Álvaro Augusto dos Santos Carvalho,2009.
RESUMO
RESUMO
A abordagem psicanalítica da personalidade foi influenciada por Freud. Nos métodos qualitativos de Avaliação da Personalidade toma principal destaque nos métodos projectivos o Rorschach para efeitos de Psicodiagnótico. O presente trabalho incide sobre o estudo de um caso com a respectiva cotação de um protocolo de Rorschach.
*(Situação e nome ficticio)
No decorrer do trabalho descrevem-se as fases do processo de cotação de um protocolo Rorschach, os fenómenos explicativos da teoria e a metodologia utilizada no processo de avaliação e interpretação dos dados do caso clínico.
A revisão da bibliografia foi particularmente importante para se definir e melhor enquadrar o referencial teórico para a investigação em causa e permitir interpretar a recolha de dados.
O estudo da personalidade envolve e desenvolveu vários métodos e abordagens no interesse da ciência, da humanidade e do sujeito. As abordagens qualitativas aparecem mais associadas a estudo de caso, ao aprofundamento da descrição, explicação, compreensão com o objectivo de predizer o comportamento de um indivíduo. O estudo de caso vai mais ao fundo do indivíduo e a sua análise quantitativa é uma forma de poder generalizar os resultados. Num estudo de caso é possível utilizar tanto método qualitativos como quantitativos.
Entre os vários métodos de avaliação os testes projectivos foram adquirindo a sua eficácia na Avaliação da Personalidade. “O clínico deve conhecer os objectivos que procura e as questões que se põem quando decide propor as provas projectivas” (Chabert, 1997, pag.31).
O Rorschach, nascido e desenvolvido nos modelos da psicopatologia e ao serviço do diagnóstico tornou-se um importante e poderoso instrumento na Avaliação Psicológica. “Os métodos projectivos foram desenvolvidos na corrente da psicologia dinâmica ” (cit. in Bernaud, 2000). Assenta nos processos do funcionamento Freudiano do aparelho psíquico, com os seus processos inconscientes e os mecanismos de defesa associados. Esta visão estrutural da personalidade implica que esta seja organizada por dois jogos de força dinâmicos. A personalidade, segundo Freud, constitui-se com a primeira tópica composta pelo consciente, inconsciente e pré-consciente e a segunda tópica com o Id, O Ego e o Superego. “O psiquismo é considerado como um complexo sistema de forças inter-actuantes que se chocam e se contrariam, se somam ou se substituem, segundo determinados princípios” (cit. por J. Seabra Dinis; Psicanálise, 1945). A ruptura destes sistemas é geradora de angústia.
Um teste de manchas de tinta foi criado por H. Rorschach em 1920 que permitia estabelecer um diagnóstico psicológico da personalidade normal ou patológica, quer na criança, no adolescente e no adulto. É de todas a mais utilizada, a sua sensibilidade, fidelidade e validade são cada vez mais precisos. “O Rorschach não só apreende a delicadeza, a flexibilidade ou a rigidez da adaptação de uma pessoa, como põe à prova as suas capacidades criadoras” (cit. in Marques, 2001).
O Rorschach tem vindo ao longo dos tempos a afirmar-se como um poderoso instrumento de avaliação e assenta em dois paradigmas “ um psicométrico, centrado na quantificação e nas tipologias, e um outro, fundado na interpretação, em que os elementos de análise são sustentados por pressupostos teóricos psicanalíticos” (cit. in Chabert, 2003). Assim a sua metodologia envia mais para dimensões internas, subjectivas e interpretativas. Possui vários elementos que o caracterizam desde a aplicação, o material e os diversos factores de cotação entre as representações e os afectos no qual se vai revelando a essência do sujeito de ligação a si e ao mundo real e relacional que vai permitir vir a tona ás qualidades e à natureza do funcionamento mental.
“É a partir do corpo metapsicológico freudiano, considerados na primeira e na segunda tópica, o Édipo e a sexualidade infantil, a bissexualidade, os vínculos primários e as identificações; o par representação-afecto; a dinâmica intersistémica, o conflito e a angústia; a comunicação inconsciente-consciente depurada através da acção do pré-consciente; o processo primário e o secundário; o princípio da realidade e o princípio do prazer;” (cit. in Chabert, 2003).
Estes são todos os elementos que vão permitir a interpretação do Rorschach. O Rorschach impõe a criação de respostas verbais, símbolos, que são objecto de interpretação e dão a forma de como cada sujeito apreende a realidade perceptiva dos cartões. “Podemos organizar a análise e interpretação da expressão Rorschach através da noção feminino e masculino, elementos que fundam e estruturam a identidade de cada sujeito” (cit. in Marques, 2001). O sujeito é livre no conteúdo e elaboração das suas respostas.
O material Rorschach não é apenas uma análise descritiva é tanto quantitativa como qualitativa. A leitura que se faz do sujeito deve ser enriquecida pela explicação do conteúdo manifesto e do conteúdo latente. A análise dos conteúdos latentes pode ser elaborada pela representação de si e representação das relações.
A Cotação orienta-se pelo Procedimento Clássico (localização, determinantes, conteúdos, factores adicionais) e na Interpretação são analisados a natureza dos processos intelectuais, os problemas e os conflitos afectivos (angústia, agressividade, inibição), as imagens parentais, a relação à sexualidade, a imagem do corpo.
A integração dos dados e apreciação do modo de funcionamento psíquico assenta na angústia e nos mecanismos de defesa. A angústia da castração aparece como fundamento das organizações neuróticas. E faz-se uma interpretação dos mecanismos de defesa em termos psicopatológicos da neurose obsessiva, histeria, narcísismo, estados limites e psicoses.
DESENVOLVIMENTO
O objecto de estudo em psicologia clínica é captar e revelar o ser psicológico o que leva a precisar de se ir mais ao fundo do sujeito e é através do seu próprio discurso e expressão do mesmo que se pode conhecer aquilo que é elaborado pelo sujeito no confronto com o seu mundo interno e o externo e as capacidades que tem para os ligar, transformar, criar e recriar. É através da acção de identificação projectiva que o sujeito explora o mundo e recebe dele uma pressão que se excita ou inibe. Segundo Freud o sujeito não tem consciência da angústia provocada por estes processos. Freud explica a existência de uma relação constante entre o que é manifesto e as suas traduções, o latente. “A fala deve ser libertada”, (Lacan, 1956).
No interior de cada sujeito agem forças em permanente dinâmica, fenómenos que criam e se recriam nas relações com o exterior e que após a interiorização e introspecção possibilitam a emergência de novas formas de expressão e de relação.
Uma mancha de tinta torna-se em algo «significante» porque o Rorschach é considerado um instrumento que revela e expressa as representações inconscientes. Ao confrontar-se com a situação, ao ser pedido ao sujeito que diga o que é que as manchas poderão ser, as manchas com uma configuração ambígua com impressões sensórias sem significado permitem converter, a partir da percepção em abstracções e ligam-se pela comunicação em palavras ao pensamento (Marques, 1999, pag.39). A função simbólica é uma actividade que impõe a linguagem, uma ligação do interno com o externo das experiências do passado com as vivências actuais, os conceitos reproduzem-se pela percepção e o uso da palavra. É a relação entre a percepção e projecção.
No Rorschach para uma sistematização dos dados o discurso do sujeito presta-se a uma análise, as respostas são cotadas em função do modo de apreensão, do determinante e do conteúdo. Cada factor é estudado na perspectiva dinâmica da sua pluralidade de sentido. A representação deriva da teoria pulsional, considerada na primeira tópica e na segunda tópica, e outra que considera as teorias da relação de objecto (Marques, 1999). A teoria pulsional de Freud assenta na passagem do processo primário para o processo secundário em que a representação da percepção a nível do pensamento pertence ao sistema inconsciente e a representação da palavra ao sistema pré-consciente (pag.184). Os mecanismos de defesa assentam na repressão, projecção, negação, formação reactiva, regressão, racionalização, isolamento e sublimação (Fadiman, 1939). Freud desenvolveu as fases psicossexuais do desenvolvimento; fase Oral, fase Anal, fase fálica e Genital. O termo fixação é usado para descrever o que ocorre quando uma pessoa não progride normalmente nas fases.
Os modos de apreensão são o suporte dos mecanismos de defesa e as operações perceptivas dessa actividade desenvolvem-se através dos determinantes e dos conteúdos. No caso dos determinantes são interpretados segundo os dois princípios do funcionamento mental, o princípio do prazer e da realidade. Os conteúdos estão ligados aos latentes que aparecem do pré-consciente, dos sonhos pelas operações de deslocamento, condensação e simbolização.
