domingo, 25 de dezembro de 2011

Álcool; Álcoolismo; Álcoolico; Bio-Psico-Social;Tratamento.


*Álvaro Augusto dos Santos Carvalho

RESUMO

O presente trabalho visa a aquisição de conhecimentos e competências de intervenção do psicólogo clínico e da saúde no tratamento dos problemas ligados ao Álcool. O Álcool, O Alcoolismo e o Alcoolico são aqui abordados no desenvolvimento das suas dimensões. Com base no Plano Nacional para a redução dos Problemas Ligados ao Álcool de 2010 – 2012; de Novembro 2009 do Instituto da Droga e da Toxicodependência, reflecte-se sobre o terreno de actuação. Esta problemática afecta os individuos e a sociedade em toda as suas dimensões Bio-Psico-Sociais. O tratamento combina várias vertentes sendo o mais efiscaz o que combina a terapia Cognitiva-Comportamental com os grupos de Auto-ajuda dos Alcoólicos Anónimos e Prevenção à Recaída. Neste ambito foi realizada uma visita à Unidade de Alcoologia de Lisboa bem como uma entrevista sobre o papel do psicologo.


Palvras-Chave: Álcool; Álcoolismo; Álcoolico; Bio-Psico-Social;Tratamento.



O objectivo deste trabalho é dar a conhecer modelos e competências de intervenção da prática clínica na saúde do Psicólogo e em concreto no Alcoolismo.
A psicologia clínica define-se como um método, na medida em que postula a avaliação e o diagnóstico criteriosos do sujeito a fim de viabilizar a intervenção com diferentes técnicas. O campo de actuação do psicologo inserido na área da saúde é oltado para a superação do sofrimento psíquico dos sujeitos (Schneider, 2002).
A saúde e principalmente, a doença, têm sido tradicionalmente objecto de estudo e intervenção da medicina e das ciências (McIntyre, 1994 p. 17). A psicologia ocupa um lugar previligiado como ciência social e do comportamento para a promoção da saúde e bem-estar. Os psicologos da sáude actuam no desenvolvimento de programas comportamentais para promover comportamentos para a saúde e extinguir comportamentos de risco (McIntyre, 1994 p. 28).
Sabendo-se que o estado de saúde está intimamente ligado aos estilos de vida, é necessário promover a adopção de comportamentos saudáveis, sensibilizando os indivíduos para a redução dos comportamentos mais prejudiciais para a saúde, facilitando informação que permita decisões autónomas e escolhas informadas, de acordo com a liberdade individual (2010 PNA, p. 2).
A Organização Mundial de Saúde, publicado no the Journal of American Medical Association em 26 de agosto de 1992, define que o alcoolismo é uma doença primária, crónica, com factores genéticos, psicossociais e ambientais. A doença é geralmente progressiva e fatal. Primária porque é uma entidade em si própria não é causada por outros factores. É crónica porque a pessoa não volta a beber de forma controlada ou normal e é progressiva porque os sintomas e as consequências continuam a ocorrer com gravidade crescente e utilização continua (Scheel, 2001, pp. 90-92).

