-me a dar razão, disse o Tobias com os olhos meio a brilhar, posso ser quem eu quiser, não há juízos, preconceitos, nem prévias condições. Posso ser um rottweiler, certo? Mas se estabelecer a minha condição nos outros, vou ser Julgado pelo seu olhar, o olhar não reflecte nada do Ser, pois apenas é reflexo do que os outros julgam parecer. Nada é o que realmente parece. Então posso estar em dúvida com a minha condição. Posso ser quem eu quero, num eu imaginário, sem ser preciso estar fixado numa convenção de marcas, de produtos, de números, de classes. Como sou eu? se tenho que ser eu com os outros. Queria-me refugiar na mentira, nas desculpas, nas justificações, queria ser incapaz de distinguir para poder perseguir, sem vantagens, sem o juízo critico, cínico ou clínico, sem o olhar do outro sobre mim que me julga nos seus conceitos, pré-conceitos e des-feitos, que é uma forma nova de dizer, aquilo de que não somos feitos. A medida que vamos aprendendo, a verdade, deixamos as máscaras, caiem também os personagens, já não há palmas na plateia, e o actor está nu, e mesmo assim haverá algo para retirar nem que seja a sua mente. Despido de si, vai um homem consciente de si. O homem já não é senhor na sua casa, ficou no divã, eu não quero isso para mim. E, ando bem pior, desde que faço aqui terapias contigo, antes, não tinha estes problemas era um cão e isso bastava-me. Agora estás a exagerar, foste tu que vieste com essa dúvida de seres o que não pareces. Como? Não, pareço? Levantou-se o Tobias numa atitude de revolta e barafustou entre dentes grunhidos que não se distinguiam porque eram, assim mesmo, indefinidos mas cheios de «rrrrrrrrrrrrrrr», agora estou mesmo zangado até tu me olhas com um ar critico e julgas o meu aspecto. Estou só! Gritou num desespero que até me fez doer a alma. Estou só, estou mesmo só. Repetiu em surdina, o que me deu espaço para entrar e confrontar este comportamento. Então! Agora estamos com a Autopiedade, a bater à porta, não te estejas a bater, pois estás a desviar o assunto e a transferires a tua raiva para cima de mim. Olha, já fui vacinado, clarificou o Tobias com frontalidade e não tarde nada, estás a dizer que tenho um comportamento atípico, ou anti-social, que sou doente e que isto não tem cura ou que o problema é com o abandono da mãe ou do Pai ou então da sexualidade reprimida. Não quero saber. Assim não vamos a lado nenhum. Quando é a próxima sessão, vou ver se venho! Claro que vens, estamos apenas no princípio. Anda Tobias, queres vir a rua? Vamos! Anda, vamos a rua, Tobias. De um pedido passei a uma ordem e assim rapidamente passei de novo a ser eu que tenho a sessão controlada.

26 de Novembro de 2011

Hoje estamos repetitivos, disse-me o Tobias, chateado, aborrecido mais com o tempo do que comigo.
O Tobias não quer entrar na casota, isto deve querer dizer que quer sair a noite ou será ainda efeitos da greve de que todos falam, uns porque participaram, outros porque são contra, só há dois tipos de pessoas? Estranho, este comportamento do Tobias. Ele, que de tão simples que é e não tendo nada a ver com tudo isto o que se passa no mundo, na Europa, na fome e na guerra, ele que mesmo assim, tem o seu mundo para muitos indecifrável, incompreendido, pois não tem nada para dar, não produz nada, não tem nenhum dom, não adivinha nada, não prediz qualquer coisa do futuro que nos ajude a entender e a antecipar algo. Por exemplo se ele soubesse que o mundo iria acabar, apenas latia com agonia e não seria compreendido pois a sua linguagem é inadequada. Todos percebemos os signos, o