O estímulo Rorschach vai então permitir a emergência da palavra. O convite a instrução apela desde logo e simultaneamente, aos mecanismos perceptivos e projectivos: «Diga-me o que imagina a partir destes cartões, diga o que estes cartões lhe fazem pensar». (Chabert, 1997) Então o sujeito vai mostrar como se organiza para encarar o seu mundo interno e o seu meio. O carácter paradoxal da instrução é o sujeito tentar ligar-se à realidade do material e criar imagens que de forma alguma estão lá representadas. Para alguns, a aplicação do teste é vivida como uma situação escolar com a reactivação do desejo do melhor resultado ou o terror do insucesso e apesar da instrução não há boas ou más respostas. Os elementos que possam parecer «estranhos» devem também ser valorizados, o discurso não deve ser isolado do funcionamento psíquico, reflexões, posturas, comentários e as próprias dimensões analista e analisado e o que advém deste contacto.
Na abordagem e no decorrer da prova a relação terapêutica influenciada pelas duas partes clínico e entrevistado desenvolve uma nova dimensão onde se podem realizar transferências e contra-transferências e que pode ser uma boa interpretação qualitativa de processos manifestos com conteúdos latentes (Chabert, 1997). O testado pode assim manifestar várias características. O reactivar do sentimento de não ser apreciado, de ser julgado, vigiado e pode levar, no decorrer da prova, fase ao perigo de intrusão, de penetração, ao desenvolvimento de comentários quer sobre o carácter intencional dos cartões ou pedidos de esclarecimento da instrução. Outros, sujeitos com grande avidez de contacto ou forte dependência podem ter dificuldades e enchem a prova de expressões, sensações e emoções através de imagens impressionistas. “Os inibidos, de contacto difícil parecem viver a situação num clima de angústia paralisante” (Chabert, 1997). O sujeito aparece fechado, emoções violentas que quer conter e demonstra um mal-estar geral a nível do comportamento.
O rigor do procedimento é de extrema importância para a metodologia e a fiabilidade científica do instrumento. Existem diversas propostas quanto a instrução desde «O que é que isto poderia ser?» de Anzieu a «O que lhe peço é que me diga tudo o que se poderia ver nestas manchas?» (Chabert, 1997, pg.42) ou a fórmula proposta por Chabert «Vou-lhe mostrar dez cartões e vai-me dizer tudo aquilo em que eles lhe fazem pensar, o que pode imaginar a partir destes cartões» é a pragmática da instrução que traz confronto ao sujeito e dela no sentido se desenvolve também diferentes dinâmicas.
Os cartões são observados, manuseados e evocados um a um. Apesar de serem todos diferentes há aspectos comuns neles como a sua constituição simétrica e a presença de elementos cromáticos e acromáticos e assim surgem duas dimensões uma estrutural numa perspectiva perceptiva e cognitiva e outra sensorial associada à expressão dos afectos. Estas duas dimensões vão servir de base ao método de análise dos protocolos.
No decorrer do trabalho descrevem-se as fases do processo de cotação de um protocolo Rorschach, os fenómenos explicativos da teoria e a metodologia utilizada no processo de avaliação e interpretação dos dados do caso clínico.
A revisão da bibliografia foi particularmente importante para se definir e melhor enquadrar o referencial teórico para a investigação em causa e permitir interpretar a recolha de dados.
O estudo da personalidade envolve e desenvolveu vários métodos e abordagens no interesse da ciência, da humanidade e do sujeito. As abordagens qualitativas aparecem mais associadas a estudo de caso, ao aprofundamento da descrição, explicação, compreensão com o objectivo de predizer o comportamento de um indivíduo. O estudo de caso vai mais ao fundo do indivíduo e a sua análise quantitativa é uma forma de poder generalizar os resultados. Num estudo de caso é possível utilizar tanto método qualitativos como quantitativos.
Entre os vários métodos de avaliação os testes projectivos foram adquirindo a sua eficácia na Avaliação da Personalidade. “O clínico deve conhecer os objectivos que procura e as questões que se põem quando decide propor as provas projectivas” (Chabert, 1997, pag.31).
O Rorschach, nascido e desenvolvido nos modelos da psicopatologia e ao serviço do diagnóstico tornou-se um importante e poderoso instrumento na Avaliação Psicológica. “Os métodos projectivos foram desenvolvidos na corrente da psicologia dinâmica ” (cit. in Bernaud, 2000). Assenta nos processos do funcionamento Freudiano do aparelho psíquico, com os seus processos inconscientes e os mecanismos de defesa associados. Esta visão estrutural da personalidade implica que esta seja organizada por dois jogos de força dinâmicos. A personalidade, segundo Freud, constitui-se com a primeira tópica composta pelo consciente, inconsciente e pré-consciente e a segunda tópica com o Id, O Ego e o Superego. “O psiquismo é considerado como um complexo sistema de forças inter-actuantes que se chocam e se contrariam, se somam ou se substituem, segundo determinados princípios” (cit. por J. Seabra Dinis; Psicanálise, 1945). A ruptura destes sistemas é geradora de angústia.
Um teste de manchas de tinta foi criado por H. Rorschach em 1920 que permitia estabelecer um diagnóstico psicológico da personalidade normal ou patológica, quer na criança, no adolescente e no adulto. É de todas a mais utilizada, a sua sensibilidade, fidelidade e validade são cada vez mais precisos. “O Rorschach não só apreende a delicadeza, a flexibilidade ou a rigidez da adaptação de uma pessoa, como põe à prova as suas capacidades criadoras” (cit. in Marques, 2001).
O Rorschach tem vindo ao longo dos tempos a afirmar-se como um poderoso instrumento de avaliação e assenta em dois paradigmas “ um psicométrico, centrado na quantificação e nas tipologias, e um outro, fundado na interpretação, em que os elementos de análise são sustentados por pressupostos teóricos psicanalíticos” (cit. in Chabert, 2003). Assim a sua metodologia envia mais para dimensões internas, subjectivas e interpretativas. Possui vários elementos que o caracterizam desde a aplicação, o material e os diversos factores de cotação entre as representações e os afectos no qual se vai revelando a essência do sujeito de ligação a si e ao mundo real e relacional que vai permitir vir a tona ás qualidades e à natureza do funcionamento mental.
“É a partir do corpo metapsicológico freudiano, considerados na primeira e na segunda tópica, o Édipo e a sexualidade infantil, a bissexualidade, os vínculos primários e as identificações; o par representação-afecto; a dinâmica intersistémica, o conflito e a angústia; a comunicação inconsciente-consciente depurada através da acção do pré-consciente; o processo primário e o secundário; o princípio da realidade e o princípio do prazer;” (cit. in Chabert, 2003).
Estes são todos os elementos que vão permitir a interpretação do Rorschach. O Rorschach impõe a criação de respostas verbais, símbolos, que são objecto de interpretação e dão a forma de como cada sujeito apreende a realidade perceptiva dos cartões. “Podemos organizar a análise e interpretação da expressão Rorschach através da noção feminino e masculino, elementos que fundam e estruturam a identidade de cada sujeito” (cit. in Marques, 2001). O sujeito é livre no conteúdo e elaboração das suas respostas.
O material Rorschach não é apenas uma análise descritiva é tanto quantitativa como qualitativa. A leitura que se faz do sujeito deve ser enriquecida pela explicação do conteúdo manifesto e do conteúdo latente. A análise dos conteúdos latentes pode ser elaborada pela representação de si e representação das relações.
A Cotação orienta-se pelo Procedimento Clássico (localização, determinantes, conteúdos, factores adicionais) e na Interpretação são analisados a natureza dos processos intelectuais, os problemas e os conflitos afectivos (angústia, agressividade, inibição), as imagens parentais, a relação à sexualidade, a imagem do corpo.
A integração dos dados e apreciação do modo de funcionamento psíquico assenta na angústia e nos mecanismos de defesa. A angústia da castração aparece como fundamento das organizações neuróticas. E faz-se uma interpretação dos mecanismos de defesa em termos psicopatológicos da neurose obsessiva, histeria, narcísismo, estados limites e psicoses.
DESENVOLVIMENTO
O objecto de estudo em psicologia clínica é captar e revelar o ser psicológico o que leva a precisar de se ir mais ao fundo do sujeito e é através do seu próprio discurso e expressão do mesmo que se pode conhecer aquilo que é elaborado pelo sujeito no confronto com o seu mundo interno e o externo e as capacidades que tem para os ligar, transformar, criar e recriar. É através da acção de identificação projectiva que o sujeito explora o mundo e recebe dele uma pressão que se excita ou inibe. Segundo Freud o sujeito não tem consciência da angústia provocada por estes processos. Freud explica a existência de uma relação constante entre o que é manifesto e as suas traduções, o latente. “A fala deve ser libertada”, (Lacan, 1956).
No interior de cada sujeito agem forças em permanente dinâmica, fenómenos que criam e se recriam nas relações com o exterior e que após a interiorização e introspecção possibilitam a emergência de novas formas de expressão e de relação.
