O Homem que não se fez “mudo”
para poder comunicar. Que estupidez!
O homem receia ser estúpido, onde
se mede o saber? Onde pára a dúvida? Onde começa a inteligência? Fala-se de
tudo como se falar fosse importante para dizer ao outro aquilo que percebemos.
A palavra deixou de fazer sentido, de ser verdade. Um aperto de mão já não é
convicção e respeito, mas obrigação. Bom dia como está? Quem quer saber? Se não
sabe porque pergunta? Aprendemos a tudo medir de forma a podermos classificar e
explicar o que não entendemos, para que se faça luz sobre a escuridão e que não
se vejam sombras na caverna, Platão adormeceu e o homem esconde-se por detrás
da sombra do cotidiano numa axiologia pobre de espirito de forma a preencher o
vazio de alma com algo para satisfazer a sua grandiosidade porque sim as
sombras são maiores do que a forma que lhes dá origem. Quando olho para uma
árvore tento perceber que é nos seus elementos que está o todo. E este é,
aquele que vê, por vezes fechado dentro de mim não vejo e apenas ouço o que
penso, aí estou obcecado na cegueira das coisas, de serem como eu quero e opino
e dou-me sempre que quero à razão, ter razão torna-se tão importante como falar
por falar, este é o homem loquaz ciente dos seus sapatos de alto curtume. A
ingenuidade perde-se com o tempo com a sociedade, acorrentado por todos os
lados o homem torna-se Rousseau, Marx e Totem e Tábus, tudo o que é da psique é
do social e vice-versa, ninguém pertence sem se fazer ao estilo do necessário
satisfazer, muito menos uma princesa triste representada por Lipovestsky e
Marisa no Fado, portanto a palavra passou a sentimento mas deslocada do tempo,
vivendo no tempo de outros e na voz de outros. Porque outros dizem por nós o
que pensam que somos, como devemos agir, porque fazemos parte da norma. Talvez
a Severa tenha sido prostituta iniciada pela mãe, o que deixa sérias dúvidas
sobre a lealdade humana, pois quando alguém conta isto, é de forma a satisfazer
a curiosidade e a poder se aceitar moralmente, no seu eu, sou melhor ou pior,
medido por aquilo que se faz. Sem a palavra falada e escrita a história seria
silenciosa e o homem que não se fez mudo para poder comunicar, dizer de si ao
outro, da sua presença precisando desse espelho onde se compare para se
engradecer. Tântalo e tantos outros sedentos caiem na angústia da decisão do
Pais das Maravilhas. Então as dúvidas são femininas e as certezas masculinas,
umas são Alices e Penélopes outros são Ulisses e Sisífios. Tudo Vermelho e
negro ou branco e preto sem dialéctica. A aldeia Global sofre de um Choque do
Futuro e o homem subitamente acorda perante uma sociedade desconhecida mas
Platão continua a dormir pois sabe que alguém irá falar por ele, será a sua voz
e isso é o futuro. O uso da linguagem não pode corresponder aos interditos e
aos não ditos, a linguagem não tem acesso ao oculto apenas pelo lapso se pode
dar algum entendimento ao sentido não proferido. Por que se estuda então o
homem? A sua natureza e a sua socialização, apenas para escrever páginas de
história que será lida por aqueles que não a fizeram. Nem Sócrates morreu nem o
actor perdeu a máscara, a persona, continua o Si, sem consciência do seu
inconsciente, ainda estamos na Idade Média, não tenho dúvidas pois não há
apesar de alguns rumores consciência espiritual. A realidade é constituída por
muitos tipos de diferentes substâncias de sentido, o sentido comum é a ironia
de um Saramago ou o sentido de alguns. Vivemos numa negação de nós mesmos
crendo ser verdade o que dizemos, fazemos ou escutamos, como único e tão
extraordinário que tal nunca se viu. Ridículo o homem na sua estupidez.
Álvaro Carvalho, 09 de Novembro de 2011.
Sem comentários:
Enviar um comentário