Na minha rua, onde cresci, a rua não cresceu e como tal assim, se eu vivo nessa rua, também não cresci. Causa efeito sem o efeito da causa, porque não sabemos na realidade porque há muito as ruas estão desertas de terra. Nem os comboios lá passam, nem um carro de bois. Na minha rua não há ninguém e está vazia de nada. Há quem nasça e viva sempre na sua aldeia, eu sei de quem, não é na Aldeia! é, na sua Aldeia, tal como eu, não é numa rua, mas na minha rua. Naquela onde eu vejo portas abertas e onde as sarjetas são balizas para o jogo da carrica. onde os passeios são linhas onde se testa o equilíbrio. como a minha rua não tem cimento é feita de terra, pode-se jogar ao berlinde, fazer covas, três covinhas, fazer palmo. As cores dos bugalhos ficam bem na terra, são como estrelas na noite. por isso eu, rapaz, rapaz da rua, da minha rua, não tenho aldeia pequena ou grande, não tenho cidade porque os berlindes não se notam nas cidades, nem as estrelas. Nas cidades nota-se os carros, a velocidade, o tempo a envelhecer e a TV que tem cores e mas que não são cores de berlindes e historias de outras gentes que nunca viram uma rua ou uma aldeia. Na minha rua, posso ter os calções sujos de terra e de lama que gostam de mim assim. Na minha rua quando estou a jogar ao berlinde não há fome, tristeza, verdades ou mentiras, apenas eu e o bugalhos. Nem falo.
- Eh miúdo, tu ai o miúdo, sim tu o dos suspensórios.
Nem percebo porque me chamam? se eu nem sei responder. Não sei? e mais ainda e nem sequer sei porque é que na minha rua não há mais miúdos como eu, a jogar. foram todos para a cidade, para os parques e escolas onde podem ter net e pagar electricidade. Eu a noite não preciso de luz artificial porque os meus berlindes brilham no escuro, são naturais e o reflexo da lua, faz me companhia no silencio, e eu acho que a lua é menina. A sua Lua Na verdade nunca vi uma na minha rua não há gente. Até um dia...
Tenho muito mais para vos contar neste conte onde me reencontro
