sábado, 24 de março de 2012

Quando o altruísmo é um mecanismo para defender o remorso.


O COMBOIO NÃO ANDA SOZINHO PRECISA DE UMA MÁQUINA E DE UM MAQUINISTA.

Quando o altruísmo é confundido com pena, ou activado pela culpa e remorso do que se pensou não ser igual ao que aconteceu. Sou eu que mando, sou eu que penso e sou eu que vejo ou penso de acordo com o meu juízo ou sem ele, com a minha consciência ou falta desta ou melhor ainda com as crenças. Acredito eu, que algo é assim porque no meu bom-senso comandado pelo meu SAR, Sistema de Aquisição Recticular, no lobo frontal que me permite disparar uma associação conhecida, já vivida, para associar a uma emoção e assim obter melhor decisão. Aqui uma lesão pode lixar tudo no juízo ou uma falsa crença e ou uma memória mal seleccionada, até comandada por uma forte sensação de “dejá vu”, tudo pode levar ao erro de julgamento, de perspectiva. Se as Emoções ajudam na tomada de decisão, também ajudam no discernimento de determinadas questões, intoxicadas pelas mentes mais brilhantes, o julgador apenas erra porque acredita no seu erro e assim aponta a falta ao outro, não sendo humilde, é no meu julgo apenas uma questão de medo ou insegurança. O que vai tentar gerar um conflito é aquele que na sua indecisão procura ter certezas. Ser crente é ter razão e só por isso deve ser levantada a suspeita. A confiança advém da entrega e não do controle da situação, normalizado num funcionamento de um sistema que até parece democrático porque é uma decisão colectiva em nome de uma causa maior, não há maior erro que o Pensamento Grupal que apesar de dar uma sentimento de pertença e valores e normas comuns, e até uma ideia de bom funcionamento e de interligação de sectores, nada mais errado e o erro está no controle da produção no controlo do outro pode-se lhe até chamar auto-suficiente ou até arrogante, mas é bem simples, nada complexo, é nos bastidores que se encontra o controlo e a normalização é uma forma de cortar a criatividade e a produtividade, é uma forma de controlar os resultados e não uma forma de atingir os objectivos. É o medo de que as personalidades se sobreponham aos princípios. Quando efectivamente elas já estão a ser redutoras da evolução. Evoluir é fazer diferente, é ser livre, ousado, arriscado, o que vai trazer mudanças são as novas atitudes, por vezes mal julgadas com pobre interpretação. Voltamos aos “velhos do Restelo” não são velhos em idade mas redutores e controladores da mudança e do livrio arbitro. Os incompreendidos não são pobres de espirito, são líderes natos, visionários. Temos que acreditar neles, confias? O hábito faz o monge mas o monge não é feito de silêncio que não significa nos dias de hoje sabedoria. Já estamos noutro século, noutra perspectiva a falta de confiança é coisa de aprendiz.. De gente só, que acredita que descobriu ou ouviu falar da melhor forma de resolver ou equacionar o problema. O problema não é o que se faz nem porque se faz, mas aprender é perguntar como se faz, como fazes? Vê e aceita a mudança pois ela está a acontecer. A falsidade está quando aparentemente se compreende mas se diz vê-lá se podes falar com ele. Diz: «o roto ao nu porque é que não te vestes tu». Um só modelo, uma só forma e quem não está de acordo é pretensioso, vaidoso ou até estranho. Não vês que sempre foi assim, e que assim é que deve ser. Não podes sair da linha pois ela é o limite que eu tenho, ok, então reza a oração da serenidade e aceita as coisas que não podes modificar. Adapta-te e resolve, avança e arrisca, sê resiliente. Ultrapassa os teus limites impostos pelo desconhecimento. A saída da Caverna de Platão está tão perto e tu só vês as sombras e delas fazes a tua zona de conforto. não tentes medir os conceitos e predizer comportamentos numa sabedoria que apenas é factual e não essencial nem real, porque o real é aquilo que não queremos ver que é olharmos para nós. O homem que não é ele fazendo igual aos outros não passa de mais um outro. As pessoas normais não têm nada de especial.
