*Álvaro Augusto dos Santos Carvalho
RESUMO
O presente trabalho visa a
aquisição de conhecimentos e competências de intervenção do psicólogo clínico e
da saúde no tratamento dos problemas ligados ao Álcool. O Álcool, O Alcoolismo
e o Alcoolico são aqui abordados no desenvolvimento das suas dimensões. Com
base no Plano
Nacional para a redução dos Problemas Ligados ao Álcool de 2010 – 2012; de Novembro
2009 do Instituto da Droga e da Toxicodependência, reflecte-se sobre o terreno de actuação.
Esta problemática afecta os individuos e a sociedade em toda as suas dimensões
Bio-Psico-Sociais. O tratamento combina várias vertentes sendo o mais efiscaz o
que combina a terapia Cognitiva-Comportamental com os grupos de Auto-ajuda dos Alcoólicos
Anónimos e Prevenção à Recaída. Neste ambito foi realizada uma visita à Unidade
de Alcoologia de Lisboa bem como uma entrevista sobre o papel do psicologo.
Palvras-Chave: Álcool; Álcoolismo; Álcoolico;
Bio-Psico-Social;Tratamento.
O objectivo deste trabalho é dar a conhecer modelos e competências de
intervenção da prática clínica na saúde do Psicólogo e em concreto no
Alcoolismo.
A psicologia clínica define-se como um método, na medida em que postula a
avaliação e o diagnóstico criteriosos do sujeito a fim de viabilizar a
intervenção com diferentes técnicas. O campo de actuação do psicologo inserido
na área da saúde é oltado para a superação do sofrimento psíquico dos sujeitos
(Schneider, 2002).
A saúde e principalmente, a doença, têm sido tradicionalmente objecto de
estudo e intervenção da medicina e das ciências (McIntyre, 1994 p. 17). A
psicologia ocupa um lugar previligiado como ciência social e do comportamento
para a promoção da saúde e bem-estar. Os psicologos da sáude actuam no
desenvolvimento de programas comportamentais para promover comportamentos para
a saúde e extinguir comportamentos de risco (McIntyre, 1994 p. 28).
Sabendo-se que o
estado de saúde está intimamente ligado aos estilos de vida, é necessário
promover a adopção de comportamentos saudáveis, sensibilizando os indivíduos para
a redução dos comportamentos mais prejudiciais para a saúde, facilitando
informação que permita decisões autónomas e escolhas informadas, de acordo com
a liberdade individual (2010 PNA, p. 2).
A Organização
Mundial de Saúde, publicado no the Journal of American Medical Association em
26 de agosto de 1992, define que o alcoolismo é uma doença primária, crónica,
com factores genéticos, psicossociais e ambientais. A doença é geralmente
progressiva e fatal. Primária porque é uma entidade em si própria não é causada
por outros factores. É crónica porque a pessoa não volta a beber de forma
controlada ou normal e é progressiva porque os sintomas e as consequências
continuam a ocorrer com gravidade crescente e utilização continua (Scheel, 2001,
pp. 90-92).
O Alcoolismo.
O presente Plano Nacional para a Redução dos Problemas Ligados ao Álcool
pretende, antes de mais, operacionalizar a maioria das intenções explicitadas
no Plano de Acção contra o Alcoolismo, e o seu objectivo primordial consiste em
reduzir de forma significativa o consumo nocivo de álcool entre a população e
diminuir os seus efeitos perniciosos em termos sociais e de saúde (2010, IDT,
p. 1).
A eficácia das intervenções em geral está intimamente associada ao
conjunto das boas práticas levadas a cabo por profissionais competentes. Os
indivíduos com dependência, bem como os que apresentam co-morbilidade médica,
psiquiátrica ou aditiva, devem beneficiar de tratamentos mais intensivos,
ministrados por profissionais especializados, em Unidades específicas. Os
indivíduos com dependência, bem como os que apresentam co-morbilidade médica,
psiquiátrica ou aditiva, devem beneficiar de tratamentos mais intensivos,
ministrados por profissionais especializados, em Unidades específicas (2010, PNA,
IDT, p. 7).