O Alcoolismo.
O presente Plano Nacional para a Redução dos Problemas Ligados ao Álcool pretende, antes de mais, operacionalizar a maioria das intenções explicitadas no Plano de Acção contra o Alcoolismo, e o seu objectivo primordial consiste em reduzir de forma significativa o consumo nocivo de álcool entre a população e diminuir os seus efeitos perniciosos em termos sociais e de saúde (2010, IDT, p. 1).
A eficácia das intervenções em geral está intimamente associada ao conjunto das boas práticas levadas a cabo por profissionais competentes. Os indivíduos com dependência, bem como os que apresentam co-morbilidade médica, psiquiátrica ou aditiva, devem beneficiar de tratamentos mais intensivos, ministrados por profissionais especializados, em Unidades específicas. Os indivíduos com dependência, bem como os que apresentam co-morbilidade médica, psiquiátrica ou aditiva, devem beneficiar de tratamentos mais intensivos, ministrados por profissionais especializados, em Unidades específicas (2010, PNA, IDT, p. 7).
A dependência alcoólica corresponde a um conjunto de fenómenos fisiológicos, cognitivos e comportamentais que podem desenvolver-se após uso repetido de álcool. Inclui um desejo intenso de consumir bebidas, descontrolo sobre o seu uso, continuação dos consumos independentemente das consequências, uma alta prioridade dada aos consumos em detrimento de outras actividades e obrigações, aumento da tolerância ao álcool e sintomas de privação quando o consumo é descontinuado (OMS, 1992). Trata-se de “uma doença primária, crónica, cujo desenvolvimento e manifestações são influenciados por factores genéticos, psicológicos, sociais e ambientais; a doença é frequentemente progressiva e fatal; caracteriza-se por uma perda de controlo do consumo, permanente ou temporária, com o uso de álcool apesar das consequências negativas e acompanha-se de distorções cognitivas, com particular ênfase para a negação” (McQueen, 2004, cit in PNA, IDT, p. 6)[1].
A doença Adictiva ou adicção é uma doença em que a pessoa desenvolve dependência bio-psico-social de qualquer substância que altere o humor “ Uma relação patológica de amor e confiança com um objecto ou acontecimento (Nakken, 1988, p. 22). A adicção leva a pessoa a obter gratificação imediata e desconforto a longo-prazo (Gorsky, 1986, p. 18). Quando não usa a pessoa que sofre de adicção, pensa, planeia e só deseja voltar a usar e isso é a obsessão. A compulsão é a urgência irressistível de satisfazer essa necessidade e usar de novo. Cria-se um Ciclo Adictivo  onde o pensamento adictivo é activado pela obsessão e compulsão que levam à negação, incapacidade de reconhecer que existe um problema e a Racionalização, acusar e atribuir a causas externas a responsabilidade (Gorsky, 1986, p. 23).

Nas últimas décadas, tem sido feito um esforço pela medicina na identificação das doenças, através de sinais e sintomas, exames, diagnósticos, testes, avaliação para identificação das suas causas e investigação da eficácia dos tratamentos (Cunha Filho H., 2004, p. 138). Torna-se importante a definição de um quadro claro sobre o cliente, que permita a decissão sobre como ajudar a cada momento do processo (Cunha Filho H., 2004, p. 141). Para isso a utilização de instrumentos baseia-se numa abordagem sistematizada com a triagem e a avaliação. Por triagem entenda-se que:
“é o processo através do qual terapeuta, cliente e outras pessoas significativas determinam a acção mais apropriada a seguir, de acordo com as necessidades e com os recursos disponíveis na comunidade”. (Cunha Filho H., 2004, p. 136)