tarot, os cartomantes onde agora também há alguns psicólogos, ou sempre houve talvez fossem psi-cartomantes. O Tobias não é assim tão fácil de decifrar, pois usa códigos e significados, onde o poder do significante se torna muito significativo no seu significado intrínseco, porque é uma redundância dizer mais do mesmo, mas fica bem. Decifrar, ao que eu chamo, entender, leva-me a compreensão ao entendimento da natureza. Da sua natureza, do seu valor, da sua demagogia, politica e tudo isso para o conhecer melhor. E talvez assim saber de onde venho para onde vou, aquele mistério que o homem, com H, maiúsculo, procura desde a alvorada, num oráculo de Delfos, religião e de caminho até a NASA e aos satélite, que hoje se confundem com estrelas, num projecto de escuta espacial, não vá alguém aparecer e não estarmos atentos. Mas atentos a quê? Este medo constante incutido na humanidade de que algo vai suceder, desde Prometeu, o criador do género humano, que estamos de castigo num destino comum, onde nos dissipamos no nevoeiro, tal D. Sebastião, do qual aguardamos o seu regresso e andamos neste medo aparente de que vamos pisar algo ou depararmo-nos com algo desconhecido. Será por isso que o Tobias não quer entrar na casota, hoje, estará a espera de algo maior, anunciado, o retorno Del Rei do Brasil, do Salvador ou de Ulisses, no retorno da sua Odisseia. Nesta Europa, filha de Agenor, a profecia concretizou-se pois o colar que Harmonia, filha de Ares, recebeu dota o seu portador de uma beleza irresistível, mas também pode trazer desgraça. Tudo está de volta ao que era, a Harmonia dos povos trás a sua desgraça, desunião na União, a Europa paga pela falta de respeito a Posídon e Dédalo construiu o labirinto, no qual ele próprio ficou retido. Ícaro entusiasmado (pelo ouro) aproximou-se demasiado do Sol e despenhou-se. Tudo isto está á acontecer, a Europa não está livre da história, andamos em círculos viciosos sem saber como sair, a porta está fechada, não há saída, apenas nos resta viver com os outros. Desde o êxodo que caminhamos para a terra prometida. Sem Arte, sem Poesia, sem Filosofia a espécie humana está comprometida numa tragédia grega. E como uma desgraça nunca vem só neste Zeitgeist, relembro que foi a peste bubónica, trazida da Ásia que devastou a Europa. No entanto como reza a história, a peste foi o grande catalisador do fim da Idade Média. Uma doença trazida por um povo, Nostradamos profetizou que eram amarelos, surge e emerge para mudar os caminhos da humanidade. Nova hipótese, novo começo o problema foi a vitória da Industrialização sobre a Agricultura, era precisa mão-de-obra, para a obra se realizar, a economia monetária tão desejada está pela hora da morte, o porquinho, mealheiro, está cheio, não se consegue partir. Nem, renascendo, nem modernizando, tudo está parado, o tempo é um engano, relativo, vê-mos o que queremos. Tal como o Tobias enquanto centro do mundo, constitui um pequeno Cosmo em si mesmo. Decifrá-lo é um mistério etológico de observação de um fenómeno e como todo o comportamento animal tem um padrão de acção não se realiza no vazio, há uma razão para tal postura de estar de fora da casota talvez não seja não querer, talvez seja outra necessidade mais elementar, mais básica. Basta observar e Zás. Afinal não há problema nenhum, o Tobias estava a espera de ir a rua, está na hora, na sua hora. Tobias anda, vamos à rua.
Afinal hoje o Tobias faz dois anos. Viva são os anos do Tobias. Por isso estava à espera, sempre havia algo, é preciso compreender este cão, nunca diz nada, ufa! Parabéns Tobias.


