sábado, 18 de fevereiro de 2012

Millon - Método Quantitativo

A avaliação psicológica e os métodos quantitativos
     Uma disciplina científica é definida pelos métodos de investigação que emprega (Handbook of  Psychology; 2003; Vol. II Research method in Psychology). Os testes são situações estandardizadas que permitem, por uma avaliação estatística das respostas produzidas por um sujeito estabelecer o seu perfil psicológico em termos de capacidade e de traços da personalidade (cit. in Bernaud, 1998).
     Quando utiliza um teste, o psicólogo tem de dominar as operações de quantificação, apreciar a sua fiabilidade e decidir da utilidade concreta das medidas assim efectuadas em relação ao problema a resolver (cit. in Bernaud, 1998). As qualidades da medida estão directamente relacionadas com a fiabilidade do funcionamento do instrumento de medida que deve permitir diferenciar bem os sujeitos, não fornecer indicações aleatórias ou irregulares e dar indicações em relação às situações que estão a ser estudadas (cit. in Bernaud, 1998). O que define as qualidades da medida são a sensibilidade, fidelidade e validade. Um sistema multiaxial envolve uma avaliação com base em vários eixos e facilita a avaliação completa e sistemática das várias peturbações mentais (cit. in DSM IV, 2002).
O MCMI – Inventário Clínico Multiaxial de Millon, T. Millon (1977, 1987 e 1994).
       Fundamentando-se na Teoria Evolutiva para sustentar a sua Teoria da Personalidade e T. Millon cria em 1977 o inventário multiaxial, surge como uma alternativa ao método tradicional que rotula e categoriza o paciente, tendo por base uma única dimensão ou eixo. O diagnóstico multiaxial diferencia e acede simultaneamente a várias características clínicas relevantes, à semelhança do DSM-IV. Assim o MCMI – Inventário Clínico Multiaxial de Millon – possibilita a elaboração de um diagnóstico segundo o Eixo I (Síndrome Clínico), sumariando as principais queixas e sinais comportamentais do paciente, e segundo o Eixo II (Perturbações da Personalidade), (ver anexo III) descrevendo o estilo de funcionamento psicológico, de longa duração e profundamente enraizado no paciente (cit in Millon, MCMI, 1982).
     O inventário Clínico Multiaxial de Millon (MCMI, 1982) é um instrumento objectivo de psicodiagnóstico concebido para o uso com pacientes psiquiátricos que estão sob vigilância ou envolvidos num programa de intervenção psicoterapêutica (cit. in Guia Interpretativo do Inventário Clínico Multiaxial de Millon, 1982).
     A versão original, MCMI-I,  surge em 1977 com 20 escalas, posteriormente realizaram-se duas revisões: MCMI-II com 22 escalas, em 1987 e MCMI-III  com 24 escalas em 1994, e todos eles com 4 escalas de validade.
     É um inventário de auto-relato relativamente breve composto por 175 itens, de resposta dicotómica “verdadeiro” ou “falso” (ver anexo IV). Com duração de administração de 25 a 30 minutos. Aplicável a indivíduos com mais 18 anos de idade e com mais do que o 8º ano de escolaridade. Os resultados para as vinte escalas clínicas são habitualmente derivados destas respostas; onze destas escalas correspondem às perturbações da personalidade incluídas no Eixo II do DSM – IV, e nove representam os sindromas clínicos mais prevalentes do Eixo I (cit. in Guia Interpretativo do Inventário Clínico Multiaxial de Millon, 1982).
Descrição dos valores normativos
     As normas para o MCMI são inicialmente baseadas em numerosas amostras de pacientes clínicos que estiveram envolvidos em avaliação psicológica ou psicoterapia (Millon, 1982). Na construção do teste, a população de pacientes consistiu em 1591 sujeitos, sendo 58% masculinos e 42% femininos com idades compreendidas entre os 18 e 66 anos. O primeiro grande estudo de validação cruzada compreendeu mais 256 pacientes, 57% masculinos e 43% femininos (cit. in Millon, 1982). Os dados subsequentes do MCMI foram revistos em 1981 em 43218 pacientes. Os resultados brutos foram transformados em resultados base-rate, uma conversão determinada por dados conhecidos da prevalência da personalidade e do sindroma, e por linhas críticas concebidas para maximizar as classificações de diagnóstico correcto.