Uma mancha de tinta torna-se em algo «significante» porque o Rorschach é considerado um instrumento que revela e expressa as representações inconscientes. Ao confrontar-se com a situação, ao ser pedido ao sujeito que diga o que é que as manchas poderão ser, as manchas com uma configuração ambígua com impressões sensórias sem significado permitem converter, a partir da percepção em abstracções e ligam-se pela comunicação em palavras ao pensamento (Marques, 1999, pag.39). A função simbólica é uma actividade que impõe a linguagem, uma ligação do interno com o externo das experiências do passado com as vivências actuais, os conceitos reproduzem-se pela percepção e o uso da palavra. É a relação entre a percepção e projecção.
No Rorschach para uma sistematização dos dados o discurso do sujeito presta-se a uma análise, as respostas são cotadas em função do modo de apreensão, do determinante e do conteúdo. Cada factor é estudado na perspectiva dinâmica da sua pluralidade de sentido. A representação deriva da teoria pulsional, considerada na primeira tópica e na segunda tópica, e outra que considera as teorias da relação de objecto (Marques, 1999). A teoria pulsional de Freud assenta na passagem do processo primário para o processo secundário em que a representação da percepção a nível do pensamento pertence ao sistema inconsciente e a representação da palavra ao sistema pré-consciente (pag.184). Os mecanismos de defesa assentam na repressão, projecção, negação, formação reactiva, regressão, racionalização, isolamento e sublimação (Fadiman, 1939). Freud desenvolveu as fases psicossexuais do desenvolvimento; fase Oral, fase Anal, fase fálica e Genital. O termo fixação é usado para descrever o que ocorre quando uma pessoa não progride normalmente nas fases.
Os modos de apreensão são o suporte dos mecanismos de defesa e as operações perceptivas dessa actividade desenvolvem-se através dos determinantes e dos conteúdos. No caso dos determinantes são interpretados segundo os dois princípios do funcionamento mental, o princípio do prazer e da realidade. Os conteúdos estão ligados aos latentes que aparecem do pré-consciente, dos sonhos pelas operações de deslocamento, condensação e simbolização.
O estímulo Rorschach vai então permitir a emergência da palavra. O convite a instrução apela desde logo e simultaneamente, aos mecanismos perceptivos e projectivos: «Diga-me o que imagina a partir destes cartões, diga o que estes cartões lhe fazem pensar». (Chabert, 1997) Então o sujeito vai mostrar como se organiza para encarar o seu mundo interno e o seu meio. O carácter paradoxal da instrução é o sujeito tentar ligar-se à realidade do material e criar imagens que de forma alguma estão lá representadas. Para alguns, a aplicação do teste é vivida como uma situação escolar com a reactivação do desejo do melhor resultado ou o terror do insucesso e apesar da instrução não há boas ou más respostas. Os elementos que possam parecer «estranhos» devem também ser valorizados, o discurso não deve ser isolado do funcionamento psíquico, reflexões, posturas, comentários e as próprias dimensões analista e analisado e o que advém deste contacto.
Na abordagem e no decorrer da prova a relação terapêutica influenciada pelas duas partes clínico e entrevistado desenvolve uma nova dimensão onde se podem realizar transferências e contra-transferências e que pode ser uma boa interpretação qualitativa de processos manifestos com conteúdos latentes (Chabert, 1997). O testado pode assim manifestar várias características. O reactivar do sentimento de não ser apreciado, de ser julgado, vigiado e pode levar, no decorrer da prova, fase ao perigo de intrusão, de penetração, ao desenvolvimento de comentários quer sobre o carácter intencional dos cartões ou pedidos de esclarecimento da instrução. Outros, sujeitos com grande avidez de contacto ou forte dependência podem ter dificuldades e enchem a prova de expressões, sensações e emoções através de imagens impressionistas. “Os inibidos, de contacto difícil parecem viver a situação num clima de angústia paralisante” (Chabert, 1997). O sujeito aparece fechado, emoções violentas que quer conter e demonstra um mal-estar geral a nível do comportamento.
O rigor do procedimento é de extrema importância para a metodologia e a fiabilidade científica do instrumento. Existem diversas propostas quanto a instrução desde «O que é que isto poderia ser?» de Anzieu a «O que lhe peço é que me diga tudo o que se poderia ver nestas manchas?» (Chabert, 1997, pg.42) ou a fórmula proposta por Chabert «Vou-lhe mostrar dez cartões e vai-me dizer tudo aquilo em que eles lhe fazem pensar, o que pode imaginar a partir destes cartões» é a pragmática da instrução que traz confronto ao sujeito e dela no sentido se desenvolve também diferentes dinâmicas.
Os cartões são observados, manuseados e evocados um a um. Apesar de serem todos diferentes há aspectos comuns neles como a sua constituição simétrica e a presença de elementos cromáticos e acromáticos e assim surgem duas dimensões uma estrutural numa perspectiva perceptiva e cognitiva e outra sensorial associada à expressão dos afectos. Estas duas dimensões vão servir de base ao método de análise dos protocolos.
O convite a resposta obedece às duas regras fundamentais da psicanálise: a regra da não omissão e da abstinência. Na qual, na primeira, o sujeito compromete-se a não seleccionar o material psíquico que aflora à sua consciência, enquanto a segunda regra diz, que o sujeito compromete-se a exprimir os seus desejos na presença do analista, sem procurar realizá-los com ele.
Depois num segundo momento aparece o inquérito que permite esclarecimentos e um aprofundamento do material encontrado pelo sujeito. Podem as respostas estarem completamente ausentes e o psicólogo ter de proceder a um inquérito aos limites. Na escola Francesa procede-se assim quando não são apresentadas banalidades nos cartões III e V (Chabert, 1997). A não presença de banalidades nestes cartões podem dar boas indicações de normalização ou submissão e como o sujeito se integra num sistema perceptivo-social. A não apresentação de respostas humanas no cartão três podem ocultar ou desvendar uma problemática de identidade. Estes são alguns exemplos da importância do inquérito e quando deve ser levado aos limites relembra-se que há mecanismos desconhecidos ao sujeito, a própria angústia pode ser alvo de racionalização.
Tal como o processo psíquico que se activa ou inibe na assimilação e acomodação das partes pela sua dinâmica sempre em processo. É, neste sentido, para vários autores de avaliação de Rorschach, muito importante avaliar a dinâmica estabelecida do sujeito com os cartões e assim a prova de escolhas, que é uma fase seguinte ao inquérito, propõe ao sujeito que ele escolha dois cartões que ele mais gosta e dois que ele menos gosta. Aqui há um apelo à escolha e à rejeição e traz informação suplementar.
Depois num segundo momento aparece o inquérito que permite esclarecimentos e um aprofundamento do material encontrado pelo sujeito. Podem as respostas estarem completamente ausentes e o psicólogo ter de proceder a um inquérito aos limites. Na escola Francesa procede-se assim quando não são apresentadas banalidades nos cartões III e V (Chabert, 1997). A não presença de banalidades nestes cartões podem dar boas indicações de normalização ou submissão e como o sujeito se integra num sistema perceptivo-social. A não apresentação de respostas humanas no cartão três podem ocultar ou desvendar uma problemática de identidade. Estes são alguns exemplos da importância do inquérito e quando deve ser levado aos limites relembra-se que há mecanismos desconhecidos ao sujeito, a própria angústia pode ser alvo de racionalização.
Tal como o processo psíquico que se activa ou inibe na assimilação e acomodação das partes pela sua dinâmica sempre em processo. É, neste sentido, para vários autores de avaliação de Rorschach, muito importante avaliar a dinâmica estabelecida do sujeito com os cartões e assim a prova de escolhas, que é uma fase seguinte ao inquérito, propõe ao sujeito que ele escolha dois cartões que ele mais gosta e dois que ele menos gosta. Aqui há um apelo à escolha e à rejeição e traz informação suplementar.
Todo o material Rorschach é alvo da análise o que aumenta a sua eficácia quer quantitativa como qualitativa. Uma análise apenas descritiva empobrece o relatório e pode dar à pessoa uma aparência estéril. A leitura que se faz do sujeito deve ser enriquecida pela explicação do conteúdo manifesto e do conteúdo latente. Quanto ao conteúdo manifesto o acerto posto nas cores e a sensibilidade à tonalidade poderá associar-se aos afectos mais ou menos tristes e mais ou menos depressivos. As graduações podem fornecer a variância desde da inquietude à angústia. A mancha muito espalhada é a abordagem ao estímulo em Global a centração sobre a mediana constitui uma abertura de significados Determinantes. As lacunas de um lado e de outro apelam as faltas, vazios, feridas. Enquanto uma abertura bastante grande é uma referência materna e os limites muito irregulares põem em evidência uma fragilidade possível da imagem de si.
Quanto a imagem latente “cada cartão é susceptível de solicitar representações, fantasmas ou afectos... que preserva sempre a dialéctica própria de cada sujeito.” (Chabert, 1997). O estudo dos conteúdos latentes permite elaborar três determinantes: o aspecto perceptivo, as associações e as referências teóricas do clínico é a tríade material-sujeito-clínico. A sua análise pode ser elaborada pela representação de si e representação das relações.
