«O que leva as pessoas a fazerem o que os outros fazem?»

Influência Social
Resumo

A Psicologia Social é o estudo sistemático da natureza e das causas do comportamento humano (Gleitman, 2007). Que tem várias teorias que a fundamentam e caracterizam. Ao fenómeno denominado pelos psicologos de Influência Social têm-se como o processo pelo qual as pessoas modificam, afectam os pensamentos, os sentimentos, as emoções e os comportamentos de outras pessoas. Procura-se neste trabalho responder a pergunta «O que leva as pessoas a fazerem o que os outros fazem?», e, que se, o fazem isso pode ter influência na tomada de decisões de um grupo. E, assim procurar descrever os principais mecanismos que mostram a força das pressões da influência social, suas bases, as suas formas e as consequências da influência social.

Palavras-Chaves: Conformismo, Grupo; Normas; Obediência; Submissão.


Introdução

A psicologia social é uma ciência que estuda os efeitos dos processos sociais e cognitivos no modo como os indivíduos percebem, influenciam e se relacionam com os outros, “Assim, do ponto de vista formal, podemos dizer que apsicologia social é o estudo científico do modo como as pessoas pensam acerca, influenciam e se relacionam com outras.” (Myers, 1988). A Psicologia Social está em interacção com outras ciências, das quais se salienta a Sociologia e a Psicologia. As cinco perspectivas teóricas, segundo Michener, 2005, procuram oferecer explicações a um vasto tipo de comportamento social; a teoria dos papéis, do reforço, cognitiva, da interacção simbólica e a teoria da evolução. No caso da teoria dos papéis baseia-se na permissa de que as pessoas adaptam-se as normas definidas pelas expectativas alheias, A teoria do reforço assume que o comportamento que o comportamento social é goverando por acontecimentos externos onde há punição e reforço; A teoria Cognitiva afirma que processos, como percepção, memória e julgamento, são determinantes importantes do comportamento social e explica as mudanças nas atitudes e nas crenças, as mudanças de cognição ajudam a perceber porque os individuos podem alterar o seu comportamento; A teoria da interacção simbólica assenta que a natureza humana e a ordem social são produtos da comunicação entre pessoas e a teoria da evolução afirma que o comportamento social é produto da adaptação evolutiva e que as tendências comportamentais que os seres humanos manifestam são evolutivas para factores de sobrevivência e de reprodução. “ a teoria dos papéis diz que o papel de uma pessoa determina não apenas o seu comportamento, mas também suas crenças e atitudes” (Myers, 2005). As mudanças de papéis podem então conduzir a uma mudança de atitude e podem também vir a influenciar os valores das pessoas e dos grupos. Os grupos são fundamentais por váriadas razões, por necessidade de pertença. O termo grupo é usado para se referir a uma unidade social que consiste em duas ou mais pessoas e que possuem determinados atributos a saber “filiação, interacção entre integrantes, objectivos compartilhados e normas mantidas pelos grupos” (Myers, 2005). A coesão de grupo é um factor determinante para o funcionamento de um grupo. Os grupos que conseguem atingir os seus objectivos têm normalmente uma coesão de tarefa maior que os que falham. A maioria dos grupos cria uma série de normas que regula as actividades dos elementos que integram o grupo, as normas tem várias funções “elas incentivam a coordenação entre integrantes para a realização dos objectivos do grupo e reflectem o sistema de valores desse mesmo grupo” (Myers, 2005).No entanto a história é fertíl em erros de tomada de decisão, algo ao que parece ser influênciado pelo pensamento grupal que pode levar a situações de conformismo. Num grupo a influência toma muitas direcções, os psicologos sociais usam o termo influência da maioria para se referirem a processos nos quais uma maioria pressiona um partecipante a aceitar ou adaptar uma posição pré-determinada. Vários experimentos clássicos realizados por Asch (1951, 1955, !957; cit in Myers, 2005) ilustram o impacto da maioria sobre cada integrante do grupo. Pensa-se em termos de influência social como sendo o que ocorre quando “o comportamento de uma pessoa faz com que outra [pessoa] mude de opinião ou execute uma ação que, de outro modo, não executaria” ( Gleitman, 2007). Ceder ao conformismo é um tipo de pensamento no qual os membros do grupo partilham uma motivação tão forte para chegar ao consenso ao que
aliar a situação de pontos de vista alternativos. As consequências do fenómeno pensamento grupal tem várias consequências e geralmente sempre negativas. O grupo pode ignorar completamente informações que desafiem o consenso, realiza-se assim por acção do grupo, onde a posição do lider é decisiva um pensamento convergente.