A dependência alcoólica corresponde
a um conjunto de fenómenos fisiológicos, cognitivos e comportamentais que podem
desenvolver-se após uso repetido de álcool. Inclui um desejo intenso de
consumir bebidas, descontrolo sobre o seu uso, continuação dos consumos independentemente
das consequências, uma alta prioridade dada aos consumos em detrimento de
outras actividades e obrigações, aumento da tolerância ao álcool e sintomas de
privação quando o consumo é descontinuado (OMS, 1992). Trata-se de “uma doença
primária, crónica, cujo desenvolvimento e manifestações são influenciados por
factores genéticos, psicológicos, sociais e ambientais; a doença é
frequentemente progressiva e fatal; caracteriza-se por uma perda de controlo do
consumo, permanente ou temporária, com o uso de álcool apesar das consequências
negativas e acompanha-se de distorções cognitivas, com particular ênfase para a
negação” (McQueen, 2004, cit in PNA, IDT, p. 6)[1].
A doença Adictiva ou adicção é uma doença em que a pessoa desenvolve
dependência bio-psico-social de qualquer substância que altere o humor “ Uma
relação patológica de amor e confiança com um objecto ou acontecimento (Nakken,
1988, p. 22). A adicção leva a pessoa a obter gratificação imediata e
desconforto a longo-prazo (Gorsky, 1986, p. 18). Quando não usa a pessoa que
sofre de adicção, pensa, planeia e só deseja voltar a usar e isso é a obsessão.
A compulsão é a urgência irressistível de satisfazer essa necessidade e usar de
novo. Cria-se um Ciclo Adictivo onde o
pensamento adictivo é activado pela obsessão e compulsão que levam à negação,
incapacidade de reconhecer que existe um problema e a Racionalização, acusar e
atribuir a causas externas a responsabilidade (Gorsky, 1986, p. 23).
Nas últimas décadas, tem sido feito um esforço pela medicina na
identificação das doenças, através de sinais e sintomas, exames, diagnósticos,
testes, avaliação para identificação das suas causas e investigação da eficácia
dos tratamentos (Cunha Filho H., 2004, p. 138). Torna-se importante a definição
de um quadro claro sobre o cliente, que permita a decissão sobre como ajudar a
cada momento do processo (Cunha Filho H., 2004, p. 141). Para isso a utilização
de instrumentos baseia-se numa abordagem sistematizada com a triagem e a
avaliação. Por triagem entenda-se que:
“é o processo
através do qual terapeuta, cliente e outras pessoas significativas determinam a
acção mais apropriada a seguir, de acordo com as necessidades e com os recursos
disponíveis na comunidade”. (Cunha Filho H., 2004, p. 136)
Na Avaliação o que é tido em conta é o desenvolvimento físico e problemas
médicos e de saúde, HIV, Hepatites, tuberculose história dos consumos,
tentativas de parar de usar, outros tratamentos, problemas associados aos
consumos psico-sociais, desordens psiquiatricas, família, relações
significativas, área educacional e ocacional e ainda legais e financeiros
(Scheel, 2001, p. 133).
A triagem e a avaliação permitem
escolher e adaptar o melhor setting para o paciente e o tratamento é composto
por uma série de abordagens quer com bases biologicas, comportamentais e
psico-sociais. Na abordagem biologica, farmacologica é usada o disulferam, um
anti-abuse que interfere com o metabolismo do álcool e causa efeitos
desagradáveis na pessoa se o ingerir, sendo muito usado com sucesso na
prevenção à recaída (Scheel, 2001, p. 108). É nas variantes comportamentais e
ou psico-sociais que se incluem modalidades de tratamento em consulta, em
ambulatório ou semi, bem como o internamento hospitalar, comunidades
terapeuticas em regime de internamento, havendo programas diversos quer no
tempo quer nos modelos de intervenção adotados (Scheel, 2001, p. 112).
Os critérios de encaminhamento da ASAM - American Society of Adiction
Medicine – em Portugal APMA Associação Portuguesa de Medicina de Adicção
elaborou um instrumento para regular as intervenções, o PPC-2r, propõe seis Níveis
e seis Dimensões para a abordagem da adicção: Nível 0,5-intervenção precoce
para as situações de abuso; Nível I-tratamento ambulatório; Nível
II-ambulatório intensivo; nível III-tratamento residencial/internamento, CT;
Nível IV-Internamento com apoio médico e psiquiatrico intensivo e Nível
TMO-tratamento de Manutenção Opiácea de substituição. Quanto as dimensões o
PPC-2r, define: Dimensão 1-intoxicação e sindroma de privação aguda; Dimensão
2-condição biomédica e complicações físicas, eixo III do DSM IV; Dimensão
3-estado emocional, cmportamental e cognitivo, eixo I e II do DSM IV; Dimensão
4-prontidão e disponibilidade para a mudança; Dimesão 5-potencial para a recaída
e Dimensão 6-ambiente de recuperação e sistemas sociais de apoio, eixo IV e V
do DSM IV. Com base nesta dimensões torna-se poss´vel uma intervenção
estruturada (Henriques, 2003).