Na Avaliação o que é tido em conta é o desenvolvimento físico e problemas médicos e de saúde, HIV, Hepatites, tuberculose história dos consumos, tentativas de parar de usar, outros tratamentos, problemas associados aos consumos psico-sociais, desordens psiquiatricas, família, relações significativas, área educacional e ocacional e ainda legais e financeiros (Scheel, 2001, p. 133).
 A triagem e a avaliação permitem escolher e adaptar o melhor setting para o paciente e o tratamento é composto por uma série de abordagens quer com bases biologicas, comportamentais e psico-sociais. Na abordagem biologica, farmacologica é usada o disulferam, um anti-abuse que interfere com o metabolismo do álcool e causa efeitos desagradáveis na pessoa se o ingerir, sendo muito usado com sucesso na prevenção à recaída (Scheel, 2001, p. 108). É nas variantes comportamentais e ou psico-sociais que se incluem modalidades de tratamento em consulta, em ambulatório ou semi, bem como o internamento hospitalar, comunidades terapeuticas em regime de internamento, havendo programas diversos quer no tempo quer nos modelos de intervenção adotados (Scheel, 2001, p. 112).
Os critérios de encaminhamento da ASAM - American Society of Adiction Medicine – em Portugal APMA Associação Portuguesa de Medicina de Adicção elaborou um instrumento para regular as intervenções, o PPC-2r, propõe seis Níveis e seis Dimensões para a abordagem da adicção: Nível 0,5-intervenção precoce para as situações de abuso; Nível I-tratamento ambulatório; Nível II-ambulatório intensivo; nível III-tratamento residencial/internamento, CT; Nível IV-Internamento com apoio médico e psiquiatrico intensivo e Nível TMO-tratamento de Manutenção Opiácea de substituição. Quanto as dimensões o PPC-2r, define: Dimensão 1-intoxicação e sindroma de privação aguda; Dimensão 2-condição biomédica e complicações físicas, eixo III do DSM IV; Dimensão 3-estado emocional, cmportamental e cognitivo, eixo I e II do DSM IV; Dimensão 4-prontidão e disponibilidade para a mudança; Dimesão 5-potencial para a recaída e Dimensão 6-ambiente de recuperação e sistemas sociais de apoio, eixo IV e V do DSM IV. Com base nesta dimensões torna-se poss´vel uma intervenção estruturada (Henriques, 2003).
Nos programas de tratamento são várias as abordagens que passam desde os grupos de auto-ajuda de àlcoolicos Anónimos, aconselhamento individual e de grupo e deve ser incluída também a terapia familiar e as estratégias, skills básicos e avançados para modificação do comportamento e dos crenças com intervenções cognitivas-comportamentais (Scheel, 2001, p. 106).
Em Portugal, O IDT, Instituto da Droga e Toxicodependência tem no seu Plano Nacional os objectivos de promover a qualidade de intervenção, a investigação, elaboração de informação actualizada, promoção de intervenções formativas dirigidas a profissionais, monitorização e avaliação contínua das intervenções nos três níveis de cuidados primários de prevenção, secundários de tratamentoe terciários de reinserção(PNA, 2010, pp. 42-57),. O Plano Nacional para a redução dos Problemas Ligados ao Álcool de 2010 o IDT define áreas prioritárias de intervenção, que incide nos jovens, crianças e grávidas, bem como diminuir a exposição ao fenomeno do álcool e redução dos consumos, redução da sinistralidade rodoviária e prevenir os efeitos nocivos do álcool nos adultos e reduzir as repercurssões negativas no local de trabalho com PAE, Programas de Apoio aos Emprgados (PNA, 2010, p. 35).
No campo de intervenção secundária encontra-se o tratamento:
“Os programas de tratamento devem ser ser contemplados de forma a responder com efiviência às necessidades da população com consumos problemáticos de álcool” (PNA, 2010, p. 37).