27 de Novembro de 2011

O Tobias falou-me que era muito mais difícil estarmos sozinhos de que estarmos com os outros, pois havendo outros, podemos nos apoiar ou termos algo para comparação, sozinhos contamos apenas connosco, com as nossas referências e aprendizagem e estamos mais expostos. Lá vem ele justificar o seu isolamento pensei eu, de mim para mim. Foi aquilo de que eu te falei, de ter ficado com problemas, depois de ter lido «O Principezinho», fez-me confusão aquela solidão, aquele menino sozinho com adultos, procurando respostas para o seu crescimento, para a compreensão, não querendo ser um Peter Pan, mas deixa-me angústia por haver tamanha solidão. Se estes são os livros recomendados, então estamos mesmo sozinhos ou trocados. Isso, clamei eu, foi a tua interpretação da história, porque há quem diga que o significado do livro está na relação que ele tem com a rosa, e que de tanto a querer proteger acaba por prendê-la, o que é igual a tirar a vida. Oh, isso é fácil pois ninguém é de ninguém e é tudo uma questão de posse, se leres Siddhartha compreendes que a solução está na via do meio. Eu acho que não é nada disso, penso que o Saint Exupéry estava a falar da sua solidão, e que criou um amigo imaginário com quem falava. Muitos foram agrilhoados por causa disso, chama-se ouvir vozes, outros tomam medicação. Ninguém é livre. Tu próprio me obrigas a ir para a casota quando há visitas cá em casa. Não deixas ninguém sossegado, disse-lhe eu, queres as atenções todas para ti. Não é verdade, isso é a tua verdade, isso é quando tu não queres ser incomodado, não vejo diferença nenhuma, entre o que me fazes e a flor do Principezinho. O quê? É um ingrato este Tobias, não o devia deixar ler coisas tão complicadas pois fica logo introspectivo e questiona o que tantos adoram. Por muito menos G. Bruno foi queimado na fogueira. Os tempos mudaram, somos todos mais tolerantes, mais conscientes. Esta consciência universal dá-nos para ser altruístas e misecordiosos em vez de sermos objectivos e práticos pois só quando há um apelo a massificação é que nos movemos timidamente numa preocupação para com o outro, a sua fome. A solidariedade aparece como catarse ao remorso. Há quem chame a isso o triângulo da auto-obsessão, mais uma tríade ou tripartirdes do inconsciente purgatório religioso que excomunga o nosso inferno, o de Dante e da Inquisição. Não percebi, porque este fim-de-semana vi crianças a pedir  esmola, as crianças não deviam ser enganados neste mercado, deviam responsabilizar os adultos por ser preciso pedir para a Fome. Falamos de valores, que educamos num humanismo, quando na realidade o racionalismo mercantilista se desenvolve cada vez mais. Estás crianças sabem o que estão a fazer? Sabem que somos nós os responsáveis por tudo isto. Vão de carro e com as suas melhores roupas ou vestidos de escuteiros para os peditórios nacionais as portas dos supermercados, que claro vendem mais, nesses dias em nome de uma causa. O Banco Alimentar não dá ajuda directa, portanto se tiveres fome vais para a fila porque não se pode confiar no homem, que diz ter fome é que pode ser para vender ou trocar. Como, perguntou o Tobias o homem não confia no outro? Porquê essa admiração, o homem é isso. Então percebo porque é que o Principezinho andava só, ele não se sentia só, só precisava era de um amigo em quem confiar e a protecção a rosa, era porque precisava que confiassem nele, tão simples, tão elementar, como é que eu não via. Então essas crianças pensam e sentem-se melhor porque nesse dia estão a pedir é como se estivessem a desculpar-se e os adultos que as motivam para este comportamento resolvem assim as suas culpas. Andamos sempre a pagar os erros? Quais erros? Tu cometes-te algum erro? Sei-lá, mas parece, pois quando vou para a casota, é então porquê? Porque sim, porque é sinal de boa educação e de seres um bom cãozinho. Devo então obedecer as regras e normas, ser prático e funcional, como uma máquina, não era isso que o Roger Waters, dizia no «The Wall»? Que tudo faz sentido! Enquanto, F. Pessoa se referia ao: «que o sentido que isto tudo tem é não ter sentido nenhum». Tu não te tens de preocupar com isso, pois ladras e eu dou-te água e ração e depois umas festas e podes dormir descansado. O Tobias olhou-me nos olhos e surpreendido disse mas isso é algum privilégio, sou algum Rei ou egoísta, sou por acaso diferente, isso não é ao que todos temos direito. Tobias não sejas ingénuo, Incrível esta inocência, esta Utopia. Não é Utopia, como pode ser uma Utopia o que devia ser um bem comum, aqui Utopia parece-me mais uma grande preguiça de alma do que outra coisa. Então o homem é isso, por isso o principezinho viajava nos sonhos para não se sentir sozinho.
Tobias anda, vamos a rua, está na hora e temos que voltar as consultas o mais depressa possível pois tu estás impossível.

28 de Novembro de 2022
Hoje, passei o tempo a observar as pessoas ou seja a tirar inventários.


29 de Novembro de 2011
O silêncio é um tempo que existe, o Tobias sabe usá-lo.