Na influência social deve haver uma fonte, de onde parte a influência, e um alvo, que será submetido a influência proveniente da fonte. Tanto a fonte quanto o alvo podem ser um indivíduo ou um grupo de indivíduos. Para que a fonte seja bem sucedida ela deve ser digna de crédito. Para tanto ela deve possuir experiência ou se semelhança com o alvo; sendo que estar acima de qualquer suspeita, ser agradável e atraente também são fatores importantes. “Uma fonte com altas credenciais é a maneira mais eficaz de se alcançar o crédito do alvo” (Davidoff, 2006). Para que a mudança de atitude seja caracterizada, o alvo deverá apresentar uma mudança nas suas crenças e nas suas atitudes em relação a algum assunto, pessoa ou situação. Embora seja um efeito comum da influência social, existem situações onde a fonte busca apenas a adesão do alvo para um determinado objetivo. A adesão ocorre quando o alvo entra em conformidade com os pedidos ou exigências da fonte neste caso teona-se necessário haver dissonância cognitiva. Muitos papéis de grupo fixaram-se através de um certo grau de conformismo.
Os processos de influência social, que causaram maior impacto na história da psicologia social são designados por conformismo, normalização, obediência à autoridade e inovação (cit. in Feldman, 2005).

Desenvolvimento

O fenómeno da influência social mostra o domínio que o social exerce sobre o indivíduo e as modificações que isso implica ao nível do comportamento. Pode-se, assim, dizer que o termo influência social “engloba tudo o que produz mudança na conduta em virtude de uma relaão dinâmica entre as pressões dominantes num dado contexto a a adaptação dos indivíduos” (Myers, 2005). Por vezes o grupo exerce uma pressão sobre aqueles que não desempenham os seus papéis de acordo com a expectativa. Estudos demonstram e concluiem que os indivíduos que tinham relações positivas entre si tinham tendência para modelar os seus comportamentos uns pelos outros pois procuravam assemelharem-se. O contágio social define a tendência para imitar um modelo dominante de comportamento que passa de uma pessoa para a outra. A noção de comparação social esclarece, segundo Festinger, outro aspecto da influência. Segundo este investigador, as pessoas nem sempre estão seguras das suas opiniões, nem das suas acções, então sentem-se inclinadas para procurar junto de outras se as suas opiniões são aceites pelo grupo onde se inserem. Assim, criam um juízo sobre os seus próprios comportamentos e opiniões validando-os através da comparação com os dos outros. E procuram harmonizar-se com a maioria, por comparação social e ajustam-se às normas vigentes que fazem funcionar o grupo. “Normalizar os comportamentos e o social em geral é um outro processo fundamental da influência”(Myers, 2005) . Uma norma pode ser definida como um tipo de pressão cognitiva e psico-social que se refere a valores em vigor e a partilha de opinões numa sociedade. O efeito de uma norma é de encontrar uma uniformidade. Sem elas a nossa vida seria um caos. Um dos estudos mais famosos que dizem respeito a normalização foram realizados por Sheriff (1936). A questão era de saber o que faria um indivíduo colocado numa situação ambígua a que modos habituais de comportamento não se adaptam. Será que o indivíduo estabeleceria um ponto de referência que lhe fosse próprio. “A fim de criar esta situação ambígua, Sheriif recorreu a uma experiência de ilusão de óptica cahamada de «efeito autocinético»: apresentando na obscuridade, a uma certa distância, um ponto luminoso fixo dá a impressão de se mover, pelo facto de não haver qualquer ponto de referência em relação ao qual possa ser situado.” (Myers, 2005). De acordo com esta experiência Sherrif, constata que as estimativas convergem no sentido de uma média das estimativas feitas individualmente; a esse valor médio comum Sheriif chamou-lhe uma norma. As normas tem funções de redução da ambíguidade no caso de não ser possível fornecer uma resposta exacta cria-se uma insegurança que advém da situação e procura-se restabelecer um equilibrio apartir de uma norma que ajuda a reduzir a inquetação, a incerteza dá-se uma resposta aproximativa. “Assim, uma das funções das normas é a de consolidar as posições dos indivíduos por meio de um sistema que lhes dê segurança” (Myers, 2005). Uma outra função da norma é a evitação do conflito (Moscovici, 1972) “o surgimento de uma norma de grupo resulta justamente da aceitação e interiorização pelos sujeitos de estimativas convergentes, a fim de se evitar o conflito”. A normalização opera-se como um processo de negociação, os indivíduos apoiam-se nas regras que regem os comportamentos e levam-nos em conta para estarem socialmente adaptados. O processo de normalização é um processo no qual a influência do grupo é implícita, não há portanto pressões do grupo sobre o individuo alvo, também não são consideradas nem boas nem más respostas, todas elas são incertas, e não existem normas previamente formadas antes da experiência. Concluiu então que a norma colectiva não é necessariamente a posição media do grupo, resulta dos processos de interacções de cada grupo, a norma estabelecia tende a manter-se no tempo.