Assim, estabelecem-se redes de referenciação e articulação por diferentes vectores de actuação de forma a melhorar às necessidades de tratamento.

O Modelo Bio-Psico-Social emergiu para compreender toda a problemática associada aos consumos do álcool (Scheel, 2001, p. 91). A predisposição hereditária, as alterações químicas no organismo, nas funções mentais, no lobo frontal, na área de wernicke entre outros provocados pelos consumos de álcool bem como os seus efeitos na vida pessoal e da sua integração social levam a necessidade de uma compreensao holística (Scheel, 2001, p. 91).
As pessoas tentam parar sozinhas mas a eficácia é baixa e o tratamento é a via mais segura. Neste modelo não se fala em cura mas sim em recuperação. Sendo que o primeiro passo é a desintoxicação, cujo objectivo é ajudar a estabilizar o paciente fisica e psicologicamente (Scheel, 2001, p. 99).
O Tratamento com mais sucesso para a dependência química é o que combina os principios e o programa dos Doze-Passos dos àlcoolicos Anónimos (A. A.), com aconselhamento e terapia profissional na vertente cognitiva-comportamental (Gorsky, 1986, p. 25). Por direito próprio o tratamento mais efectivo é a abordagem bio-psico-social que combina a filosofia dos A. A. com a entrevista motivacinal e a prevenção à recaída (Scheel, 2001, p. 215).
Os grupos de auto-ajuda dos àlcoolicos Ánonimos tem como filosofia de base  um programa de Doze-Passos e Doze-Tradições, são homens e mulheres àlcoolicos com o desejo de parar de usar que se reunem com regularidade com o sentido de se auto-ajudarem no caminho da recuperação. Este programa tem o seu inicio nos anos trinta com Bill W. e Dr. Bob. Bill era um álcoolico corretor da bolsa e com sérios problemas provocados pela ingestão de álcool. Apesar de querer parar não percebia porque voltava a beber. Um dia com uma forte vontade de beber resolve pedir ajuda e vai falar com Dr. Bob, um médico da localidade com graves problemas de álcool. Não vai com o intuíto de o ajudar mas pede-lhe cinco minutos do seu tempo para se poder ajudar a ele porque tem fortes vontades de beber mas não pode. Falaram cerca de cinco horas sobre o que acontecia quando bebiam, não das memórias eufóricas, mas do problema do primeiro copo e da forma como perdiam o controlo e como se sentiam. As vontades de beber foram-se e juntos resolveram manterem-se abstinentes pela partilha procurando ajuda e dando a outros, no dia 10 de Junho de 1935 fundam os Alcoólicos Anónimos (Scheel, 2001, p. 115). Os Doze Passos nasceram assim para as pessoas com problemas de álcool poderem se ajudar, serem ajudados e darem ajuda para se manterem sóbrios. são um grupo de voluntários onde não há lugar a descriminação, não olham a raça, ao sexo, a religião. O anonimato é uma forma de protecção dos seus membros. Os A.A. acreditam que o Alcoolismo é uma doença que não pode ser curada mas que a sua progressão pode ser travada pela recuperação. São uma Organização Mundial com mais de 15 milhões de pessoas em pelo menos 134 países (Scheel, 2001, p. 116).
O Modelo Minnesota baseia-se na filosofia dos A.A. e dos seus Doze-passos. Em meados do Século XX, as Instituições Psiquiatricas, hospitais, sofriam uma revolução e homens com Daniel Anderson e Nelson Bradley do Wilmar State Hospital, são os arquitectos pricipais da experiência multidisciplinar e fundam em 1950 aquele que é hoje o método Minnesota (Margalho Carrilho, 1996) acreditavam no potencial do paciente para a sua recuperação numa fusão genial e pragmática de princípios oriundos das ciências médica e psicológica e estrutura vivencial em comunidade associando a filosofia dos Alcoólicos Anónimos. Instituições como Hazelden Foundation, O Centro de Estudos Cientificos Betty Ford, Pioneer House entre muitos de renome adaptaram esta abordagem para tratamento das pessoas com problemas com o álcool. No Modelo Minnesota a abordagem é caracterizada por uma avalição completa, holistica e sistémica, multimodal num contexto Bio-Psico-Social. A composição da equipa é multidisciplinar e o seu principal objectivo é de que a abstinência é um pré-requesito e o tratamento fornece ferramentas ao cliente para aprender novas maneiras de viver sem o uso de álcool. O seu objectivo final é a mudança de personalidade e de pensamento. Os programas de Prevenção à recaída são uma peça fundamental deste modelo (Scheel, 2001, p. 118)
A recaída é considerada como um sintoma do álcoolismo. Estudos demonstram que 54% das pessoas recaiem e que desses apenas 1/3 vão se manter sóbrios ao longo da sua vida (Simpson, Joe & Lehman, 1986 cit. in Scheel, 2001, p. 237)[2]. Metodologias de prevenção de prevenção são importantes para o sucesso do tratamento. O Modelo de Gorsky para a prevenção à recaída aponta para que 1/3 dos pacientes nunca recaíe, o outro 1/3 recaíe tem sucessivas recaídas antes de entrarem em recuperação e os que nunca vão entar em recuperação (Gorky, 1986, pp. 9-12). Gorsky estudo o porquê das pessoas apesar de quererem parar e manterem-se sóbrias acabavam por recaír e identificou três fases com Disfunção interna, Externa e Perda de Controlo, com sinais específicos, que aumentam o risco de recaída e que se forem identificados pode-se  ajudar o paciente a reduzi-los ou a aprender a lidar com eles (Gorsky, 1986, pp. 9-12).
O modelo bio-psico-social de Gorsky, evolução do modelo médico, considera que os objectivos genéricos de um programa de recuperação são: Reconhecer a dependência química como uma doença; Aceitar a necessidade de abstinência total; Estabelecer um programa para manter a abstinência; Diagnosticar e tratar problemas bio-psico-sociais que possam interferir com a sobriedade (Henriques, 2003)[3]