A representação de si é evocada pelos cartões onde é solicitada uma problemática de identidade, pelos elementos fornecidos pela relação com a diferenciação entre o sujeito e o objecto e com a diferenciação sexual. As representações de relações pelo apelo que os cartões fazem ao registo conflitual e aos níveis de desenvolvimento libidinal (Chabert, 1997). O apelo ao corpo no teste de Rorschach está na construção simétrica dos cartões em torno de eixo médio e a sua semelhança com o esquema simétrico do corpo humano. Os cartões Rorschach vão no conteúdo latente fornecendo e estabelecendo definições, introspecções e favorecendo a análise de a construção da imagem de si, na imagem do corpo e na identidade e o investimento da imagem de si, nas representações de relações solicitações fantasmáticas ligadas às imagens parentais, ao imago materno e as relações de objecto de amor e de ódio. A interpretação é muito influenciada pelas posições teóricas.
Os passos para a cotação da codificação das respostas situa-se na localização que são os modos de apreensão, onde? Nos determinantes, Como viu? Nos conteúdos, O que viu? E as banalidades, Com que frequência viu?
A integração dos dados e apreciação do modo de funcionamento psíquico assenta na angústia e nos mecanismos de defesa. A concepção de angústia em Freud foi evoluindo e na sua origem encontramos uma acumulação de tensão física sexual. A acumulação da tensão vai-se transformar em angústia pela não realização do afecto sexual não poder ser constituído “A angústia aparece como um substituto da representação que falta” (Chabert, 1997). Enquanto as primeiras teorias tratavam da angústia com o corpo as segundas teorias trazem a relação da angústia com a libido recalcada. Distingue-se dois factores de angústia: perante um perigo e neurótica. No seu última período Freud afirma que não é o recalcamento que produz angústia mas ao contrário, e que é “a advertência, pelo Ego, de uma situação de perigo antiga, em função de uma exigência pulsional nova” (Chabert, 1997). Um estado de grande tensão provoca a angústia neurótica, sentida como desprazer, sendo impossível libertar pela descarga. A perda do objecto parcial, o pénis, ou a ameaça está ligada a angústia da castração, ao fantasma da castração das diferenças anatómicas dos sexos. A presença ou a ausência do pénis, na sexualidade infantil, pode levar ao narcisismo porque a criança considera o falo com parte essencial da representação que tem de si e a ameaça põe em perigo esta representação, é a perda ou separação do objecto. O que nos leva no caso das raparigas ao complexo de Édipo, em desejar o pénis paterno. Enquanto que a angústia traumática é uma manifestação do Id do qual o Ego não se consegue defender e aparecem estados de pânico, de impotência e de desespero. O ego para enviar ordens de acção defensiva ao Id, contra as pulsões que dele emanam dá a angústia sinal.
A angústia da castração aparece como fundamento das organizações neuróticas, no entanto há leituras bem diferentes que envolvem os mecanismos de defesa lábil, rígidos e fóbicos. No Rorschach os mecanismos de defesa são muito importantes na apreciação do funcionamento psíquico do sujeito, “Permite determinar a flexibilidade ou a rigidez da organização defensiva” (Chabert, 1997). São distinguidos quatro categorias principais de procedimentos de elaboração do discurso: rigidez, labilidade, inibição e processos primários. É desta forma que no Rorschach se faz uma interpretação dos mecanismos de defesa em termos psicopatológicos da neurose obsessiva, histeria, narcísismo, estados limites e psicoses.
METÓDO
Participante
A amostra é composta por um sujeito do sexo feminino de nome Natália com 22 anos de idade. É a filha mais velha de cinco irmãos. Trabalha actualmente com o seu pai num escritório de advogados.
Medida
A técnica utilizada foi o Rorschach. O seu material de aplicação é composto de 10 cartões com manchas de tinta que apresentam características precisas do ponto de vista perceptivo. As manchas são ambíguas quanto ao significado e simétricas. O teste é administrado individualmente cartão a cartão. E constituem uma interpretação sensorial a organizar como uma percepção pelas características dos mesmos e é a partir disso que surgem as respostas verbais que o sujeito dá ao ser convidado a dizer tudo sobre o que poderia ver nessas manchas. São tidas em conta as respostas verbais e não verbais e o tempo levado para cada resposta. As respostas são anotadas numa grelha e a cotação é manual.
Segundo Nina Rausch de Traubenberg, o termo «modo de apreensão» define a localização, o quadro perceptivo no qual se molda o conteúdo da resposta (Chabert, 1999). A análise dos cartões faz-se pelos modos de apreensão, esta abordagem dita «intelectual», classicamente é como o sujeito faz a sua lógica de raciocínio, da exploração das potencialidades criativas e a adaptação à realidade objectiva. Quanto à localização de modo simples global (G) ou nos detalhes (D, Dd, Dbl, Do) nos associados (G ou Dbl) e sincréticos ou elaborados (G, barrado) ou contaminado, confabulado, informulado e elaborado (D/G). Os Determinantes (F) formais, com boa forma (F+) ou má forma (F-) ou, ainda, com base na cor (CF/FC), as respostas com movimento também fazem parte dos determinantes as Cinestesias (K, Kan-Kob, Kp) e ainda a textura, Estompagem (FE, EF, E) e os determinantes claro escuro (Felob, FlobF, Clob). Quanto aos Conteúdos, categorias previstas a exemplo podem ser (A) animais inteiros, (Ad) animais parciais, (H) humanos inteiros, (Hd) humanos parciais, (Anat) Anatomia, (Nat) Natureza, (Pl) plantas, (obj) Objectos entre muitos. As Banalidades (Ban) são a frequência estatística da prova, que está de acordo com a frequência da população.
A nível interpretativo, Nina Rausch propõe três níveis a partir dos dados do psicograma e da normalização dos resultados. Eixo I – Análise da dinâmica cognitiva (G%; D%; Dd%; Dbl%; F%; F+%). Eixo II – Análise da Socialização (A%; H%, Ban; K; Kan) e o Eixo III – Análise da dinâmica afectiva (TRI; FC; RC%; IA). O TRI, tipo de ressonância interna, é a comparação do somatório das grandes cinestesias com a soma ponderada da cor (∑K: ∑C), se K for menor que C o mundo interno domina se o K for maior que C então domina o mundo externo. O (FC) forma complementar é nos dado pela formula (Kan+Kob+Kb) xK: ∑C e se existe coerência entre a forma complementar e a TRI então diz-se que a forma complementar confirma ou se vai na mesma direcção ou não. O RC% é nos dado pela formula do somatório do cartão VIII+IX+X a dividir por R e multiplicando por 100. O RC% vai-nos dar a reactividade do sujeito as cores pastel. O (IA) Índice de Angústia é nos dado pela formula IA = Hd+Sx+Sg+Anat a dividir por R vezes 100. O índice de angústia procura saber de que forma o sujeito conseguiu controlar ou não a emergência dos conteúdos parciais, manifestos.
Procedimento
Na aplicação o sujeito é instalado à esquerda e um pouco a frente do examinador, para facilitar a observação do comportamento. A pilha de dez pranchas é colocada, de costas para cima, encontrando-se em cima da mesa à vista e o examinador apresenta ao sujeito as pranchas por ordem, uma a uma, em posição vertical. A aplicação da prova é constituída por três fases que consistem na aplicação espontânea, o inquérito e a prova das escolhas. Ao dar a instrução, que pode ser, «O que é que isto poderia ser?» põem o cronómetro a funcionar. A instruções estimula o sujeito a verbalizar a representação para si daquilo que interpreta das manchas tentando dar-lhe significado. O sujeito recebe a prancha em mão e pode olhar todo o tempo que quiser. No protocolo são registadas as exclamações, comentários, respostas, hesitações, mudanças de posição da prancha e a primeira resposta a notável com o maior rigor possível. Deve-se também anotar a duração de administração de cada prancha.
No Rorschach temos então as condições de Aplicação e a Cotação. As Condições de Aplicação são as instruções formais da prova, a recolha do protocolo pelas anotações, a prova complementar de escolhas, o inquérito e o inquérito aos limites. Quanto a Cotação deu-se fazer uma leitura despreocupada do protocolo, anotar as impressões mais salientes, como a tonalidade emocional, verbalização e atitudes, de seguida codifica-se as respostas quanto a Localização (Modos de Apreensão), os Determinantes, Os Conteúdos e as banalidades. Depois o Psicograma, a análise Qualitativa e a síntese clínica.
Na análise Qualitativa que é a análise dos traços mais salientes do psicograma faz-se pela área de funcionamento intelectual, da socialização e da dinâmica afectiva.
