Para onde foi tanta água?
O que é feito das musas do Tejo, que se encontra tão vazio
na sua alma, onde estão os poetas, dizem que ficou por outras terras, ou que vêm a
caminho. Mas está raso no seu leito, nem dorme de tanta sede, garganta de Tântalo,
sedento da água da vida. Dos olhos do poeta que dizem o que vêem ou o que os
olhos não sentem. Dorme o rio, descansa o tempo nas águas do passado. As suas
águas já não chegam ao cais, onde penélope espera. E desfiando o tempo, para
que ele não acabe antes do tempo, vais na esperança de que as águas voltam a
sua foz, para não voltaram de onde vieram mas que sigam o seu destino.
Deve
ter sido das obras que durante tanto tempo não me permitiram ver o cais ou
estar de volta ao cais de embarque, de partida, de novos rumos, de novos
desafios. Este cais hoje apenas serve para ver as vistas mas já foi inspiração
de almas que andam pelo mundo sem o serem, deste mundo.
Tiramos a água do rio? Para onde foi tanta água? Foi a nossa
sede que secou a fonte, a nossa ambição deixou-nos um futuro deserto. Como se
pode partir se a água já lá não chega e onde não há água não há vida. Como
alguém diz não há nada, não há dinheiro, não futuro, não há nada. Mas como tudo
deve fazer sentido nem que seja o sentido de se ter perdido tempo esperando que
a água volte ao cais, donde partiram as naus e caravelas e onde se escondem “os
velhos do restelo”.
Os carros passam por mim vazios não vejo ninguém lá dentro, nem
se apercebem que ali estou nem que o rio está muito vazio. Todos passam e não
olham, correm antes que alguém lá chegue, só que não está lá ninguém. O nada, é
tudo e isso dá uma sensação de vazio mas acredita-se que é paixão. Sonhasse que
amanhã será melhor e que talvez o Tejo se encha por ele, nunca o vi tão vazio e
não entendo o sentido que isso representa na minha vida mas dá-me uma angústia
que me atormenta, que é de não vermos que estamos a perder a vida e que vivemos
sem a viver, sem ser. Acredita-se e pronto.
Alguém se prepara para partir desse leito da vida, alguém
sabe e sente que chegou a sua hora e não está feliz porque sente o que perdeu e
já não vai a tempo, enfim deixa-me triste ver no cais a água que demora em
chegar. Vejo isso no teu olhar, vejo isso nas sombras que nos acompanham, sem
vaidade, sendo apenas sendo parte de um todo, da vida, da sua e da dos outros.
Hoje sei que foi uma despedida, hoje vi nos teus olhos que não querias sofrer,
que querias tempo para amar. Mas nós não temos tempo, vivemos o tempo.
Perguntaste-me como se aceita, não tenho resposta, pois há coisas que não se
aceitam porque apenas acontecem sem explicação, sem qualquer justiça ou verdade. Apenas acontece
e isso é, porque estamos vivos. Mesmo que não façam agora sentido acredito que só depois percebemos, só depois.
Respeito o rio e as suas margens porque é nelas que o rio se
estrutura, mesmo que rebente o dique é porque se prendeu o rio e era tempo, não
o que se quer mas o que se tem. Quando vejo o que o rio deixou para trás, vejo
o que ele foi e assim ele existiu para dar sentido a vida dos outros, este é um
rio que foi o que já não é, mas que não deixa de o ser, pois mesmo com pouca
água o rio está lá e nós demoramos é m pouco mais tempo até ele e aí se
descobrem ouras e novas margens por nós antes desconhecidas e com medo de se
perder o que se tem em vez de se valorizar o que se foi sendo.
Estas são ás águas da
vida, da nossa vida e do que vamos fazendo dela. Mas, por mais longe ou vazio
de água que o rio esteja, ele na realidade ainda lá está, só que mais longe e
enquanto aí estiver eu vou ao cais para ver partir e regressar a esperança que
só as águas de um rio sabem transportar. A vida na vida, sempre. Obrigado.
*Álvaro dos Santos Carvalho
22 de Março de 2012.
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