Nos programas de tratamento são várias as abordagens que passam desde os
grupos de auto-ajuda de àlcoolicos Anónimos, aconselhamento individual e de
grupo e deve ser incluída também a terapia familiar e as estratégias, skills
básicos e avançados para modificação do comportamento e dos crenças com
intervenções cognitivas-comportamentais (Scheel, 2001, p. 106).
Em Portugal, O IDT, Instituto da Droga e Toxicodependência tem no seu
Plano Nacional os objectivos de promover a qualidade de intervenção, a
investigação, elaboração de informação actualizada, promoção de intervenções
formativas dirigidas a profissionais, monitorização e avaliação contínua das
intervenções nos três níveis de cuidados primários de prevenção, secundários de
tratamentoe terciários de reinserção(PNA, 2010, pp. 42-57),. O Plano Nacional
para a redução dos Problemas Ligados ao Álcool de 2010 o IDT define áreas
prioritárias de intervenção, que incide nos jovens, crianças e grávidas, bem
como diminuir a exposição ao fenomeno do álcool e redução dos consumos, redução
da sinistralidade rodoviária e prevenir os efeitos nocivos do álcool nos
adultos e reduzir as repercurssões negativas no local de trabalho com PAE,
Programas de Apoio aos Emprgados (PNA, 2010, p. 35).
No campo de intervenção secundária encontra-se o tratamento:
“Os programas
de tratamento devem ser ser contemplados de forma a responder com efiviência às
necessidades da população com consumos problemáticos de álcool” (PNA, 2010, p.
37).
Assim,
estabelecem-se redes de referenciação e articulação por diferentes vectores de
actuação de forma a melhorar às necessidades de tratamento.
O Modelo Bio-Psico-Social emergiu para compreender toda a problemática
associada aos consumos do álcool (Scheel, 2001, p. 91). A predisposição
hereditária, as alterações químicas no organismo, nas funções mentais, no lobo
frontal, na área de wernicke entre outros provocados pelos consumos de álcool
bem como os seus efeitos na vida pessoal e da sua integração social levam a
necessidade de uma compreensao holística (Scheel, 2001, p. 91).
As pessoas tentam parar sozinhas mas a eficácia é baixa e o tratamento é
a via mais segura. Neste modelo não se fala em cura mas sim em recuperação.
Sendo que o primeiro passo é a desintoxicação, cujo objectivo é ajudar a
estabilizar o paciente fisica e psicologicamente (Scheel, 2001, p. 99).
O Tratamento com mais sucesso para a dependência química é o que combina
os principios e o programa dos Doze-Passos dos àlcoolicos Anónimos (A. A.), com
aconselhamento e terapia profissional na vertente cognitiva-comportamental (Gorsky,
1986, p. 25). Por direito próprio o tratamento mais efectivo é a abordagem
bio-psico-social que combina a filosofia dos A. A. com a entrevista motivacinal
e a prevenção à recaída (Scheel, 2001, p. 215).
Os grupos de auto-ajuda dos àlcoolicos Ánonimos tem como filosofia de
base um programa de Doze-Passos e
Doze-Tradições, são homens e mulheres àlcoolicos com o desejo de parar de usar
que se reunem com regularidade com o sentido de se auto-ajudarem no caminho da
recuperação. Este programa tem o seu inicio nos anos trinta com Bill W. e Dr.
Bob. Bill era um álcoolico corretor da bolsa e com sérios problemas provocados
pela ingestão de álcool. Apesar de querer parar não percebia porque voltava a
beber. Um dia com uma forte vontade de beber resolve pedir ajuda e vai falar
com Dr. Bob, um médico da localidade com graves problemas de álcool. Não vai
com o intuíto de o ajudar mas pede-lhe cinco minutos do seu tempo para se poder
ajudar a ele porque tem fortes vontades de beber mas não pode. Falaram cerca de
cinco horas sobre o que acontecia quando bebiam, não das memórias eufóricas,
mas do problema do primeiro copo e da forma como perdiam o controlo e como se
sentiam. As vontades de beber foram-se e juntos resolveram manterem-se
abstinentes pela partilha procurando ajuda e dando a outros, no dia 10 de Junho
de 1935 fundam os Alcoólicos Anónimos (Scheel, 2001, p. 115). Os Doze Passos
nasceram assim para as pessoas com problemas de álcool poderem se ajudar, serem
ajudados e darem ajuda para se manterem sóbrios. são um grupo de voluntários
onde não há lugar a descriminação, não olham a raça, ao sexo, a religião. O
anonimato é uma forma de protecção dos seus membros. Os A.A. acreditam que o
Alcoolismo é uma doença que não pode ser curada mas que a sua progressão pode
ser travada pela recuperação. São uma Organização Mundial com mais de 15
milhões de pessoas em pelo menos 134 países (Scheel, 2001, p. 116).