Para avaliar a cotação foram utilizados os valores normativos da escola Francesa e quanto à significação simbólica para a análise são exemplificados e apresentados em anexo III e IV, apenas dois modelos, de forma resumida e citados em Chabert: o de Didier Anzieu (1965) e o de Nina Rausch de Traubenberg (1970/90):
RESULTADOS
A Tabela de Cotação com resultados está no anexo II. O total de resposta foram 24, (valor normativo entre 20 e 30). Recusa = 0. O tempo Total da prova foi de 11minutos (mn) e 10segundos (s), (valor normativo 20 a 30 mn. Tempo de resposta = 67s (valor normativo 33s). Tempo de Latência Médio = 111s (valor normativo cartão a cartão).
Nos Modos de Apreensão; G% = 62.5%↑ (valor normativo 20% a 30%); Determinantes D% = 33,3%↓ (valor normativo 70% a 80%); Dd = 4,1% (valor normativo 3% a 10%). Nos Determinantes Formais; ∑F=14; F+ = 9; F – = 2 e F+ – = 3; F% = 58,3% (50% a 70%); F+% = 75% ↓(80% a 90%); F%a = 66,6% e F+%a = 52%. Quanto aos Determinantes Cinestésicos 1K = 1Kan (K˃Kan de 1 a 3 K). Determinantes cor 0FC ˂0C+3CF (FC˃C+CF entre 3FC/1CF/0C e ∑C=2 ou 3). Conteúdos Animais A=5, Ad=2; A%=29,1% ↓ (35% a 40%). Conteúdos Humanos H=3, Hd=0; H%=12,5% (10% a 20%). Outros conteúdos Anat=1; Nat=5; Dec=2, Pl=1. Tipo de Ressonância Íntima (TRI) 1K:3C (FC e FC’ – 0,5 Extra tensiva mista). Formula Complementar (FC) 3K:4E (FE-0,5, EF-1,E-1,5). Reactividade a cor RC% ↑=41,6% (30% e 40%). Banalidades Ban=5 (5 a 6). Índice de Angústia – IA=4,1% ↓ (12% a 15%). Quanto aos elementos Qualitativos: Choque – Cartão VI; Equivalente a Choque – Cartão IV; Perseveração – Cartão V; Comentário à cor do cartão – Cartão VIII; Comentário à simetria VIII; Crítica do Objecto – Cartão X e Comentário subjectivo – Cartão III.
Na Prova de Escolhas a Natália escolheu o cartão VIII como o que mais lhe agradou e o que menos lhe agradou foi o cartão II.
DISCUSSÃO
A análise dos resultados foi realizado através do psicograma por comparação dos valores obtidos na cotação do protocolo e os valores normativos numa primeira fase dos três eixos cognitivo, socialização e afectivo e numa segunda fase uma avaliação dos elementos qualitativos.
O número de respostas dadas pela Natália que os valores estão dentro da norma, apesar do tempo total ser baixo. Os modos de apreensão aparecem associados aos factores implicados no funcionamento cognitivo.
No Eixo da Análise da dinâmica cognitiva. A Natália nas respostas em G situa-se acima da média o que pode revelar uma atitude defensiva que consiste em não se aplicar numa procura mais aprofundada ou mais pessoal, há ausência de curiosidade face ao objecto externo. É um tipo de mobilização defensiva que pode remeter para o recalcamento. Associado também a uma atitude passiva. Os D’s na sua interpretação estão associados a adaptação e socialização e estando afastada das normas é demonstrativo da qualidade da participação num modo de pensamento colectivo. Os seus valores estão muito abaixo dos valores normativos. Nos Determinantes Formais apresenta valores dentro da norma o que pode indicar um modo de funcionamento habitual, normal e necessário apreendendo a realidade no seu contorno formal num movimento de adaptação realista. Possui uma obediência de base à instrução, molda-se. Os F% aparecem dentro da normalidade e os F+% abaixo o que se pode traduzir por falhas de inserção socializante no real, como o F%a é inferior ao F+%, a Natália pode evidenciar dificuldades em funcionar fora do seu controlo para além da percepção pura. Então as a sua adaptação faz-se pelo real puro, com controlo da situação, apelo a segurança, com pouco recurso a criatividade, podendo recusar ou desorganizar-se perante situações novas. No entanto baixos F –, a Natália deu dois, podem indicar alguma flexibilidade e permeabilidade no arranjo do funcionamento mental. As respostas F+-, podem assinalar um pensamento vago que não encontra os seus limites e os mecanismos de dúvida, hesitações e da prudência face à tomada de decisão.
No Eixo da Socialização temos os conteúdos a sua análise refere-se aos conceitos de representação de palavras e de coisas. Os conteúdos Animais, revelaram um resultado abaixo da norma o que constitui dificuldades de integração adaptativa e socializante, no entanto o valor está muito perto na norma mínima. Este A% baixo também pode se traduzir pelo interesse pelas artes, cultura, literatura. Lembremos também pode para Freud as Artes estavam associadas a Sublimação. Os conteúdos Humanos que se referem a aptidão do sujeito para reconhecer a sua identidade subjectiva. Os valores estão dentro da norma e a Natália pode apresentar índices de se representar a si própria num sistema de relações e que consegue distinguir semelhanças e diferenças em relação aos outros. As banalidades encontram-se dentro dos valores normativos o que vai de acordo com o conformismo as normas sociais.
No Eixo Afectivo, os determinantes sensoriais, o afecto é um representante psíquico da pulsão, expresso pelo prazer-desprazer e alegria-tristeza. As respostas aparecem no determinante cor (CF) e no esbatimento EF. A Natália pode ser considerada uma pessoa que se submete passivamente mas que tem alguma sensibilidade a realidade externa. Os esbatimentos ligam-se ao toque e remetem para a primeira infância, às carícias maternas. Nos Determinantes Cinestésicos o elemento formal diz respeito a uma conduta ligada ao conhecimento de uma imagem que deve responder às exigências da adequação perceptiva. Quanto ao Tipo de Ressonância íntima (TRI), pelo resultado obtido a Natália pode se considerar Extra tensiva mista. Há uma Reactividade a Cor (RC) acima da norma. A Forma Complementar não confirma e não vai na mesma direcção da TRI. O índice de Angústia procura saber se o sujeito controla ou não a emergência dos conteúdos. Na Natália o Índice de Angústia (IA) é mais baixo que os valores normativos. O que leva a interpretação de uma luta psíquica entre o Ego e o Id, entre o princípio da realidade e o princípio do prazer. A angústia é reforço dos mecanismos de defesa, tanto que pode estar ligada a angústia da castração.
Os elementos Qualitativos permitem analisar uma dinâmica, colocar o sujeito em situação, ligar pontos e estabelecer pontes para um diagnóstico que ajude a elaborar a intervenção na problemática, ou seja melhor conhecer o sujeito permite de certeza uma abordagem mais efectiva. O cartão VI foi o escolhido enquanto ao Choque e reenvia para ao problema sexual e da angústia da castração. O Equivalente ao Choque no cartão IV, a autoridade que pode ser a imagem da figura paterna, dominação ou submissão «Isto diríamos um monstro» pode ser a castração, a moral, os olhos que estão sempre a vigiar. A Perserveração é feita no cartão V, ligado a representação de si e corresponde a integridade psíquica e somática. Parece haver um confronto entre o externo e o interno, entre o que quer e o que está por detrás. De novo a relação da realidade e prazer. Quanto ao Comentário à Cor, o cartão VIII é significativo a nível do que foi dito na preservação. Tudo está em dinâmica, há um conflito é divergente pois foi também o cartão escolhido para o comentário à simetria. Na Crítica Objectiva surge o cartão X a ruptura com a situação sentida com alívio ou ferida, tipo «Não se fala mais nisso». O cartão III foi ligado ao Comentário Subjectivo e remete para a representação do casal parental “personagens habituais” e ainda o «Não sei» e «é tudo» aparentam uma inibição sobre as figuras parentais.
Quanto a Prova de escolhas a Natália escolheu o cartão VIII, que reenvia para o mundo exterior que é onde a Natália se sente melhor por oposição ao seu self, pois escolheu o cartão II onde a problemática da castração é constante, como o que menos gosta, pois provoca mal-estar e envia para a sexualidade ou para uma problemática pré-genital ou a sua relação com a mãe.
CONCLUSÃO
O estudo da personalidade desenvolveu métodos e abordagens no interesse da ciência, da humanidade e do sujeito. As abordagens qualitativas aparecem mais associadas a estudo de caso, na descrição, explicação, compreensão com o objectivo de predizer o comportamento. Entre os vários métodos de avaliação os testes projectivos foram adquirindo a sua eficácia na Avaliação da Personalidade.
O Rorschach, nascido e desenvolvido nos modelos da psicopatologia e ao serviço do diagnóstico tornou-se um importante e poderoso instrumento na Avaliação Psicológica.
Os passos para a cotação da codificação das respostas situa-se na localização nos Modos de Apreensão, onde? Nos Determinantes, Como viu? Nos Conteúdos, O que viu? E as Banalidades, Com que frequência viu? Numa primeira fase dos três eixos Cognitivo, Socialização e Afectivo e numa segunda fase uma avaliação dos elementos qualitativos.