Entre as formas de influência social destaca-se o conformismo que pode ser defenido como “a modificação de crenças ou de comportamentos pelos quais um indivíduo responde a diversos tipos de pressões de grupo, procurando colocar-se em acordo com as normas ambientais através da adopção de comportamentos socialmente aprovados” (cit. in Myers, 2005). Ou seja, é uma forma de influência social que resulta do facto de uma pessoa mudar o seu comportamento ou as suas atitudes por efeito da pressão do grupo. É uma forma de interacção, um processo de influência inerente ao funcionamento dos grupos que, para se manterem, têm de se reger por normas que devem ser aceites pelos seus membros. O conformismo é um dos processos de influência social, que tem uma expressão implícita e que pressupõe sempre uma norma gerada em grupo. Diz respeito ao sujeito ou grupo se submeter e aceitar a norma do outro sujeito ou grupo. Neste processo, a minoria vai submeter-se a norma proveniente da maioria. A experiência mais famosa e histórica deste processo é de Asch (1951). Procurou estudar a independência dos juízos de um indivíduo face às pressões sociais a partir de uma experiência sobre percepção visual, (Myers, 2005). “A experiência consistia em apresentar ao sujeito uma folha na qual se encontrava uma linha negra de um dado comprimento, pedindo-lhe que comparrasse essa linha com outras três desenhadas numa folha, e que designasse, dessas três, qual a que tinha o mesmo comprimento que a da primeira folha. Asch tinha criado nesta experiência uma situação de pressão social através da presença de cúmplices: todos os membros do grupo, com excepção de um único, eram coniventes com o experimentador e tinham instruções secretas escolherem uma resposta falsa. A questão era saber o que faria o sujeito inocente: seguiria a sua percepção ou aderiria ao grupo? O sujeito estava pressionado por duas forças contrárias: a sua própria percepção de um fenómeno sem ambiguidade e a unanimidade das respostas dos outros. Os resultados demonstraram que um quarto conforma-se ao grupo em vez de exprimir a sua própria percepção a partir do seu juízo pessoal” (cit. in Myers,2005). Outros investigadores procuraram responder a questão porque se conformam as pessoas? E foram encontradas duas orientações essenciais, num um ponto de vista individual que estabelece que um indivíduo conformista não o é de uma maneira absoluta e as perspectivas teoricas sobre traços da personalidade não se mostraram conclusivas; e por outro lado num ponto de vista do grupo, que concluie que “os indivíduos servem-se das informações e das crenças provenientes de um grupo para determinarem as suas próprias atitudes (Ascg, 1952; Deutsch e Gérard, 1955; cit. in Myers, 2005). Parece que o grupo possuie poder para forçar o indivíduo a conformar-se as normas e que esse poder é definido como pressão social, visto o indivíduo ter medo de ser rejeitado pelo grupo. E parece que assim é os grupos rejeitam os desviantes. O indivíduo possuidor de livre arbitrio pode sempre escolher aceitar a pressão de grupo adoptando as ideias do grupo ou sofrer essa pressão mantendo suas convicções. Existem diversos factores que influenciam o conformismo: Unanimidade do grupo; o conformismo é maior nos grupos em que há unanimidade; Natureza da resposta, o conformismo aumenta quando a resposta é dada publicamente; Ambiguidade da situação, a pressão do grupo aumenta quando não estamos certos do que é correcto; Importância do grupo, quanto mais atractivo for o grupo para a pessoa, maior é a probabilidade de ela se conformar; Auto-estima, as pessoas com um nível mais elevado de auto-estima são mais independentes do que as que têm uma auto-estima mais baixa. Torna-se mais fácil ceder ao conformismo quando a motivação de um grupo para chegar ao consenso é tão forte que os elementos que o constituem perdem a capacidade crítica. Estudos posteriores demonstram que o conformismo diminui aquando as respostas dos sujeitos experimentais não são conhecidas da maioria e aumenta quando são conhecidas. E, por outro lado, quando os sujeitos têm uma concepção de pertença face ao grupo em que estão inseridos, o grau de respostas conformistas também aumentam.