O conceito de processo de recaída vai contra a ideia tradicional de que a recaída começa com o uso de álcool. “Muitas pessoas tornam-se disfuncionais em sobriedade, antes de recomeçarem a beber” (Gorsky, 1986, p. 14). A abstinência permite o processo de recuperação e começa com a aceitação do que a pessoa não pode usar de forma controlada e segura o álcoo. Reflectindo sobre o que aconteceu com ajuda terapeutica o processo de mudança começa a acontecer, no entanto, apesar de ser esse o ponto de partida para uma vida normal, aprender a viver de forma satisfátoria sem beber requer muito mais e torna-se necessário corrigir os danos físicos, psicológicos e sociais causados pela adicção (Gorsky, 1986, p. 15).
Recuperar implica parar e mudar de um locus de controlo mais externo para um mais interno. A gestão de sintomas de abstinência que surgem após a fase aguda de desintoxicação, Sintomas de Abstinência a Longo-Prazo, ALP, são o que torna para os álcoolicos a sobriedade tão dificil (Gorsky, 1986, pp. 27-28) porque é a síndrome bio-psico-social que resulta da combinação das danos causados pela droga no Sistema Nervosos Central e do stress de enfrentar a cvida sem álcool. Segundo Gorsky estes sintomas podem ter diversos padrões e aprender a lidar com eles requer estratégias e podem ser controlados pela estabilização, educação e reaprendizagem, nutrição, exercicio fisico, relaxação, espiritualidade e uma vida equilibrada (Gorsky, 1986, pp. 33-40).
Mudar provoca stress, nos seus estudos sobre o que leva as pessoas a recairem? Gorsky identifica que as pessoas que recaiem não tem consciência dos primeiros sinais de aviso e identifica 37 sinais que se manifestam em três fases principais e dez etapas até ao acto de beber ou ao colapso físico e emocional (Gorsky, 1986, pp. 72-84).
Os programas de tratamento acompanham os pacientes nestas fases de mudança de forma a reduzir os riscos de recaída, sendo os pacientes encorajados a irem as reuniões dos grupos de auto-ajuda dos A.A. como forma de seguirem um programa e manterem no estágio de manutenção (Gorsky, 1986, p. 105).
Mas então o que é na realidade motivação para mudar. Miller & Rollnick na seu livro Preparar as pessoas para Mudarem os seus Comportamentos Adictivos de 1991, apresentam que a motivação é muitas vezes vista como: Concordar com oterapeuta, aceitar o seu diagnóstico, admitir que se é um álcoolico, expressar um desejo real de querer recuperar e de precisar de ajuda e seguir os conselhos do seu Conselheiro. E, que se o paciente não apresentar estas características não está suficientemente motivado. Gorsky nas suas palestars refere-se ao conceito de doença e como se pode recusar ajudar uma pessoa que não sabe que precisa de ajuda mas que no entanto sofre com isso, “Como podemos dizer a uma pessoa que sofre de um ataque de coração, pedimos desculpa mas este é o seu terceiro ataque e assim não o podemos ajudar mais”. As declarações por si só não dão garantias de que se vai mudar o que parece resultar é um plano de acção e de prevenção (Miller & Rollnick, 1991, p. 12).
A probabilidade de que uma pessoa entre, continue e adere a uma determinada estratégia deve ser um papel fundamental do terapeuta. É da sua responsabilidade usar técnicas especiais para aumentar as probabilidades do sucesso da mudança dos comportamentos adictivos usando abordagens efectivas de motivação.

O Modelo Transteórico de Mudança
Desenvolvido por Prochaska e DiClemente este modelo teve um impacto significativo no campo das adicções, através do conceito de estágios de mudança. Os autores diferenciaram as etapas pelas quais qualquer pessoa passa quando vivência um processo de mudança de um comportamento (Carneiro & Gigliotti, 2004, p. 99).
Neste modelo as mudanças ocorrem em etapas progressivas e cada etapa possuí características próprias, sendo necessário a utilização de recursos técnicos diferenciados em cada momento (Miller & Rollnick, 1991 p. 56). Este Modelo influência drasticamente a maneira de trabalhar dos profissionais de saúde que operam mudanças no comportamento. Os estágios de mudança de Prochaska e DiClemente, “The Well of change” (Miller, Rollnick, 1991 cit. in Ferreira-Borges & Cunha Filho, 2004, p. 99)[4] são: Pré-Contemplação; Contemplação; Preparação; Acção; Manutenção e de Recaída ou Lapso podendo haver uma saída permanente ou reentrada na “roda”. Em Pré-Contemplação, o sujeito, não tem consciência do seu problema e não quer modificá-lo. Podendo ser trazido para tratamento sob coerção. Os pré-Contemplativos dividem-se em quatro tipos: Os 4r’s, relutantes, rebeldes, racionalizadores e os resignados. É um grande erro acreditar que não se pode fazer nada por eles (Carneiro & Gigliotti, 2004, p. 101) e a grande meta é ajudá-los a tornarem-se contempladores, a começarem a questionar o seu comportamento. Na Contemplação ou ambivalência, o cliente aceita a ideia de que tem um problema mas rejeita-o, começa a reflectir sobre aquilo que o tem vindo a prejudicar mas no entanto sente-se dividido, tem razões para mudar e razões para não mudar, ainda não tomou uma decisão. Aqui o papel do terapeuta será ajudá-lo a passar para a outra fase, ou seja, fazendo pender a balança e preparando-o para a acção. O momento da acção é onde a pessoa se envolve objectivamente na mudança de comportamento (Carneiro & Gigliotti, 2004, p. 102). Neste estágio concretiza as mudanças planeadas e implementa o plano delineado no estágio anterior. Interrompe o comportamento que o tem prejudicado. A fase de consolidação da prática dos planos de acção é a manutenção. Este estágio perpetua-se por toda a vida sendo assim atingido a saída permanente.
Muitas vezes o cliente baixa a guarda, diminuem as suas preocupações de manutenção, por vezes imagina-se curado, e aqui o processo pode se inverter e levar a uma recaída ou lapso. A recaída faz parte do processo de mudança e pode ser um boa aprendizagem e reforço para nova tentativa (Carneiro & Gigliotti, 2004, p. 103).

