segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

"lá mora um povo que não se governa e nem se deixa governar" -Alma Lusitana

 O indivíduo é um principio ainda muito recente, muito jovem na história dos povos. O que pervalece feito por individuos é o conceito de sociedade, ou direi antes de sociedades que orientam o individuo na sociedade. Tudo causas Maiores. Alguém sabe o que se passa na Bélgica, onde parece que não há governo a algum tempo e tudo funciona. Parte-se do principio da responsabilidade, da consciência.
Vou vos falar daquilo que chamo do acto de fé. No outro dia num supermercado daqueles com parque de estacionamento e toldos, simpaticos e que até fazem campanhas "deixe aqui os seus trocos pela causa" - Quer arredondar? Com que direito se faz esta pergunta, que beneficios tem estas empresas nestas campanhas e, se sim, isso é revertido a favor dos clientes os que pagam toda a estrutura, que resultados foram apurados nessas campanhas e como foram encaminhados. Não é como no futebol onde pode haver beneficios mas sabemos sempre o resultado final. E, ainda, há coisas que me fazem muita confusão como se pode questionar que as crianças participem em manifestações em nome das suas escolas mas se autorize nas campanhas de solidariedade com peditórios as portas de supermercados o seu uso, de crianças, "ajude um probezinho". Se alguém lá for pedir um pão será que lhe dão? se alguém for pedir uns trocos não é enchutado? Mendigos a porta, não obrigado.
Bem, voltemos aquilo que me aconteceu, estava eu a entrar no meu carro para me vir embora quando um carro pequeno fez uma razia a um que estava estacionado e reparei que estavam duas senhoras de idade já avançada lá dentro, claro uma conduzia e a outra fazia companhia. E, PUUMBA e Zatrapuz, não é que bateram mesmo num que estava estacionado e com uma força, foi cá uma porrada. Tirou mal as medidas, coitada ou então está medicada, coisa que percebi logo que ia acontecer, chama-se predizer o comportamento algo que aprendi com muito estudo. As senhoras sairam do carro depois de estacionarem ao lado e uma delas, não me perguntem qual, com muita calma, olhou primeiro para a parte da frente do seu carro, coisa de individuo e depois foi calmamente até ao outro, coisa de sociedade. Calma e descontração que me pareceu coisa que devia estar relacionado com a grande experiência de vida destas senhoras. Um senhor também se aproximou, ele viu tudo tal como eu, mas eu, eu fiquei dentro do carro, não me viram. A senhora olhou para a traseira do carro onde tinha batido e com um gesto puxou a manga do casaco e esfregou o local da batida, como se de um ritual mágico se trata-se dos seus altos poderes de auto-cura e de bate-chapa. E fazendo um gesto com a cabeça disse que não era nada, enquanto olhava a sua volta para ver se alguém tinha visto. Eu abri de certeza a boca de espanto e deve-me ter saído um olhar daqueles tipo, não estou a acreditar. O senhor, o que tinha visto tudo, mais preocupado com a senhora porque ela já era de idade mostrou-se solidario com tanto azar e ela astuta deu-lhe logo o braço, apoiou-se nele, a outra mais afastada, fazia como se aquilo tudo não fosse nada com ela, com uma atitude de uma serenidade estonteante de quem deve ter anos de experiência de vida, a senhora tinha rugas e muitas. As senhoras começam a caminhar para se afastarem do carro e ouço a velhota, já mudei o termo, dizer ao senhor:
- Não diga nada, aquilo não foi nada.
- Eu. não vi nada. disse ele, numa forma de ajuda e compreensão que lhe deve valer um lugar no paraíso por ter ajudado duas velhotas em sufoco.
Saí do carro e chamei as senhoras:
- Olhe! a senhora não se vai embora! Acabou de bater naquele carro, eu vi, sou testemunha e vai chamar o proprietário para lhe dar conhecimento-  A velhota disse primeiro que aquilo não era nada e eu respondi que isso competia ao proprietário do carro avaliar. Depois, foi lindo usou todos os truques que a vida lhe deu.  que aquilo já estava, depois fez-se de velha, já mudei o termo outra vez é da repulsa, e disse que estava doente que não tem saído de casa, que não pode estar ao frio. Lálá..Lá...Lálá...
E eu, pena nada, não senti nada. apenas me lembrei de um dia uma grande senhora que me ensinou muito e já de muita idade, Prof. Marilia, dizia, atenção aos velhos são os piores, não são assim tão coitadinhos, usam mil e um truques, coisas que a vida lhes deu e que eles não deitam fora pois pode fazer falta. E lá estavam aquelas armas apontadas a mim, rufando os tambores com as suas narinas. Eu era para ela um cruel, um intruso do seu segredo que ela a noite recordaria com culpa ou talvez com um sorriso matreiro enquanto rezava o terço, vá- se lá saber qual era a sua condição, o seu prazer.
Bem, perante a recusa não me deixou opção e dei-lhe uma ordem firme, tipo; a senhora não saí daqui e fui pedir ao segurança, que nem sequer apareceu e depois ao balcão das informações para chamarem o dono daquele carro. Alguns empregados vieram logo ver se era o deles, coisa de individuo e muito pouco de sociedade e voltavam para dentro mais descansados. O proprietário não apareceu e depois de muito esperar resolvi ir embora entregando as coisas a providência, aquela velhota tinha sido salva pela divina providência se calhar como reflexo de ser uma alma boa, se calhar porque quem não era para estar ali era eu, ou porque tão simplesmente não lhe acontecia nada, como naqueles acidentes provocados por má condução onde quem acaba por bater são os outros, e era bafejada pela sorte, Quem na realidade terá tido sorte? todos?.
Não me fui embora sem lhe dar um sermão, daqueles aos peixes, mas disse-lhe que já tinha idade para ter juízo e consciência do acto pois idade para isso já aparentava ter. Foi mesmo assim sem tirar nem pôr dei-lhe forte e fui aliviado pelo acto realizado mais de cidadania do que de individuo, digo eu para ficar de bem comigo.
Portanto e concluindo aquilo foi um acto de fé daquela velha, fez fé na sua condução, fez fé que não ia bater e fez fé que não lhe acontecia nada.
e, eu em boa verdade guiei-me pela minha verdade e actuei como noutras alturas onde bati noutros carros, por duas vezes já me aconteceu e assim o fiz, sou responsável não há nada a esconder. Sim, claro que já me aconteceu o inverso e não me disseram nada e o que é que isto tem de justo ou injusto? Absolutamente nada! É tudo uma questão de valores e os meus orientam as minhas decisões. Guio-me pelos meus principios.
Depois fantasiei sobre a história e o porquê de o dono ou dona do carro não ter aparecido, não era a primeira vez que alguém deixaria o seu carro estacionado num parque de supermercado e fosse no carro de outra pessoa, pois não? Talvez tivesse sido melhor as coisas ficarem assim pois isto se fosse investigado uma senhora velhota a porta do supermercado ao bater num carro tinha levado a descobrir ... , esta parte seria nóticia de jornal, ... pois uma vez também me disseram que as vezes pensamos que estamos a ajudar alguém e na verdade cria-se um problema maior. Coisa da qual também a nossa psique sofre pois a remissão de um sintoma faz emergir outro. E tanto danos eu vi serem causados com nome de cura.
Há pois, e o que é que isto tudo tem a ver com a Bélgica estar sem governo. Bem diziam os romanos sobre o nosso nobre povo "lá mora um povo que não governa e não se deixa governar" e isso é reflexo ainda hoje das nossas atitudes, justifica-se está nos genes, os genes procuram superar-se, a sua sobrevivência depende disso. Nós não percebemos que está na nossas mãos. Efectivamente um governo é coisa de pobres e de peditórios.

Álvaro Carvalho, Fev.2010

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