No Rorschach temos então as condições de Aplicação e a Cotação. As Condições de Aplicação são as instruções formais da prova, a recolha do protocolo pelas anotações, a prova complementar de escolhas, o inquérito e o inquérito aos limites.
A análise dos resultados foi realizado através do psicograma por comparação dos valores obtidos na cotação do protocolo e os valores normativos.
A Natália, com 22 anos, apresenta-se à consulta por diferentes mal estares, cefaleias e perturbações digestivas, vertigens e insónias). Diz que se sente nervosa e contraída sem razão aparente, diz ela. Leva uma vida bastante solitária e tem poucos amigos. É a filha mais velha de cinco irmãos e trabalha actualmente com o seu pai num escritório de advogados
No decurso do exame ela mantém uma atitude muito distante, mantém-se sentada longe da mesa sem deixar o seu saco e as suas luvas.
A discussão do protocolo foi definindo e elaborando um perfil que demonstra uma atitude defensiva e passiva que remete para a angústia de castração. Nas normas sociais procura comportar-se de forma normal e habitual com o fim de conseguir uma adaptação realista algo que parece apresentar falhas. Faz pouco recurso a criatividade e precisa de estar em controlo nas situações, para não se desorganizar em situações novas. Para tomar decisões surgem-lhe dúvidas, hesitações e prudência. Pode ser mais introspectiva, ligada às Artes ou que não parece o caso pois não surge sublimação pois inibe as pulsões, ou seja é passiva. Tem uma normal representação de si nas relações e empatia para compreender os outros. Demonstra algum conformismo as normas sociais. Quanto aos afectos aparece desligada apesar de querer sentir, ter predisposição para mas retrai. Ligado ao recalcamento e a angústia de castração, mantém distância.
Os elementos qualitativos remetem para os conflitos das dificuldades de identificação sexual e angústia de castração que lhe causam mal-estar, como uma luta entre os desejos e os interditos. Não perde no entanto a consciência de si. Tem uma imagem da figura parental de dominação e apresenta inibição as figuras parentais. As queixas somáticas, cefaleias e perturbações digestivas, vertigens e insónias, podem estar associadas ao confronto psíquico. Lembremos que a angústia da castração está na concepção de angústia em Freud onde a acumulação da tensão vai transformar-se em angústia pela não realização do afecto sexual não poder ser constituído “A angústia aparece como um substituto da representação que falta” . A perda do objecto parcial, o pénis, ou a ameaça está ligada a angústia da castração, ao fantasma da castração das diferenças anatómicas dos sexos. A presença ou a ausência do pénis, na sexualidade infantil, a criança considera o falo com parte essencial da representação que tem de si e a ameaça põe em perigo esta representação, é a perda ou separação do objecto. O que nos leva no caso das raparigas ao complexo de Édipo, em desejar o pénis paterno. A angústia da castração aparece como fundamento das organizações neuróticas.
A Natália é a mais velha de cinco irmãos, todos tem falo e como suposição algo poderá ter acontecido como uma turbulência na sua identificação, pela perda do objecto, no entanto desconhece-se a diferença de idades que pode haver e não colaborar esta castração. Também não é referido o que faz no escritório de advogados do pai, pode não ser advogada o que lhe pode aumentar a frustração da dominação do pai «Não estar a altura dele» no entanto acaba por se submeter e ir trabalhar com ele, a zanga com a mãe pode advir do papel que as raparigas mais velhas em determinadas culturas tem que desempenhar no tratar dos irmãos mais novos e da casa. A responsabilidade tirou-lhe tempo para brincar. E o Pai pode já não a “desejar” assim tanto.
É de notar a postura da Natália na consulta não largando o seu saco, «o que se esconde lá dentro?» «Qual é o peso desse “saco”?» e as luvas, que tapam, escondem, mas protegem, escondendo protege-se, pensa ela! Não os larga. Senta-se longe na mesa, distante e leva uma vida solitária com poucos amigos o que está de acordo com a avaliação do protocolo.
Os cartões Rorschach vão no conteúdo latente fornecendo e estabelecendo definições, introspecções e favorecendo a análise de a construção da imagem de si, na imagem do corpo e na identidade e o investimento da imagem de si, nas representações de relações solicitações fantasmáticas ligadas às imagens parentais, ao imago materno e as relações de objecto de amor e de ódio.
Quanto a imagem latente “cada cartão é susceptível de solicitar representações, fantasmas ou afectos... que preserva sempre a dialéctica própria de cada sujeito.” (Chabert, 1997). O estudo dos conteúdos latentes permite elaborar três determinantes: o aspecto perceptivo, as associações e as referências teóricas do clínico é a tríade material-sujeito-clínico. A sua análise pode ser elaborada pela representação de si e representação das relações.
A representação de si é evocada pelos cartões onde é solicitada uma problemática de identidade, pelos elementos fornecidos pela relação com a diferenciação entre o sujeito e o objecto e com a diferenciação sexual. As representações de relações pelo apelo que os cartões fazem ao registo conflitual e aos níveis de desenvolvimento libidinal (Chabert, 1997). O apelo ao corpo no teste de Rorschach está na construção simétrica dos cartões em torno de eixo médio e a sua semelhança com o esquema simétrico do corpo humano. Os cartões Rorschach vão no conteúdo latente fornecendo e estabelecendo definições, introspecções e favorecendo a análise de a construção da imagem de si, na imagem do corpo e na identidade e o investimento da imagem de si, nas representações de relações solicitações fantasmáticas ligadas às imagens parentais, ao imago materno e as relações de objecto de amor e de ódio. A interpretação é muito influenciada pelas posições teóricas.
Os passos para a cotação da codificação das respostas situa-se na localização que são os modos de apreensão, onde? Nos determinantes, Como viu? Nos conteúdos, O que viu? E as banalidades, Com que frequência viu?
A integração dos dados e apreciação do modo de funcionamento psíquico assenta na angústia e nos mecanismos de defesa. A concepção de angústia em Freud foi evoluindo e na sua origem encontramos uma acumulação de tensão física sexual. A acumulação da tensão vai-se transformar em angústia pela não realização do afecto sexual não poder ser constituído “A angústia aparece como um substituto da representação que falta” (Chabert, 1997). Enquanto as primeiras teorias tratavam da angústia com o corpo as segundas teorias trazem a relação da angústia com a libido recalcada. Distingue-se dois factores de angústia: perante um perigo e neurótica. No seu última período Freud afirma que não é o recalcamento que produz angústia mas ao contrário, e que é “a advertência, pelo Ego, de uma situação de perigo antiga, em função de uma exigência pulsional nova” (Chabert, 1997). Um estado de grande tensão provoca a angústia neurótica, sentida como desprazer, sendo impossível libertar pela descarga. A perda do objecto parcial, o pénis, ou a ameaça está ligada a angústia da castração, ao fantasma da castração das diferenças anatómicas dos sexos. A presença ou a ausência do pénis, na sexualidade infantil, pode levar ao narcisismo porque a criança considera o falo com parte essencial da representação que tem de si e a ameaça põe em perigo esta representação, é a perda ou separação do objecto. O que nos leva no caso das raparigas ao complexo de Édipo, em desejar o pénis paterno. Enquanto que a angústia traumática é uma manifestação do Id do qual o Ego não se consegue defender e aparecem estados de pânico, de impotência e de desespero. O ego para enviar ordens de acção defensiva ao Id, contra as pulsões que dele emanam dá a angústia sinal.
A angústia da castração aparece como fundamento das organizações neuróticas, no entanto há leituras bem diferentes que envolvem os mecanismos de defesa lábil, rígidos e fóbicos. No Rorschach os mecanismos de defesa são muito importantes na apreciação do funcionamento psíquico do sujeito, “Permite determinar a flexibilidade ou a rigidez da organização defensiva” (Chabert, 1997). São distinguidos quatro categorias principais de procedimentos de elaboração do discurso: rigidez, labilidade, inibição e processos primários. É desta forma que no Rorschach se faz uma interpretação dos mecanismos de defesa em termos psicopatológicos da neurose obsessiva, histeria, narcísismo, estados limites e psicoses.
METÓDO
Participante
A amostra é composta por um sujeito do sexo feminino de nome Natália com 22 anos de idade. É a filha mais velha de cinco irmãos. Trabalha actualmente com o seu pai num escritório de advogados.
Medida
A técnica utilizada foi o Rorschach. O seu material de aplicação é composto de 10 cartões com manchas de tinta que apresentam características precisas do ponto de vista perceptivo. As manchas são ambíguas quanto ao significado e simétricas. O teste é administrado individualmente cartão a cartão. E constituem uma interpretação sensorial a organizar como uma percepção pelas características dos mesmos e é a partir disso que surgem as respostas verbais que o sujeito dá ao ser convidado a dizer tudo sobre o que poderia ver nessas manchas. São tidas em conta as respostas verbais e não verbais e o tempo levado para cada resposta. As respostas são anotadas numa grelha e a cotação é manual.