O Modelo Minnesota baseia-se na filosofia dos A.A. e dos seus
Doze-passos. Em meados do Século XX, as Instituições Psiquiatricas, hospitais,
sofriam uma revolução e homens com Daniel Anderson e Nelson Bradley do Wilmar
State Hospital, são os arquitectos pricipais da experiência multidisciplinar e
fundam em 1950 aquele que é hoje o método Minnesota (Margalho Carrilho, 1996)
acreditavam no potencial do paciente para a sua recuperação numa fusão genial e
pragmática de princípios oriundos das ciências médica e psicológica e estrutura
vivencial em comunidade associando a filosofia dos Alcoólicos Anónimos.
Instituições como Hazelden Foundation, O Centro de Estudos Cientificos Betty
Ford, Pioneer House entre muitos de renome adaptaram esta abordagem para
tratamento das pessoas com problemas com o álcool. No Modelo Minnesota a
abordagem é caracterizada por uma avalição completa, holistica e sistémica,
multimodal num contexto Bio-Psico-Social. A composição da equipa é
multidisciplinar e o seu principal objectivo é de que a abstinência é um
pré-requesito e o tratamento fornece ferramentas ao cliente para aprender novas
maneiras de viver sem o uso de álcool. O seu objectivo final é a mudança de
personalidade e de pensamento. Os programas de Prevenção à recaída são uma peça
fundamental deste modelo (Scheel, 2001, p. 118)
A recaída é considerada como um sintoma do álcoolismo. Estudos demonstram
que 54% das pessoas recaiem e que desses apenas 1/3 vão se manter sóbrios ao
longo da sua vida (Simpson, Joe & Lehman, 1986 cit. in Scheel, 2001, p. 237)[2]. Metodologias
de prevenção de prevenção são importantes para o sucesso do tratamento. O
Modelo de Gorsky para a prevenção à recaída aponta para que 1/3 dos pacientes
nunca recaíe, o outro 1/3 recaíe tem sucessivas recaídas antes de entrarem em
recuperação e os que nunca vão entar em recuperação (Gorky, 1986, pp. 9-12).
Gorsky estudo o porquê das pessoas apesar de quererem parar e manterem-se
sóbrias acabavam por recaír e identificou três fases com Disfunção interna,
Externa e Perda de Controlo, com sinais específicos, que aumentam o risco de
recaída e que se forem identificados pode-se ajudar o paciente a reduzi-los ou a aprender a
lidar com eles (Gorsky, 1986, pp. 9-12).
O modelo bio-psico-social de Gorsky, evolução do modelo médico, considera
que os objectivos genéricos de um programa de recuperação são: Reconhecer a
dependência química como uma doença; Aceitar a necessidade de abstinência
total; Estabelecer um programa para manter a abstinência; Diagnosticar e tratar
problemas bio-psico-sociais que possam interferir com a sobriedade (Henriques,
2003)[3]
O conceito de processo de recaída vai contra a ideia tradicional de que a
recaída começa com o uso de álcool. “Muitas pessoas tornam-se disfuncionais em
sobriedade, antes de recomeçarem a beber” (Gorsky, 1986, p. 14). A abstinência
permite o processo de recuperação e começa com a aceitação do que a pessoa não
pode usar de forma controlada e segura o álcoo. Reflectindo sobre o que
aconteceu com ajuda terapeutica o processo de mudança começa a acontecer, no
entanto, apesar de ser esse o ponto de partida para uma vida normal, aprender a
viver de forma satisfátoria sem beber requer muito mais e torna-se necessário
corrigir os danos físicos, psicológicos e sociais causados pela adicção
(Gorsky, 1986, p. 15).