     Natureza e desenvolvimento do MCMI
     Os instrumentos de diagnóstico aparentam ser melhorados na sua utilidade se forem ligados a uma teoria clínica compreensiva. Cada uma das escalas clínicas do MCMI foi construída como uma medida operacional de um sindroma derivado de uma teoria e psicopatologia (Millon, 1969, 1981). É também importante a sua coordenação com o sistema de diagnóstico oficial e as suas categorias de sindromas. Cada escala do MCMI foi construída segundo o modelo do DSM de modo a poder distinguir as características da personalidade mais frequentes dos pacientes (Eixo II) das peturbações clínicas agudas que eles demonstram (Eixo I). Esta distinção permite ao clínico separar os tipos persistentes e invasivos do funcionamento psicopatológico dos tipos de sindromas que são passeiros e circunscritos. Da mesma forma, as escalas distinguem entre vários níveis de severidade psicopatológica (cit. in Millon, 1982).
     No processo da construção do teste, todas as selecções dos itens foram baseados em dados nos quais os grupos de diagnóstico alvos eram comparados com a população representativa mas indiferenciada de pacientes psiquiátricos. Isto optimiza a eficiência da discriminação das escalas e, nesse sentido, intensifica a precisão do diagnóstico diferencial. A consistência interna é medida através da divisão dos itens de uma escala em duas partes e ao determinar as correlações entre as partes, modo chamado de Split-half (Handbook of  Psychology; 2003; Vol. II Research method in Psychology).
     A selecção de cada item e o desenvolvimento de cada escala progrediram através de uma sequência de três passos de validação: (1) realização teórica, (2) estrutura interna e (3) critério externo (Loevinger, 1957; Jackson, 1970 cit. in Millon, 1982).
    Modo de aplicação
      Trata-se de um inventário de auto-relato: na primeira página estão impressas as instruções do teste, informação do registo do paciente, grelha de identificação e secções de código especial para os clínicos o que permite manter o anonimato dos pacientes (cit. in Millon, 1982), resposta dicotómica “verdadeiro” e “falso” (ver anexo IV) e devem ser assinaladas com um círculo (cit. in Millon, 1982). Deve ser aplicado a pacientes com mais de 18 anos e não se deve aplicar se estiverem muito fatigados, em sofrimento, apreensivos ou num estado confusional activo.
     Quando o paciente entregar o inventário, o examinador deve verificar se está completo, se há respostas duplamente marcadas (Ve F) e itens omitidos, as falhas devem ser corrigidas.
Dimensões
     A Teoria do MCMI é baseada em derivações duma simples combinação de algumas variáveis. Os seus oito estilos básicos de funcionamento da personalidade forma-se a partir de uma matrix de 4 X 2, consistindo de duas dimensões básicas (cit. in Millon, 1982). A primeira dimensão pertence à fonte primária da qual os pacientes ganham conforto e satisfação (reforço positivo) ou tentam evitar a dor emocional e o sofrimento (reforço negativo). Os pacientes que experimentam poucas recompensas ou satisfação na vida, quer seja por eles próprios ou por outros, são referidos como tipos desapegados. Os outros encontram-se no pólo oposto e são descritos como dependentes porque medem as suas satisfações ou desconforto pela forma como os outros reagem ou se sentem relativamente a eles. Divide-se, ainda em personalidade independente e personalidades ambivalentes; sendo que os que exibem uma personalidade independente a gratificação é determinada em termos dos próprios valores e desejos e aqueles que experenciam um conflito entre ser orientado pelo que os outros dizem e desejam ou seguir os seus próprios desejos e necessidades, são os de personalidade ambivalente (cit. in Millon, 1982). A segunda dimensão da matrix teórica de Millon reflecte o padrão de comportamento instrumental ou de coping que o paciente caracteristicamente emprega para maximizar o prazer e minimizar a dor. Os pacientes que parecem estar estimulados e atentos, organizando e manipulando os acontecimentos de vida para alcançar a gratificação e evitar o desconforto, demonstram um padrão activo. Por outro lado, aqueles que aparentam estar apáticos, restringidos, complacentes, resignados ou contentes por permitirem que os acontecimentos de vida sigam o seu próprio curso, sem qualquer controlo ou regulação pessoal, possuem um padrão passivo (cit. in Millon, 1982).
