segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O Homem que não queria se fazer anunciado.


02 De Janeiro de 2012

Onde está o “menino”?

As discussões e temas mais debatidos nesta quadra são entre outros a solidariedade, qual é o verdadeiro bolo-rei? E também muito se tem debatido em volta dos reis magos. Ninguém ou quase ninguém também aproveita para mudar o seu modo de agir, pensar. Não se fazem balanços dignos e justos. As empresas fazem, o Estado da Nação faz ou não, mas o individuo de certeza que não faz, aproveita isso sim, para desejar o que quer, como vou deixar de fumar, vou fazer mais exercício físico, vou isto, vou aquilo e talvez esperando, por um pouco de sorte, as coisas mudem. Só podem estar a desejar promessas, as boas novas foram anunciadas mas não mudámos, apenas desejámos como se o “segredo” se resolvesse por si próprio. Devemos ter errado em algum lugar e é bem possível que sejam as nossas interpretações da verdade, crenças que fomos apreendendo como rituais práticos, figurativos da nossa representação do eu, mas que nos fogem como foge a lucidez do homem loquaz, aqui o erro pode ter sido menosprezado pelo orgulho maior da realização pela da mão-de-obra, afinal de contas inventamos a roda, domesticamos os animais, cidades foram feitas e utopias realizadas. O responsável são as representações dos símbolos que foram feitas e que continuam a ser feitas e simplificadas ou direi mesmo de forma ingénua por todos nós pois enquanto assim for o homem mantém preso na sua condição de ser o ilustre resultado de símbolos sem interpretar o significante. Como quem conta um conto acrescenta um conto, duvidamos da história? Não apenas de algumas mas das que são de nosso interesse mantemos como crenças bem vivas, pois precisamos delas para ser mais. O Natal se for nesta perspectiva analítica, existencialista, observado o símbolo patriarca da humanidade está na salvação, o herói que nos irá salvar, o mito americano, que Bruce Willis, muito bem representa. Seremos sempre salvos mesmo na miséria, nas atrocidades. Salve-se as nossas almas por acreditarmos, salva-se o medo da finitude e da caixa de pandora, e dão-nos a esperança como símbolo da incompetência do Homem, como acto de fé que se faz representar por uma figura de menino, que representa sem dúvida a humanidade muito longe da sua modernidade, de fraldas, em palhas deitado, que anuncia a salvação do homem de si próprio, a inocência perdida, a luz ao fundo do túnel, de que aquilo que virá será melhor do que aquilo que a realidade é. Não digo com isto que a realidade seja má ou boa, mas apenas que o É, por Ser. Portanto neste acto de rendição a esperança da boa nova a uma mentalidade puritana, o menino não chega a ser Homem porque está ser a espera de crescer ou com medo do seu crescimento por envolver-se na vida vai-lhe trazer pelas escolhas e opções a dor e o sofrimento em oposição a alegria e felicidade, o crescer vai trazer realidade, aquela que Siddhartha viu quando saiu do seu palácio. Aquela que não queremos ver e que escondem do “menino” num presépio bem aconchegado. Não quero crescer é um “Peter Pan” anunciado é fruto da evolução desde o dia em que o Natal foi proclamado que se instalou esta simbologia de massas onde o menino não precisa de crescer, pois a mãe vai cuidar de ti, tal “The Wall”, da Humanidade, onde continuamos a espera do dia de hoje onde vão chegar os reis magos para ver o menino e lhe trazerem ofertas. No novo ano não quero continuar deitado à espera da economia, dos presentes e daquilo que posso receber mas também não serei um dos reis magos. Podemos escolher entre duas opções, apenas há dois destinos ou papeis a representar da história da humanidade e do individuo, ou somos devotos ao “menino” ou devotos aos reis magos, que tem o poder de dar, porque são reis na sua condição e tal como o nome indica os que podem. Não há sobras, mas apenas “Les Uns et les Autres” só há duas condições. Chegou a boa nova a nova mentalidade ou seja aquele que precisa de receber dos reis magos, e assim foi fácil chegarmos a propriedade, ao território, aos escravos, a industrialização e a economia e burocracia e até a democracia. Os símbolos apenas são as interpretações do significante que lhes atribui significado. Neste inconsciente colectivo que se vive, onde nos rimos por sermos livres, o Homem aparece assim agrilhoado e alienado de Si, sem consciência espera o regresso de Prometeu. Eu espero assim que os reis magos me tragam as oferendas, um ano melhor, séculos melhores, onde se possa escrever a história da humanidade que anda as voltas em si própria sem crescer, sem se tornar humana numa luta de posse pelas oferendas, num mercado racionalista de trabalho, onde nos sentimos perto do outro, onde somos parte de um todo, onde precisamos do outro mas apenas para estarmos a espera das oferendas que podem ser o ordenado ou o pré, como numa ironia do destino que nos pregou uma partida desde o primeiro ano, onde se começou a escrever aquilo que hoje se tornou um símbolo da paz mundial mas que tudo e de tudo se fez em seu nome. Se mudou o ano que balanço faço de mim mesmo? O que posso mudar? O que faliu em mim e o que deu lucro? Como me senti melhor e onde me senti pior? Fui justo, foram justos comigo, fui amigo dos outros bem como de mim próprio. Tratei os outros como iguais, fui tratado como igual. Se faço um balanço para mudar deve, no meu entender, ser psicológico, deve ser de aferição. Voltando a estrela que nos guia, que nos orienta, que nos dá o caminho é que sem ela nos sentimos perdidos de sentido, de onde vai dar o caminho e só voltamos a ter aqui duas opções ou nos deixamos guiar, orientar ou andamos a deriva e não damos com o “menino” o que significa que ficamos desorientados na nossa condição, pois não lhe entregamos as prendas e sem dar ficamos com elas e podemos sofrer do complexo narcísico ou outro patológico qualquer. O todo reflecte-se no Eu. E a imagem é, ao espelho, fragmentada ou idealizada, pois foi construída numa ideologia humanitária como se a consciência fosse não ter consciência de Si mas apenas adquirida pelo significado de pertencer ao presépio aos que já lá estão e aos que vão a caminho. Então a Humanidade é um presépio gigantesco. Onde a ideologia de proteger, criar e abastecer o “menino” não é mais que uma simples condição dos genes sobreviverem. Esta simbologia do Natal traz a eterna discussão qual é o verdadeiro bolo-rei, a origem escondida no tempo perturba a paz dos citados como se o nível de inconsciência fosse igual à consciência. O mistério fez-se para ser revelado e não há nada tão espiritual de como ser o viver o espirito natalício, mesmo que isso seja continuar igual nos desejos e na vontade. Portanto entramos num novo ano ou ano novo, sem na realidade se ter saído nunca do mesmo sítio, o que é uma terrível ilusão de tempo pois na realidade o que pedimos há muito que nos foi negado, porque acreditamos que, e padecemos desta condição de crenças, rituais e simbologias onde para não naufragarmos nos agarramos para ter uma vida. Então o que sobra? Claro que é a esperança, sempre a esperança que está fechada na caixa e prendeu a humanidade aos desejos da espera que se abra quando na realidade somos nós que temos a chave, dessa caixa que alojou todos os males da humanidade e onde continuamos a ter por influência e por objectivo para o nosso comportamento, o regulador inconsciente, do medo do juízo final. Não vá o juízo acabar e a lucidez ser obra das neurociências e não das estrelas que nos orientam na noite da Humanidade.

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