sábado, 9 de fevereiro de 2013

Quem não tem cão, não tem medo? Alma, não é o Corpo.

"Quem Tem medo que compre um cão?"

Ele estava no café, mais para ler o jornal do que para tomar o seu café. E, numa conversa de café, porque sim, os cafés têm conversas, que não são só, sobre o café. Ouviu, como quem não queria ver, uma frase de que chocalhou os sentidos. Que o arrebitou. De sentado que estava, saiu para a rua decidido, e aquela frase não lhe saia das orelhas, visitou a sua memória e lembra-se de em pequeno ter tido um cão, que não era bem dele, era mais de um vizinho. mas que ele tomou como seu porque lhe fazia festas de longe quando passava por perto dele. Isso era a sua maior conquista ter tido um cão sem ser seu. Era um natural budista, sem saber que essa era uma filosofia de vida, de busca tão intensa, que ele assim, de tão natural antes de o ser já o era. De filosofia só sabia que havia, na rua do lado uma Sofia que era do Phil, porque se chamava Filipe (Ele brincava com o seu inglês - How Do You Feel? I Phil Collins, que ele pensava ser uma figura bíblica porque ouviu falar em Genesis e que sem o Gabriel, que ele pensava ser um Santo, não era a mesma coisa). Sem fugir da frase que incomodava o seu Ser, a obsessão aumentava e os pensamentos sucediam-se uns antes dos outros e outros até vinham depois por repetição. "Quem tem medo que compre um cão". "Quem tem medo que compre um cão" - Medo? esta frase atormentava-lhe o espírito que caminhava dentro do seu corpo. Mas medo de quê? De ficar sem trabalho ou de ficar sem saúde. Será a consciência um acto falhado do medo, que se reproduz para sobreviver. O medo de viver sem se ser reconhecido, o medo do anonimato, O medo de tudo e o medo do nada que se chama solidão. O medo de não conseguir, como se conseguir algo fosse ser alguma coisa. Faço parte de algo que é maior que eu , o que no meu inconsciente significa melhor que eu. Ele nunca tinha ouvido falar da ofensa Cosmológica a Humanidade. Pois, na sua rua, em miúdo quem mandava, eram os maiores que lhe roubavam cromos, quando ele apenas queria troca-los, todos tem direito a fazer colecção, mas os maiores, como o Badocha e o Zé Grande, acabavam sempre as colecções primeiro. Ele como não percebia dessa coisa do medo, ficava sempre sem alguns porque queria mostrar, orgulho dizem uns, vaidade dizem outros, os que tinha conseguido adquirir com as sobras do troco das compras. Ele apenas queria ver os cromos e sentir esse prazer de abrir algo que se desconhece o que está lá dentro, tal como conhecer uma pessoa ou abrir a caixa de Pandora. Aprendeu a andar sozinho, sem perceber que os amigos também servem para isso, para se saber quais são os nossos inimigos. Sozinho, nunca se sentiu, por não lhe explicaram que ter companhia era coisa de gente extrovertida e que socializar fazia crescer, mas ele crescia sozinho, sem se aperceber, só percebia era que as calças iam ficando curtas e e que as mangas encolhiam. Piaget nunca esteve com ele para lhe ensinar que Vigotsky tinha ou não razão, que os dois jogavam melhor, tal como Freud e &. Um dia o cão desapareceu e o seu dono também e tudo isso aconteceu porque resolveu mudar de cidade e viu-se no meio de uma multidão de gente perdida em confusão num Hard-Work enquanto ele preferia mais o Hard-Rock. Agora que tinha voltado ao passado e que viu tudo a preto e branco, o seu coração sentia, o que todos os corações sentem, mas há por aí gente nova que diz que o coração não sente, se o diz é porque nunca tiveram o coração a bater ou a apertar. Na sua lógica se o coração deixa-se de bater, ele deixava de sentir e como o seu batia, ele não se preocupava com os sentimentos, que hoje andam confusos numa luta com as emoções, internas e externas. Ele, que, como sempre teve tudo, cresceu, assim, sem precisar de nada, mas não sabendo ter tudo, ficava confuso com a lucidez dos ensaios que se escreviam na cegueira de um dEUS menor que se fez mAIOR do que a pobreza dos ricos que violam a riqueza dos pobres. Os miseráveis feitos em canção para a alma não sentir o amargo sabor da fabrica de chocolate, pois tudo tem um preço e o preço certo é mais gordo que a fantasia de se poder trocar algo, sem se querer algo em troca. Perdido, pois perdeu-se nestes pensamentos enquanto a frase continuava: - Medo? Cão? Bem, teve que tomar uma decisão e com não tinha cão resolveu ter medo. E assim passou a comprar mais roupas, mais comida, mais segurança, e comprou medo e mais medo e até seguiu os outros com medo de tomar decisões em vez de aprender com ele. O conformismo tornou-se tão evidente que é preciso ter um canudo para se poder ter alguma credibilidade na sabedoria. A norma actualizou o seu estado e reduziu, o todo a um nada. Eles caminham pela trela e levam o seu cão a rua, assim não têm medo. são os humanos que se esqueceram de crescer. cuidado com a alimentação, cuidado com o STOP, cuidado com as finanças, cuidado com o cão, cuidado com a verdade. Enfim, assim que resolveu que também ele podia sentir medo ficou sozinho na sua igualdade com os outros. Sou sem dúvida mais Sansão, ou Ulisses. As minhas aventuras são as minhas vivências e sou apenas eu, porque sou assim. Para mim é tudo muito simples e resumo isto tudo a duas letras; de A a Z. Esse é o caminho mais percorrido, tal como o de Santiago. Vamos, porque vamos, e isso basta-me. Mas eu vou porque tenho aquelas razões desconhecidas para seguir, este caminho não tem fim. Óptimo! assim posso tentar descobrir. A curiosidade e a surpresa são as minhas motivações mais intrínsecas.
Deixei sentir o momento e, em arte contemplativa, senti os olhos da vida que há em mim.

* Se o risco for comprovado, o corpo entra em estado de alerta e se prepara para fugir e lutar. Mas veja bem! Talvez, também resulte uma mudança. 

*Álvaro de Carvalho, 2013

3 comentários:

  1. O medo condiciona as nossas escolhas... um cão será o apoio e a inspiração para não ter medo? Basta olhar verdadeiramente para os olhos de um e deixar que a sua confiança intrínseca na vida nos contagie?... Voltar ao básico, fazer o caminho pelo caminho, apreciar a paisagem e ajustar as metas...O medo de não conseguir chegar ao destino que nos propusemos, impele a que levantemos barreiras para nos defendermos, que ao mesmo tempo nos impedem de ver outros caminhos que igualmente nos serviriam...

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