Recuperar implica parar e mudar de um locus de controlo mais externo para
um mais interno. A gestão de sintomas de abstinência que surgem após a fase
aguda de desintoxicação, Sintomas de Abstinência a Longo-Prazo, ALP, são o que
torna para os álcoolicos a sobriedade tão dificil (Gorsky, 1986, pp. 27-28)
porque é a síndrome bio-psico-social que resulta da combinação das danos
causados pela droga no Sistema Nervosos Central e do stress de enfrentar a
cvida sem álcool. Segundo Gorsky estes sintomas podem ter diversos padrões e
aprender a lidar com eles requer estratégias e podem ser controlados pela
estabilização, educação e reaprendizagem, nutrição, exercicio fisico,
relaxação, espiritualidade e uma vida equilibrada (Gorsky, 1986, pp. 33-40).
Mudar provoca stress, nos seus estudos sobre o que leva as pessoas a
recairem? Gorsky identifica que as pessoas que recaiem não tem consciência dos
primeiros sinais de aviso e identifica 37 sinais que se manifestam em três
fases principais e dez etapas até ao acto de beber ou ao colapso físico e
emocional (Gorsky, 1986, pp. 72-84).
Os programas de tratamento acompanham os pacientes nestas fases de mudança
de forma a reduzir os riscos de recaída, sendo os pacientes encorajados a irem
as reuniões dos grupos de auto-ajuda dos A.A. como forma de seguirem um
programa e manterem no estágio de manutenção (Gorsky, 1986, p. 105).
Mas então o que é na realidade motivação para mudar. Miller &
Rollnick na seu livro Preparar as pessoas para Mudarem os seus Comportamentos
Adictivos de 1991, apresentam que a motivação é muitas vezes vista como:
Concordar com oterapeuta, aceitar o seu diagnóstico, admitir que se é um
álcoolico, expressar um desejo real de querer recuperar e de precisar de ajuda
e seguir os conselhos do seu Conselheiro. E, que se o paciente não apresentar
estas características não está suficientemente motivado. Gorsky nas suas
palestars refere-se ao conceito de doença e como se pode recusar ajudar uma
pessoa que não sabe que precisa de ajuda mas que no entanto sofre com isso,
“Como podemos dizer a uma pessoa que sofre de um ataque de coração, pedimos
desculpa mas este é o seu terceiro ataque e assim não o podemos ajudar mais”.
As declarações por si só não dão garantias de que se vai mudar o que parece
resultar é um plano de acção e de prevenção (Miller & Rollnick, 1991, p.
12).
A probabilidade de que uma pessoa entre, continue e adere a uma
determinada estratégia deve ser um papel fundamental do terapeuta. É da sua
responsabilidade usar técnicas especiais para aumentar as probabilidades do
sucesso da mudança dos comportamentos adictivos usando abordagens efectivas de
motivação.
O Modelo
Transteórico de Mudança
Desenvolvido por Prochaska e DiClemente este modelo teve um impacto
significativo no campo das adicções, através do conceito de estágios de
mudança. Os autores diferenciaram as etapas pelas quais qualquer pessoa passa
quando vivência um processo de mudança de um comportamento (Carneiro &
Gigliotti, 2004, p. 99).
Neste modelo as mudanças ocorrem em etapas progressivas e cada etapa possuí
características próprias, sendo necessário a utilização de recursos técnicos
diferenciados em cada momento (Miller & Rollnick, 1991 p. 56). Este Modelo
influência drasticamente a maneira de trabalhar dos profissionais de saúde que
operam mudanças no comportamento. Os estágios de mudança de Prochaska e
DiClemente, “The Well of change” (Miller, Rollnick, 1991 cit. in Ferreira-Borges
& Cunha Filho, 2004, p. 99)[4] são:
Pré-Contemplação; Contemplação; Preparação; Acção; Manutenção e de Recaída ou
Lapso podendo haver uma saída permanente ou reentrada na “roda”. Em
Pré-Contemplação, o sujeito, não tem consciência do seu problema e não quer
modificá-lo. Podendo ser trazido para tratamento sob coerção. Os
pré-Contemplativos dividem-se em quatro tipos: Os 4r’s, relutantes, rebeldes,
racionalizadores e os resignados. É um grande erro acreditar que não se pode
fazer nada por eles (Carneiro & Gigliotti, 2004, p. 101) e a grande meta é
ajudá-los a tornarem-se contempladores, a começarem a questionar o seu
comportamento. Na Contemplação ou ambivalência, o cliente aceita a ideia de que
tem um problema mas rejeita-o, começa a reflectir sobre aquilo que o tem vindo
a prejudicar mas no entanto sente-se dividido, tem razões para mudar e razões
para não mudar, ainda não tomou uma decisão. Aqui o papel do terapeuta será
ajudá-lo a passar para a outra fase, ou seja, fazendo pender a balança e preparando-o
para a acção. O momento da acção é onde a pessoa se envolve objectivamente na
mudança de comportamento (Carneiro & Gigliotti, 2004, p. 102). Neste
estágio concretiza as mudanças planeadas e implementa o plano delineado no
estágio anterior. Interrompe o comportamento que o tem prejudicado. A fase de
consolidação da prática dos planos de acção é a manutenção. Este estágio
perpetua-se por toda a vida sendo assim atingido a saída permanente.