Baseiando-se no Modelo de estágios de Mudança “A Entrevista Motivacional de Miller & Rollnick é a técnica mais actual desenvolvida para mudanças de comportamento” (Carneiro & Gigliotti, 2004, p. 103). Revolucionou o tratamento de Dependência Química. Assenta em duas premissas básicas: De que existe uma abordagem para cada paciente dependendo do estágio de mudança em que a pessoa se encontre e que o estilo do terapeuta é mais importante do que a técnica eleita para o tratamento (Carneiro & Gigliotti, 2004, p. 103). Aqui ganha forma o quanto é importante mudar para determinada pessoa e quanto é que essa pessoa confia na sua capacidade para executar a mudança. Esta abordagem faz tábua rasa e evita qualquer rótulo. O modo como se lida com a resistência é fundamental para se implementar de forma eficiente é fundamental para se implementar a abordagem motivacional. Devendo-se usar técnicas relexivas e respostas estratégicas (Carneiro & Gigliotti, 2004, p. 104).
A abordagem motivacional é directiva, vai buscar características as não-directivas mas é claro que se estabelecem metas defenidas e são utilizadas técnicas específicas para as alcançar (Miller & Rollnick, 1991 p. 47). A entrevista motivacional propõe que os profissionais dêem sempre aos pacientes a sensação de que eles é que estão a fazer escolhas para a sua vida e que nada lhes está a ser imposto (Carneiro & Gigliotti, 2004, p. 107). A Remoção de Barreiras é um factor importante para a adesão ao tratamento e a acção do terapeuta é capaz de diminuir ou aumentar a resistência. Não sendo uma abordagem Rogeriana vai buscar conceitos como a empatia a Rogers. Onde a capacidade de se colocar no lugar do outro não é conduzir o seu “carro”. A empatia é uma forte preditora do sucesso terapeutico ao contrário dos métodos de confronto mais agressivos que não obtiveram nenhuma correlação com o sucesso do tratamento mas sim com o aumento das defesas e da desmotivação (Miller & Rollnick, 1991 p. 13). O seu grande objectivo é confrontar o paciente com a sua verdade e com uma estratégia para o aumento da motivação para a mudança não é necessário aumentar o tom de voz. Se for dado feedback ao paciente sobre a sua condição e os riscos do seu comportamento de forma empática isso aumenta a probabilidade de o paciente ouvir e de se questionar (Carneiro & Gigliotti, 2004, p. 108).

Em suma, o Modelo Bio-Psico-Social emergiu para compreender toda a problemática associada aos consumos adictivos do álcool e os objectivos do tratamento devem seguir critérios rigorosos de triagem e avaliação. As componentes mais efectivas para um tratamento de sucesso está na relação terapeutica e no uso de estratégias próprios para levar a mudança do comportamento de risco. Sendo que as abordagens Cognitivo-Comportamental, a Entrevista Motivacional e a Prevenção à recaída tem-se mostrado eficazes na abordagem do problema.
Em Portugal o Tratamento constitui um dos pilares ffundamentais da acção estratégica do IDT na diminuação de riscos e das consequências dos consumos de substâncias psicoactivas.
Os objectivos das comunidades terapeuticas incluem a habilitação ou reabilitação total do individuo dando inicio a uma aprendizagem de mudança dos comportamenos negativos, de pensamentos e emoções que possam predispor ao consumo de álcool. Tendo como meta o desenvolvimento de um estilo de vida saúdavel (Scheel, 2001, p. 112).



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