sexta-feira, 5 de junho de 2015

Quis o Destino não ter Tempo

As vezes sem saber porquê lembro-me do Sr. Romão, um grande Homem, o nosso caminho cruzou-se algumas vezes, quis o destino, foi meu chefe na Marinha, deu-me formação e quando o conheci já ele era Sargento. Para mim foi sempre o Sr. Romão. 

Acho que já faleceu foi o que me disseram na ultima vez que perguntei por ele, o seu lugar estava vazio, quer dizer, estava lá outra pessoa mas não era o Sr. Romão. Não tinha o seu jeito calmo com um sorriso transparente. nunca o vi zangado, era de poucas falas, apenas o necessário e era muito respeitado por todos, pelos Superiores hierárquicos e muito pelo Subordinados, ao mesmo tempo, que nem tanto por alguns atrevidotes que vestiam a mesma jaqueta mas não com o aprumo e brio como o Sr. Romão. 


A ultima vez que estive a falar com ele, era porteiro de uma clinica de psiquiatria em Lisboa, fazia lá umas horas e já estava reformado da Marinha. E, eu, tinha lá ido a pedido de uma urgência porque um paciente queria abandonar a clinica e estava a causar graves distúrbios e assim no meio do nada foi o reencontro, quis o destino. Encontro que foi um acaso, pois eu que já tinha ido a Marinha para falar com ele e não sabiam dele e contaram-me, um já não sei quem, "É que sabe, a esposa dele faleceu, logo na semana seguinte a ele se ter reformado, foi atropelada em cima do passeio", "faleceu? como? a esposa do Sr. Romão faleceu" indaguei eu, era absurdo não podia ser verdade, "a sério?" como podia acontecer tal sucedido, não fazia sentido.
E lembro-me de nesse dia me perguntar "e agora? e agora, o que vai ser do Sr.Romão?" É que eu sabia o Homem que era o Sr. Romão, vivi com ele horas de dias nos mares, entre ferro, fomos falando, falávamos de nós e ele compreendia-me na minha rebeldia e comportamentos atípicos não esperados pela maioria ou em desacordo com a vida, 
Foi com a sua força e integridade que um dia nessa Escola de Homens fui formador e sai pela "porta grande", foi pela sua mão, quis o destino, que o comando me autorizou a sair, porque como ele dizia "você tem outras coisas para fazer na vida", "Vá, homem, vá!" e eu vim pela vida fora.


Nas minhas mais pessimistas referências, aquilo não podia acontecer, o Sr. Romão era uma alma boa e eu sabia, que o seu projeto de vida após a reforma, era compensar a mulher pelas horas e dias e semanas e meses que ela esperava nas horas em solidão do regresso do seu homem do mar, o Sr. Romão queria, eles, tinham combinado que iriam viajar pelo mundo e conhecer as viagens. 
A minha admiração sempre foi de confiança por este homem, em tanto que estive perto dele, é que no mar os Homens são a sua verdade e este Homem no mar foi sempre o mesmo, nunca o vi bêbado, não saia nos portos a procura dos "night club's" (o cais do sodré mais sombrio da localidade) nem uma só vez, dava as voltas dele mas sempre foi fiel a sua mulher e aos seus homens e aos seus princípios. Nunca falei com ele sobre isso mas sabia da sua dor. 

As vezes lembro-me do Sr. Romão e penso na vida e no sentido e no destino e no seu acaso,

Percebo o Aqui e Agora. gostaria muito que ele não tivesse morrido triste. 

Grande Homem Sr. Romão? Acho que ele me diria "quis o destino". 

Porque quis o destino não lhe dar o seu Tempo? Sr. Romão. 






AdC

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