Muitas vezes o cliente baixa a guarda, diminuem as suas preocupações de
manutenção, por vezes imagina-se curado, e aqui o processo pode se inverter e
levar a uma recaída ou lapso. A recaída faz parte do processo de mudança e pode
ser um boa aprendizagem e reforço para nova tentativa (Carneiro &
Gigliotti, 2004, p. 103).
Baseiando-se no Modelo de estágios de Mudança “A Entrevista Motivacional
de Miller & Rollnick é a técnica mais actual desenvolvida para mudanças de
comportamento” (Carneiro & Gigliotti, 2004, p. 103). Revolucionou o
tratamento de Dependência Química. Assenta em duas premissas básicas: De que
existe uma abordagem para cada paciente dependendo do estágio de mudança em que
a pessoa se encontre e que o estilo do terapeuta é mais importante do que a
técnica eleita para o tratamento (Carneiro & Gigliotti, 2004, p. 103). Aqui
ganha forma o quanto é importante mudar para determinada pessoa e quanto é que
essa pessoa confia na sua capacidade para executar a mudança. Esta abordagem
faz tábua rasa e evita qualquer rótulo. O modo como se lida com a resistência é
fundamental para se implementar de forma eficiente é fundamental para se
implementar a abordagem motivacional. Devendo-se usar técnicas relexivas e
respostas estratégicas (Carneiro & Gigliotti, 2004, p. 104).
A abordagem motivacional é directiva, vai buscar características as
não-directivas mas é claro que se estabelecem metas defenidas e são utilizadas
técnicas específicas para as alcançar (Miller & Rollnick, 1991 p. 47). A
entrevista motivacional propõe que os profissionais dêem sempre aos pacientes a
sensação de que eles é que estão a fazer escolhas para a sua vida e que nada
lhes está a ser imposto (Carneiro & Gigliotti, 2004, p. 107). A Remoção de
Barreiras é um factor importante para a adesão ao tratamento e a acção do
terapeuta é capaz de diminuir ou aumentar a resistência. Não sendo uma
abordagem Rogeriana vai buscar conceitos como a empatia a Rogers. Onde a
capacidade de se colocar no lugar do outro não é conduzir o seu “carro”. A
empatia é uma forte preditora do sucesso terapeutico ao contrário dos métodos
de confronto mais agressivos que não obtiveram nenhuma correlação com o sucesso
do tratamento mas sim com o aumento das defesas e da desmotivação (Miller &
Rollnick, 1991 p. 13). O seu grande objectivo é confrontar o paciente com a sua
verdade e com uma estratégia para o aumento da motivação para a mudança não é
necessário aumentar o tom de voz. Se for dado feedback ao paciente sobre a sua
condição e os riscos do seu comportamento de forma empática isso aumenta a
probabilidade de o paciente ouvir e de se questionar (Carneiro & Gigliotti,
2004, p. 108).
Em suma, o Modelo Bio-Psico-Social emergiu para compreender toda a
problemática associada aos consumos adictivos do álcool e os objectivos do
tratamento devem seguir critérios rigorosos de triagem e avaliação. As
componentes mais efectivas para um tratamento de sucesso está na relação
terapeutica e no uso de estratégias próprios para levar a mudança do
comportamento de risco. Sendo que as abordagens Cognitivo-Comportamental, a
Entrevista Motivacional e a Prevenção à recaída tem-se mostrado eficazes na
abordagem do problema.
Em Portugal o Tratamento constitui um dos pilares ffundamentais da acção
estratégica do IDT na diminuação de riscos e das consequências dos consumos de
substâncias psicoactivas.
Os objectivos das comunidades terapeuticas incluem a habilitação ou
reabilitação total do individuo dando inicio a uma aprendizagem de mudança dos
comportamenos negativos, de pensamentos e emoções que possam predispor ao
consumo de álcool. Tendo como meta o desenvolvimento de um estilo de vida
saúdavel (Scheel, 2001, p. 112).
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