Segundo Nina Rausch de Traubenberg, o termo «modo de apreensão» define a localização, o quadro perceptivo no qual se molda o conteúdo da resposta (Chabert, 1999). A análise dos cartões faz-se pelos modos de apreensão, esta abordagem dita «intelectual», classicamente é como o sujeito faz a sua lógica de raciocínio, da exploração das potencialidades criativas e a adaptação à realidade objectiva. Quanto à localização de modo simples global (G) ou nos detalhes (D, Dd, Dbl, Do) nos associados (G ou Dbl) e sincréticos ou elaborados (G, barrado) ou contaminado, confabulado, informulado e elaborado (D/G). Os Determinantes (F) formais, com boa forma (F+) ou má forma (F-) ou, ainda, com base na cor (CF/FC), as respostas com movimento também fazem parte dos determinantes as Cinestesias (K, Kan-Kob, Kp) e ainda a textura, Estompagem (FE, EF, E) e os determinantes claro escuro (Felob, FlobF, Clob). Quanto aos Conteúdos, categorias previstas a exemplo podem ser (A) animais inteiros, (Ad) animais parciais, (H) humanos inteiros, (Hd) humanos parciais, (Anat) Anatomia, (Nat) Natureza, (Pl) plantas, (obj) Objectos entre muitos. As Banalidades (Ban) são a frequência estatística da prova, que está de acordo com a frequência da população.
A nível interpretativo, Nina Rausch propõe três níveis a partir dos dados do psicograma e da normalização dos resultados. Eixo I – Análise da dinâmica cognitiva (G%; D%; Dd%; Dbl%; F%; F+%). Eixo II – Análise da Socialização (A%; H%, Ban; K; Kan) e o Eixo III – Análise da dinâmica afectiva (TRI; FC; RC%; IA). O TRI, tipo de ressonância interna, é a comparação do somatório das grandes cinestesias com a soma ponderada da cor (∑K: ∑C), se K for menor que C o mundo interno domina se o K for maior que C então domina o mundo externo. O (FC) forma complementar é nos dado pela formula (Kan+Kob+Kb) xK: ∑C e se existe coerência entre a forma complementar e a TRI então diz-se que a forma complementar confirma ou se vai na mesma direcção ou não. O RC% é nos dado pela formula do somatório do cartão VIII+IX+X a dividir por R e multiplicando por 100. O RC% vai-nos dar a reactividade do sujeito as cores pastel. O (IA) Índice de Angústia é nos dado pela formula IA = Hd+Sx+Sg+Anat a dividir por R vezes 100. O índice de angústia procura saber de que forma o sujeito conseguiu controlar ou não a emergência dos conteúdos parciais, manifestos.
Procedimento
Na aplicação o sujeito é instalado à esquerda e um pouco a frente do examinador, para facilitar a observação do comportamento. A pilha de dez pranchas é colocada, de costas para cima, encontrando-se em cima da mesa à vista e o examinador apresenta ao sujeito as pranchas por ordem, uma a uma, em posição vertical. A aplicação da prova é constituída por três fases que consistem na aplicação espontânea, o inquérito e a prova das escolhas. Ao dar a instrução, que pode ser, «O que é que isto poderia ser?» põem o cronómetro a funcionar. A instruções estimula o sujeito a verbalizar a representação para si daquilo que interpreta das manchas tentando dar-lhe significado. O sujeito recebe a prancha em mão e pode olhar todo o tempo que quiser. No protocolo são registadas as exclamações, comentários, respostas, hesitações, mudanças de posição da prancha e a primeira resposta a notável com o maior rigor possível. Deve-se também anotar a duração de administração de cada prancha.
No Rorschach temos então as condições de Aplicação e a Cotação. As Condições de Aplicação são as instruções formais da prova, a recolha do protocolo pelas anotações, a prova complementar de escolhas, o inquérito e o inquérito aos limites. Quanto a Cotação deu-se fazer uma leitura despreocupada do protocolo, anotar as impressões mais salientes, como a tonalidade emocional, verbalização e atitudes, de seguida codifica-se as respostas quanto a Localização (Modos de Apreensão), os Determinantes, Os Conteúdos e as banalidades. Depois o Psicograma, a análise Qualitativa e a síntese clínica.
Na análise Qualitativa que é a análise dos traços mais salientes do psicograma faz-se pela área de funcionamento intelectual, da socialização e da dinâmica afectiva.
Para avaliar a cotação foram utilizados os valores normativos da escola Francesa e quanto à significação simbólica para a análise são exemplificados e apresentados em anexo III e IV, apenas dois modelos, de forma resumida e citados em Chabert: o de Didier Anzieu (1965) e o de Nina Rausch de Traubenberg (1970/90):
RESULTADOS
A Tabela de Cotação com resultados está no anexo II. O total de resposta foram 24, (valor normativo entre 20 e 30). Recusa = 0. O tempo Total da prova foi de 11minutos (mn) e 10segundos (s), (valor normativo 20 a 30 mn. Tempo de resposta = 67s (valor normativo 33s). Tempo de Latência Médio = 111s (valor normativo cartão a cartão).
Nos Modos de Apreensão; G% = 62.5%↑ (valor normativo 20% a 30%); Determinantes D% = 33,3%↓ (valor normativo 70% a 80%); Dd = 4,1% (valor normativo 3% a 10%). Nos Determinantes Formais; ∑F=14; F+ = 9; F – = 2 e F+ – = 3; F% = 58,3% (50% a 70%); F+% = 75% ↓(80% a 90%); F%a = 66,6% e F+%a = 52%. Quanto aos Determinantes Cinestésicos 1K = 1Kan (K˃Kan de 1 a 3 K). Determinantes cor 0FC ˂0C+3CF (FC˃C+CF entre 3FC/1CF/0C e ∑C=2 ou 3). Conteúdos Animais A=5, Ad=2; A%=29,1% ↓ (35% a 40%). Conteúdos Humanos H=3, Hd=0; H%=12,5% (10% a 20%). Outros conteúdos Anat=1; Nat=5; Dec=2, Pl=1. Tipo de Ressonância Íntima (TRI) 1K:3C (FC e FC’ – 0,5 Extra tensiva mista). Formula Complementar (FC) 3K:4E (FE-0,5, EF-1,E-1,5). Reactividade a cor RC% ↑=41,6% (30% e 40%). Banalidades Ban=5 (5 a 6). Índice de Angústia – IA=4,1% ↓ (12% a 15%). Quanto aos elementos Qualitativos: Choque – Cartão VI; Equivalente a Choque – Cartão IV; Perseveração – Cartão V; Comentário à cor do cartão – Cartão VIII; Comentário à simetria VIII; Crítica do Objecto – Cartão X e Comentário subjectivo – Cartão III.
Na Prova de Escolhas a Natália escolheu o cartão VIII como o que mais lhe agradou e o que menos lhe agradou foi o cartão II.
DISCUSSÃO
A análise dos resultados foi realizado através do psicograma por comparação dos valores obtidos na cotação do protocolo e os valores normativos numa primeira fase dos três eixos cognitivo, socialização e afectivo e numa segunda fase uma avaliação dos elementos qualitativos.
O número de respostas dadas pela Natália que os valores estão dentro da norma, apesar do tempo total ser baixo. Os modos de apreensão aparecem associados aos factores implicados no funcionamento cognitivo.
No Eixo da Análise da dinâmica cognitiva. A Natália nas respostas em G situa-se acima da média o que pode revelar uma atitude defensiva que consiste em não se aplicar numa procura mais aprofundada ou mais pessoal, há ausência de curiosidade face ao objecto externo. É um tipo de mobilização defensiva que pode remeter para o recalcamento. Associado também a uma atitude passiva. Os D’s na sua interpretação estão associados a adaptação e socialização e estando afastada das normas é demonstrativo da qualidade da participação num modo de pensamento colectivo. Os seus valores estão muito abaixo dos valores normativos. Nos Determinantes Formais apresenta valores dentro da norma o que pode indicar um modo de funcionamento habitual, normal e necessário apreendendo a realidade no seu contorno formal num movimento de adaptação realista. Possui uma obediência de base à instrução, molda-se. Os F% aparecem dentro da normalidade e os F+% abaixo o que se pode traduzir por falhas de inserção socializante no real, como o F%a é inferior ao F+%, a Natália pode evidenciar dificuldades em funcionar fora do seu controlo para além da percepção pura. Então as a sua adaptação faz-se pelo real puro, com controlo da situação, apelo a segurança, com pouco recurso a criatividade, podendo recusar ou desorganizar-se perante situações novas. No entanto baixos F –, a Natália deu dois, podem indicar alguma flexibilidade e permeabilidade no arranjo do funcionamento mental. As respostas F+-, podem assinalar um pensamento vago que não encontra os seus limites e os mecanismos de dúvida, hesitações e da prudência face à tomada de decisão.