Ao contrario dos anteriores, este processo pressupõem um poder explícito de influência nos sujeitos alvo. Os resultados dos diversos experimentos realizados por Milgram e pelos experimentos de confirmação que se seguiram foram de que “as pessoas têm a tendência de obedecer à autoridade quando esta é tida como legítima, mesmo podendo ser um engodo, como no caso do experimento, ou quando são apoiadas por uma força potencial” (Gleitmam, 2007). Enquanto que a obediência é o resultado mais comum, a rebeldia não é inexistente, porém é mais rara. Milgram soube descrever bem os elementos que aumentam a adesão às ordens da autoridade, tais como símbolos de autoridade e ordens claras e diretas, além da dissolução da responsabilidade, em geral em concordância com a teoria da conformidade proposta por Solomon Ash na década de 1950. É evidente, nesta experiência o estado agêncico, ou seja, o “professor” considera-se um agente que executa os desejos de outrem; rotinização, na medida em que o comportamento é transformado em acções rotineiras; desumanização, uma vez que as vitimas são privadas da sua individualidade sendo mais fácil agir com elas; e os sujeitos evitam pensar nas implicações do que estão a fazer. Toda a nossa vida social está baseada na obediência a ordens. Desde o início da nossa vida social que somos avaliados pela nossa capacidade de obedecer a ordens. A obediência desvaloriza a nossa responsabilidade perante as acções que realizamos sob as ordens de uma autoridade, passando a responsabilidade a essa autoridade. A obediência é influenciada por diversos factores (Myers, 2005): Proximidade com a figura de autoridade; quanto mais próxima estiver a figura de autoridade, maior a obediência, pois as pessoas sentem-se mais intimidadas e tendem a obedecer mais; Legitimidade da figura de autoridade, quanto mais reconhecida for a autoridade, maior a obediência. Quanto maior for o estatuto de quem dá as ordens, maior o nível de obediência; Proximidade com a vítima, quanto mais próximo da vítima estiver quem inflige um castigo, menor será o nível de obediência, que decresce drasticamente no caso de contacto físico; Pressão do grupo, o efeito de grupo tende a anular o efeito de autoridade.

A Inovação de Moscovici, (Myers, 2005), é quando o processo de influência social é promovido por uma minoria que visa as mudanças das normas e das regras sociais de um determinado grupo. Não visa o desrespeito pelas normas sociais vigentes, mas a proposta de normas alternativa. “Este processo de influencia social, ao contrário dos anteriores, advém de uma influência e pressão social de uma minoria” (Myers, 2005). Acontece quando um grupo minoritário consegue alterar os pontos de vista ou normas maioritários, não necessitando propriamente de serem providas de poder perante as maiorias. Estudos realizados demonstram que uma minoria consistente, sem demonstrar uma imagem de rigidez, pode ter maiores efeitos nos julgamentos públicos da maioria; os efeitos só são visíveis após um determinado período de tempo; e um estilo mais flexível pode ser bastante eficaz desde que a minoria deixe transparecer um esquema nas suas posições. Os processos de influência social de normalização, conformismo e obediência a autoridade acabam por demonstrar que o indivíduo se pode ver esvaziado do sentido para se restabelecer num processo, “homeotatico”, de equilibrio para a sua necessidade de pertença a um grupo, para poder continuar a agir. Sendo que o estabelecimento de normas que fortalece a relação do indivíduo com a sociedade leva a situações de conformismo.

Conclusão

Parece poder ser explicado «O que leva as pessoas a fazerem o que os outros fazem?», e, que se, o fazem isso pode ter influência na tomada de decisões de um grupo. A influência social tem a palavra e descreve a interacção destes processos. Pelas experiências os investigadores conseguiram, manipulando variaveis, obter dados significativos quando a influência social na mudança de opinião. O que pode levar pela pressão de grupo a tomadas de decisões, em consenso, que em nada podem ter a ver com a realidade, mas acredita-se, talvez como “Num ensaio sobre a cegueira” de Saramago, que mais vale conformamo-nos para pertencermos. A Influência Social ocorre quando o comportamento de uma pessoa faz com que outra mude de opinão ou execute uma acção que de outro modo não executaria. É um processo pelo qual as pessoas modificam, afectam os pensamentos, os sentimentos, as emoções e os comportamentos de outras pessoas. Decorre da própria interacção social, não tendo de ser intencional ou deliberado. A normalização é o estabelecimento de normas sociais com base na influência recíproca dos membros de um grupo de indivíduos hesitantes quanto aos novos modos convenientes de pensar e agir. O conformismo é um dos processos de influência social, que tem uma expressão implícita e que pressupõe sempre uma norma gerada em grupo. Diz respeito ao sujeito ou grupo se submeter e aceitar a norma do outro sujeito ou grupo. Neste processo, a minoria vai submeter-se a norma proveniente da maioria. Milgram descreveu-nos os processos de obediência a autoridade e compreende-se os seus efeitos na história. Convergimos para uma média para nos podermos adaptar. As necessidades são maiores que as causas. A inovação torna-se fundamento da evolução, faz a diferença e estabelece nova norma. O indivíduo e a Sociedade em dialéctica.
Alvaro Carvalho e Gualdino Sacramento, 2008.

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