     Quando as quatro fontes de reforço primário são combinadas com os dois padrões instrumentais ou de coping, emergem oito estilos de personalidade: desapego activo e passivo, dependente activo e passivo, independente activo e passivo, e ambivalente activo e passivo (Tabela I, anexo 1). Várias covariações são possíveis entre os síndromes clínicos do Eixo I e os estilos de personalidade do Eixo II e o MCMI especifica estas inter-relações. 
Sistema de pontuação
Os valores brutos são convertidos na Taxa Básica (BR) para permitir a comparação entre os índices de personalidade. A Base Rate é, essencialmente, onde cada um se encaixa com uma pontuação numa escala de 1-115, sendo 60 a pontuação mediana. A conversão para uma pontuação taxa de base é relativamente complexa, e há certas correcções que são administradas com base no estilo de resposta de cada paciente.
Os índices Modificados são registados com um sistema complexo em que as respostas do paciente em outras escalas são comparadas e os escores brutos e BR são tomadas a partir deste. O índice de validade é uma excepção a esta. É composto de três perguntas, e assim é pontuado entre 0 e 3. Não é convertido para uma pontuação BR (ver relatório interpretativo anexo II).
A validade
Os índices de modificação consistem em 4 escalas - a escala de Validade (V) Os resultados são considerados inválidos sempre que se verificar que os itens (62,90,152,169) dois ou mais forem assinalados como verdadeiros, se doze ou mais itens forem omitidos ou respondidos simultaneamente e se o resultado, na escala bruto na escala X for menor que 145 ou maior que 590., a Escala de sensibilidade (X) que avalia até que ponto o sujeito foi verdadeiro nas suas respostas, a Escala de desejabilidade(Y) que permite identificar se os resultados foram influenciados pelo desejo de parecer socialmente atractivo e a Escala de humilhação (Z) que reflecte tendências opostas ás expressas pela escala de desejabilidade.

Conclusão
     O teste de Personalidade Inventário Clinico Multiaxial de Millon – MCMI desenvolvido por Theodore Millon em 1997, Tem como objectivo a recolha de informação clínica para tomada de decisão e tratamento em pessoas com dificuldades emocionais e interpessoais.
     Avalia a interacção do eixo I e transtornos do eixo II com base no DSM-IV, vai identificar as características de personalidade mais profundas e penetrantes e os subjacentes sintomas evidentes de um paciente, tem com vantagem uma compreensão integrada do relacionamento entre características da personalidade e síndromes clínicas para facilitar as decisões de tratamento.
     O inventário Clínico Multiaxial de Millon (MCMI, 1982) é um instrumento objectivo de psicodiagnóstico concebido para o uso com pacientes psiquiátricos que estão sob vigilância ou envolvidos num programa de intervenção psicoterapêutica (cit. in Guia Interpretativo do Inventário Clínico Multiaxial de Millon, 1982).
     A versão original, MCMI-I,  surge em 1977 com 20 escalas, posteriormente realizaram-se duas revisões: MCMI-II com 22 escalas, em 1987 e MCMI-III  com 24 escalas em 1994, e todos eles com 4 escalas de validade.
     Os instrumentos de diagnóstico aparentam ser melhorados na sua utilidade se forem ligados a uma teoria clínica compreensiva. Cada uma das escalas clínicas do MCMI foi construída como uma medida operacional de um sindroma derivado de uma teoria e psicopatologia. Cada escala do MCMI foi construída segundo o modelo do DSM de modo a poder distinguir as características da personalidade mais frequentes dos pacientes (Eixo II) das peturbações clínicas agudas que eles demonstram (Eixo I). As escalas distinguem entre vários níveis de severidade psicopatológica.
     O Inventário Clínico Multiaxial de Millon – MCMI - é um instrumento objectivo de psicodiagnóstico concebido para o uso com pacientes psiquiátricos que estão sob vigilância ou envolvidos num programa de intervenção psicoterapêutica.
Álvaro Augusto dos Santos Carvalho, 2008.

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