Estávamos há mais de 10 minutos em silêncio, a demora depende do tempo que estamos a atribuir ao tempo, que duram dez minutos, para uns uma eternidade, para outros um curto espaço de tempo. É aquela coisa da relatividade, do tempo. Mas, se há silêncio é porque algo acontece no silêncio do momento. Mas que silêncio é este, é mudo? é contemplativo na arte oriental, deixamos de pensar? Não e sim, o oposto do contraditório, a negação do som não impossibilita de ouvir os meus pensamentos. Ainda não consigo é ouvir os pensamentos dos outros, mas para isso há remédio, medicação. Nem tenho muito a ilusão, da telepatia, lembra-me mais a Lara Li, a cantar do que algo atingível. Nem sou golfinho que em boa verdade continuo a acreditar que são muito mais evoluídos do que eu. Sem nada para pensar não significa, sem nada para dizer. O Tobias diz muitas coisas no seu silêncio, é uma forma de dizer. Pois se ele caminha em quatro patas isso é um comportamento de locomoção e sinal de bom equilíbrio e de que tem 4 patas. E ele não precisa de me dizer nada, para eu identificar este comportamento, que tem uma finalidade, um método, e objectivos, que é caminhar sobre quatro patas. Então descobrimos ou revelamos que o Tobias se desloca e que isso não é um comportamento no vazio. Ok, intuição. Mas indo mais longe raciocínio intuitivo. Algo que eu faço com a maior das naturalidades também, porque quando estou a caminhar para o trabalho, não me recordo, de que sou eu, que caminho sobre duas pernas, mas caminho. Será que isto pode querer dizer que me esqueço de mim, que não valorizo as pequenas coisas. Esqueço-me de estar grato. O Tobias não se sente grato por caminhar para a cama ou para o seu prato rico em alimentos, nutrientes. Ele vai e torna tudo tão simples. Não se preocupa com coisas do cansaço e do estar farto de estar farto, vai e pronto, “Keep It Simple”. Portanto o silêncio fala por si. E convidei-o a ficar mais alguns momentos em silêncio e ele concordou ladrando, o que eu entendi como um sim, mas que deveria ter sido interpretado como um não por interrompeu o silêncio, então o silêncio quebrado perdeu o seu sentido, deixou de ter o que significava por si. Morreu o silêncio, Nietzsche disse pior, quando pôs Zaratustra a falar, eu não diria tanto, mas neguei o momento e preferi ficar em silêncio. O Tobias não ladrou mais. Onde há silêncio há espaço e tempo, há angústia, lágrimas no silêncio, silêncio na voz, escuta-se em silêncio, faz-se voto de silêncio e outros votos que ninguém na realidade sabe se são “compridos ou largos” e porque se fazem. O silêncio tem ritmo, tempo e medida, faz parte da vida, ele está na vida. Aí, as memórias silenciosas. As maiorias ou minorias silenciosas e silenciadas. Então eu e o Tobias ficamos em silêncio, respeitando o silêncio das nossas palavras sem acção. Escutando o silêncio que nunca vem só, mas por vezes mal acompanhado. O silêncio de um passado, o silêncio do vazio, o silêncio do sorriso, o mistério do silêncio. E foi neste silêncio convidativo que estivemos ao pé um do outro, como se não houvesse amanhã, nem depois. Nada, não há nada, para além do momento que é único e impossível de se repetir. Extraordinário silêncio que me está na Alma.
Eu e o Tobias vamos à rua no silêncio da noite.