No Eixo da Socialização temos os conteúdos a sua análise refere-se aos conceitos de representação de palavras e de coisas. Os conteúdos Animais, revelaram um resultado abaixo da norma o que constitui dificuldades de integração adaptativa e socializante, no entanto o valor está muito perto na norma mínima. Este A% baixo também pode se traduzir pelo interesse pelas artes, cultura, literatura. Lembremos também pode para Freud as Artes estavam associadas a Sublimação. Os conteúdos Humanos que se referem a aptidão do sujeito para reconhecer a sua identidade subjectiva. Os valores estão dentro da norma e a Natália pode apresentar índices de se representar a si própria num sistema de relações e que consegue distinguir semelhanças e diferenças em relação aos outros. As banalidades encontram-se dentro dos valores normativos o que vai de acordo com o conformismo as normas sociais.
No Eixo Afectivo, os determinantes sensoriais, o afecto é um representante psíquico da pulsão, expresso pelo prazer-desprazer e alegria-tristeza. As respostas aparecem no determinante cor (CF) e no esbatimento EF. A Natália pode ser considerada uma pessoa que se submete passivamente mas que tem alguma sensibilidade a realidade externa. Os esbatimentos ligam-se ao toque e remetem para a primeira infância, às carícias maternas. Nos Determinantes Cinestésicos o elemento formal diz respeito a uma conduta ligada ao conhecimento de uma imagem que deve responder às exigências da adequação perceptiva. Quanto ao Tipo de Ressonância íntima (TRI), pelo resultado obtido a Natália pode se considerar Extra tensiva mista. Há uma Reactividade a Cor (RC) acima da norma. A Forma Complementar não confirma e não vai na mesma direcção da TRI. O índice de Angústia procura saber se o sujeito controla ou não a emergência dos conteúdos. Na Natália o Índice de Angústia (IA) é mais baixo que os valores normativos. O que leva a interpretação de uma luta psíquica entre o Ego e o Id, entre o princípio da realidade e o princípio do prazer. A angústia é reforço dos mecanismos de defesa, tanto que pode estar ligada a angústia da castração.
Os elementos Qualitativos permitem analisar uma dinâmica, colocar o sujeito em situação, ligar pontos e estabelecer pontes para um diagnóstico que ajude a elaborar a intervenção na problemática, ou seja melhor conhecer o sujeito permite de certeza uma abordagem mais efectiva. O cartão VI foi o escolhido enquanto ao Choque e reenvia para ao problema sexual e da angústia da castração. O Equivalente ao Choque no cartão IV, a autoridade que pode ser a imagem da figura paterna, dominação ou submissão «Isto diríamos um monstro» pode ser a castração, a moral, os olhos que estão sempre a vigiar. A Perserveração é feita no cartão V, ligado a representação de si e corresponde a integridade psíquica e somática. Parece haver um confronto entre o externo e o interno, entre o que quer e o que está por detrás. De novo a relação da realidade e prazer. Quanto ao Comentário à Cor, o cartão VIII é significativo a nível do que foi dito na preservação. Tudo está em dinâmica, há um conflito é divergente pois foi também o cartão escolhido para o comentário à simetria. Na Crítica Objectiva surge o cartão X a ruptura com a situação sentida com alívio ou ferida, tipo «Não se fala mais nisso». O cartão III foi ligado ao Comentário Subjectivo e remete para a representação do casal parental “personagens habituais” e ainda o «Não sei» e «é tudo» aparentam uma inibição sobre as figuras parentais.
Quanto a Prova de escolhas a Natália escolheu o cartão VIII, que reenvia para o mundo exterior que é onde a Natália se sente melhor por oposição ao seu self, pois escolheu o cartão II onde a problemática da castração é constante, como o que menos gosta, pois provoca mal-estar e envia para a sexualidade ou para uma problemática pré-genital ou a sua relação com a mãe.
CONCLUSÃO
O estudo da personalidade desenvolveu métodos e abordagens no interesse da ciência, da humanidade e do sujeito. As abordagens qualitativas aparecem mais associadas a estudo de caso, na descrição, explicação, compreensão com o objectivo de predizer o comportamento. Entre os vários métodos de avaliação os testes projectivos foram adquirindo a sua eficácia na Avaliação da Personalidade.
O Rorschach, nascido e desenvolvido nos modelos da psicopatologia e ao serviço do diagnóstico tornou-se um importante e poderoso instrumento na Avaliação Psicológica.
Os passos para a cotação da codificação das respostas situa-se na localização nos Modos de Apreensão, onde? Nos Determinantes, Como viu? Nos Conteúdos, O que viu? E as Banalidades, Com que frequência viu? Numa primeira fase dos três eixos Cognitivo, Socialização e Afectivo e numa segunda fase uma avaliação dos elementos qualitativos.
No Rorschach temos então as condições de Aplicação e a Cotação. As Condições de Aplicação são as instruções formais da prova, a recolha do protocolo pelas anotações, a prova complementar de escolhas, o inquérito e o inquérito aos limites.
A análise dos resultados foi realizado através do psicograma por comparação dos valores obtidos na cotação do protocolo e os valores normativos.
A Natália, com 22 anos, apresenta-se à consulta por diferentes mal estares, cefaleias e perturbações digestivas, vertigens e insónias). Diz que se sente nervosa e contraída sem razão aparente, diz ela. Leva uma vida bastante solitária e tem poucos amigos. É a filha mais velha de cinco irmãos e trabalha actualmente com o seu pai num escritório de advogados
No decurso do exame ela mantém uma atitude muito distante, mantém-se sentada longe da mesa sem deixar o seu saco e as suas luvas.
A discussão do protocolo foi definindo e elaborando um perfil que demonstra uma atitude defensiva e passiva que remete para a angústia de castração. Nas normas sociais procura comportar-se de forma normal e habitual com o fim de conseguir uma adaptação realista algo que parece apresentar falhas. Faz pouco recurso a criatividade e precisa de estar em controlo nas situações, para não se desorganizar em situações novas. Para tomar decisões surgem-lhe dúvidas, hesitações e prudência. Pode ser mais introspectiva, ligada às Artes ou que não parece o caso pois não surge sublimação pois inibe as pulsões, ou seja é passiva. Tem uma normal representação de si nas relações e empatia para compreender os outros. Demonstra algum conformismo as normas sociais. Quanto aos afectos aparece desligada apesar de querer sentir, ter predisposição para mas retrai. Ligado ao recalcamento e a angústia de castração, mantém distância.
Os elementos qualitativos remetem para os conflitos das dificuldades de identificação sexual e angústia de castração que lhe causam mal-estar, como uma luta entre os desejos e os interditos. Não perde no entanto a consciência de si. Tem uma imagem da figura parental de dominação e apresenta inibição as figuras parentais. As queixas somáticas, cefaleias e perturbações digestivas, vertigens e insónias, podem estar associadas ao confronto psíquico. Lembremos que a angústia da castração está na concepção de angústia em Freud onde a acumulação da tensão vai transformar-se em angústia pela não realização do afecto sexual não poder ser constituído “A angústia aparece como um substituto da representação que falta” . A perda do objecto parcial, o pénis, ou a ameaça está ligada a angústia da castração, ao fantasma da castração das diferenças anatómicas dos sexos. A presença ou a ausência do pénis, na sexualidade infantil, a criança considera o falo com parte essencial da representação que tem de si e a ameaça põe em perigo esta representação, é a perda ou separação do objecto. O que nos leva no caso das raparigas ao complexo de Édipo, em desejar o pénis paterno. A angústia da castração aparece como fundamento das organizações neuróticas.
A Natália é a mais velha de cinco irmãos, todos tem falo e como suposição algo poderá ter acontecido como uma turbulência na sua identificação, pela perda do objecto, no entanto desconhece-se a diferença de idades que pode haver e não colaborar esta castração. Também não é referido o que faz no escritório de advogados do pai, pode não ser advogada o que lhe pode aumentar a frustração da dominação do pai «Não estar a altura dele» no entanto acaba por se submeter e ir trabalhar com ele, a zanga com a mãe pode advir do papel que as raparigas mais velhas em determinadas culturas tem que desempenhar no tratar dos irmãos mais novos e da casa. A responsabilidade tirou-lhe tempo para brincar. E o Pai pode já não a “desejar” assim tanto.
É de notar a postura da Natália na consulta não largando o seu saco, «o que se esconde lá dentro?» «Qual é o peso desse “saco”?» e as luvas, que tapam, escondem, mas protegem, escondendo protege-se, pensa ela! Não os larga. Senta-se longe na mesa, distante e leva uma vida solitária com poucos amigos o que está de acordo com a avaliação do protocolo.
Os cartões Rorschach vão no conteúdo latente fornecendo e estabelecendo definições, introspecções e favorecendo a análise de a construção da imagem de si, na imagem do corpo e na identidade e o investimento da imagem de si, nas representações de relações solicitações fantasmáticas ligadas às imagens parentais, ao imago materno e as relações de objecto de amor e de ódio.
Álvaro Augusto dos Santos Carvalho, 2009.