Vamos então ao que interessa e ao que aconteceu nesta história. Espero pelo comboio e olho para as horas, venho cansado e desejoso de chegar a casa, pensando em mim e quanto tempo falta para o próximo, já que perdi este e venha outro. Este cansaço, não me cansa pois estou motivado e com sentido de realização e com objectivos bem definidos ou que até devo ser um homem cheio de sorte face a actual conjuntura pessimista e castradora do sonho e do medo. «Pedimos a vossa compreensão pelos incómodos causados». O próximo está atrasado mais meia-hora. Depois de um dia de greve os comboios andam atrasados mais de meia-hora. Pedimos desculpa mas … Nós compreendemos mas a greve como defesa dos direitos não será um acto egoísta que criamos para fazer dos serviços públicos fontes de rendimento e de comodidade. Fazer gerir valor. Industrializar e mecanizar o homem pelo bem comum e dar-lhe lutas, tais Dom Quixote de La Mancha. Depois há os fura-greves, que não estão a lutar pelos direitos dos outros mas dos seus. Quantas das pessoas que estiveram na greve têm telemóvel, têm Tv cabo, Têm dois carros ou um bom e novo, quantos dos que não foram trabalhar têm playstation e IPOD e tablets e mais um telemóvel e os filhos com roupa de marca. Quantos têm trabalho e estão fartos do que fazem. Enfim alguém devia estudar estes fenómenos, tal como é permitido atirar pedras a policia mas não podem bater, alguém infiltrado não tenho dúvida e as coisas da teorias da conspiração são verdadeiras psicoses maníacas, toxicas de organismos perdidos nda sua razão de ser. Nós criamos esta ordem e progresso porque não somos, nunca fomos, capazes de largar a ambição de querer mais e melhor e uns aproveitam-se disso e outros menos um pouco e outros ainda gostariam de estar no lugar deles. Não somos capazes de gerir o conflito sem estar em conflito nem de partilhar sem olhar para o que não se tem. Somos os criadores deste modelo, feitos algures numas quantas revoluções as quais chamamos modernidade. Bem longe estamos da culpa de não sermos capazes de ser Deuses nem de ser Homens. Não temos capacidade para estarmos com o outro sem a mente ressentir ou julgar a diferença. Mesquinhices e fofocas que levam o homem a responsabilizar os outros pelo que não se tem ou não se faz. Temos fome porque temos medo de ficar com fome e armazenámos e criamos o mercado e a economia. Como se viver fosse algo no qual depende a nossa sobrevivência, estamos muito, mas muito longe do dia em que não há mais nem menos, nem menores nem maiores, nem delinquência, nem progresso, não há leis, não há governo, não há poder. Não sabemos viver a vida que temos, temos que ter prisões, leis, culpa, remorso, enfim errar é humano e aceitamos tudo só porque é melhor. Continuamos nestes cérebros reptilianos a fazer o que sempre soubemos destruir e nisto ainda a vida perdida a procura de seres humanos que recém nobéis e prémios e reconhecimento, bem feitores, como se não fosse o homem o causador de tudo. Então na minha ingenuidade eu ressinto a CP, e as greves e os atrasos sem fazer grande caso disso e só por isso já me acho diferente, mas julgo e penso e afinal só feito de tão igual aos outros sem nada de especial, sem ser diferente, porque aprendi e sou feito desta matéria orgânica que me dá vida e fruto também deste inconsciente colectivo que eu gosto de me separar mas que basta um momento e sou igual, sem tirar nem pôr. Entrei e sentei-me e li e escrevi, vi as pessoas, uns eram me estranhos outros mais familiares, pelos diálogos e maneirismos. Afinal íamos sair mais cedo e nestes pensamentos egoístas ia eu numa calma aparente, pensando no dia e nas pessoas e nos outros e no que fiz e no que não fiz, sem pressas, quando o revisor apareceu e lhe perguntei como se fosse um grande ser humano preocupado pelo atraso mas como um senhor que lida bem com isso. «então, boa-noite, qual é o motivo para este atraso?» Num tom calmo e relaxado e de olhar sereno fiz a pergunta e o revisor baixou-se e disse num tom baixo e de respeito; «Sabe, foi um senhor que se matou, atirou-se para a linha». E seguiu, como se aquele momento fosse de solidariedade, de respeito pela hora da morte mas um acto natural que deve ser encarrado como um facto consumado. Caiu-me tudo, mas como e o quê, o meu remorso fez-me e ligou-me logo a solidariedade e ao altruísmo, pensei no pobre coitado que o revisor em honra chamou de senhor, eu nem o conhecia mas senti-me mal por não ter respeitado algo maior, não foi culpa mas foi acidez no estomago pelo meu egoísmo de pensamentos antes e reflexões tão absurdas face ao momento e pensei no maquinista que não pode evitar a situação e respeitei-o, e fiquei sério como se algo de sério tivesse acontecido mas ninguém deu por isso. É que hoje um homem anonimo morreu e morreu só e em agonia. E o comboio atrasou-se meia-hora e em lares há pessoas que hoje não vão dormir porque estão a sentir o desespero da perda. Hoje a vida ganhou mais sentido pois senti a vida. E assim é fácil o altruísmo passar a ser um mecanismo muito bem elaborado disfarçado de empatia e solidariedade. Faz silêncio e o comboio volta a sua viagem de vai e volta apanhando pelo caminho restos da humanidade que continua a lutar por algum dia ser melhor. Amanhã serei o mesmo?

23 de Março de 2012.

*Álvaro dos Santos Carvalho

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