30 de Novembro de 2011
Hoje estamos em terapia foi um pedido do Tobias, sentou-se, rebolou-se, coçou-se, sentou-se e deu umas voltas e por fim sentou-se. É preciso compreender e ter paciência é o Tobias e pronto está tudo dito ele é mesmo assim. Para dormir ou deitar-se faz sempre estes movimentos repetidos como quem não sabe o que quer, ou o que vai fazer em seguida. Eu acho que é mais um ritual, um hábito. Enquanto ele estava nesta preparação, eu cruzei e descruzei as pernas, nada de mais nem de preocupante pois não sou a Sharon Stone, nem foi por impaciência ou falta de conforto foi porque foi, como o Tobias. Acho que já ando a ficar parecido com ele ou então identificou-me. Mas como estamos em terapia não vou tratar da minha psicoterapia através de um paciente, como se fosse para me realizar, coisas de ego. Que ninguém sabe bem o que é mas que todos sabem identificar nos outros. Bem disse-me o Tobias: - Hoje estou preocupado. Então Tobias preocupado, como assim? Ou num estilo mais psicanalítico ou só analítico. Hum, hum, estou a ver, queres falar disso? Então voltei a mim e perguntei-lhe: O que te preocupa? Bem, não é fácil falar disso, mas é aquela coisa que se chama de solidariedade. É que sabes nós os cães grandes também temos amigos, não temos só este aspecto de maus, de arrogantes e insensíveis, também somos “humanos”. Aqui, respirei de preocupação, lá estava ele de novo com as suas ideias de rottweiler, imagem só,« nós os cães grandes», mas a minha curiosidade, de quem está ele a falar deixei-o ir nos seus desvaneios e episódios maníacos, direi mesmo de delirium pois já se identifica com um humano. Cada vez mais está a regredir cada vez mais. Temos que aumentar as terapias ou não sei onde isto vai parar, está de novo em pré-contemplação. Bem! diz-lá, então, disse eu, já com pouca paciência mas demonstrando alguma tolerância, porque sou humano. Então, não é que um amigo meu, disse o Tobias, foi hoje parar ao hospital. Sabes, ele é um cão, assim como eu, grande, é um boxer, não digo o nome porque é uma questão de anonimato, ele é mais velho do que eu e somos amigos e eu não sei nada dele sei que foi parar ao hospital e fico preocupado, um amigo é um amigo. Ok, pensei, não lhe conheço este amigo, mas sei que os cães têm destas coisas, manias, nunca se viram mas são logo amigos, é como no Facebook. Basta um cheiro aqui, um cheiro ali e pronto conhecem automaticamente o outro, mesmo que esse outro não seja ele próprio, mas apenas um Avatar. Parece-me a mim que eles se identificam pelos rituais e nos seus inventários não põem em causa a razão. Porque a razão é preciso tê-la, é uma questão de afirmação. Então no facebook acontece empatia, Rogers, o Carl, não previu isto, emoções na net, emoções sem saber a quem. Redes sociais igual a emoções. E por solidariedade temos empatia. Isto deve ser coisa da evolução, do legado que Darwin nos deixou, para nos pôr em problemas e dar continuidade a filosofia e as novas escolas, cansadas de serem velhas pela sua existência. Renovar o Ser Humano, procura-se vivo ou morto a identidade perdida. E muitas das vezes procura-se fora de nós, procura-se nos outros. Então, Tobias queres falar mais, desse teu amigo? E da tua preocupação? Não! Exclamou, estou bem assim, não posso fazer mais nada. Não faço milagres, nem sou médico. Sou o Tobias, mas ele deve precisar de companhia, disse com ar de compaixão. E perguntou-me, se ele pode brincar? E, como se pode viver? Se não podemos brincar, jogar, rir e coisas assim. Porque, quando estamos doentes perdemos a vontade de motivação para algo ou então estamos doentes porque perdemos a vontade. Isso deve ser coisa de estarmos a contrariar o nosso destino pessoal, de irmos contra a nossa verdade, e o Eu entra em Colapso. As coisas que o Tobias pensa e num ápice saltou de conversa: -Bem! Disse o Tobias com firmeza deixemos-mos de coisas e vamos em frente que atrás vem gente. Estás com o humor apurado, não será raiva, pareces-me algo irónico, sarcástico, não? Não, o quê? O Tobias parecia não querer compreender do que é que eu estava a falar. Queres me falar de ti, hoje na consulta. Mas eu estou a falar de mim, interrompeu ele indignado comigo. _O que é que queres que eu diga mais? Então Tobias, queres dizer mais alguma coisa. Não, acho que já falei de tudo hoje, porquê? Intrigado, olhou para o lado, disfarçando como se estivesse a pensar em algo que ele não se lembrava. Então! Não falamos de fazeres mudanças? E de planos para as mudanças e de seguires sugestões. Sim tu falaste nisso, já não me lembro porquê, mas está tudo bem comigo, não há qualquer problema. Quem tem um problema é o meu amigo, eu não estou doente. Disse já a ficar chateado. E deslocou-se para a porta para eu perceber que a sessão tinha terminado e que ele queria era ir à rua.
Pronto, anda Tobias vamos à rua. E lá fomos correr os dois, não foi os dois a correr, fomos correr.