quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O Tobias apareceu hoje na consulta, preocupado, um pouco desfocado e despenteado.



30 de Novembro de 2011
Hoje estamos em terapia foi um pedido do Tobias, sentou-se, rebolou-se, coçou-se, sentou-se e deu umas voltas e por fim sentou-se. É preciso compreender e ter paciência é o Tobias e pronto está tudo dito ele é mesmo assim. Para dormir ou deitar-se faz sempre estes movimentos repetidos como quem não sabe o que quer, ou vai fazer de seguida. Eu acho que é mais um ritual, um hábito. Enquanto ele estava nesta preparação eu cruzei e descruzei as pernas, nada de mais nem de preocupante pois não sou a Sharon Stone, nem foi por impaciência ou falta de conforto foi porque foi, como o Tobias. Acho que já ando a ficar parecido com ele ou então identificou-me. Mas como estamos em terapia não vou tratar da minha psicoterapia através de um paciente, como se fosse para me realizar, coisas de ego. Que ninguém sabe bem o que é mas que todos sabem identificar nos outros. Bem disse-me o Tobias: - Hoje estou preocupado. Então Tobias preocupado, como assim? Ou num estilo mais psicanalítico ou só analítico. Hum, hum, estou a ver, queres falar disso? Então voltei a mim e perguntei-lhe: O que te preocupa? Bem, não é fácil falar disso, mas é aquela coisa que se chama de solidariedade. É que sabes nós os cães grandes também temos amigos, não temos só este aspecto de maus, de arrogantes e insensíveis, também somos “humanos”. Aqui, respirei de preocupação, lá estava ele de novo com as suas ideias de rottweiler, imagem só,« nós os cães grandes», mas a minha curiosidade, de quem está ele a falar deixei-o ir nos seus desvaneios e episódios maníacos, direi mesmo de delirium pois já se identifica com um humano. Cada vez mais está a regredir cada vez mais. Temos que aumentar as terapias ou não sei onde isto vai parar, está de novo em pré-contemplação. Bem! diz-lá, então, disse eu, já com pouca paciência mas demonstrando alguma tolerância, porque sou humano. Então, não é que um amigo meu, disse o Tobias, foi hoje parar ao hospital. Sabes, ele é um cão, assim como eu, grande, é um boxer, não digo o nome porque é uma questão de anonimato, ele é mais velho do que eu e somos amigos e eu não sei nada dele sei que foi parar ao hospital e fico preocupado, um amigo é um amigo. Ok, pensei, não lhe conheço este amigo, mas sei que os cães têm destas coisas, manias, nunca se viram mas são logo amigos, é como no Facebook. Basta um cheiro aqui, um cheiro ali e pronto conhecem automaticamente o outro, mesmo que esse outro não seja ele próprio, mas apenas um Avatar. Parece-me a mim que eles se identificam pelos rituais e nos seus inventários não põem em causa a razão. Porque a razão é preciso tê-la, é uma questão de afirmação. Então no facebook acontece empatia, Rogers, o Carl, não previu isto, emoções na net, emoções sem saber a quem. Redes sociais igual a emoções. E por solidariedade temos empatia. Isto deve ser coisa da evolução, do legado que Darwin nos deixou, para nos pôr em problemas e dar continuidade a filosofia e as novas escolas, cansadas de serem velhas pela sua existência. Renovar o Ser Humano, procura-se vivo ou morto a identidade perdida. E muitas das vezes procura-se fora de nós, procura-se nos outros. Então, Tobias queres falar mais, desse teu amigo? E da tua preocupação? Não! Exclamou, estou bem assim, não posso fazer mais nada. Não faço milagres, nem sou médico. Sou o Tobias, mas ele deve precisar de companhia, disse com ar de compaixão. E perguntou-me, se ele pode brincar? E, como se pode viver? Se não podemos brincar, jogar, rir e coisas assim. Porque, quando estamos doentes perdemos a vontade de motivação para algo ou então estamos doentes porque perdemos a vontade. Isso deve ser coisa de estarmos a contrariar o nosso destino pessoal, de irmos contra a nossa verdade, e o Eu entra em Colapso. As coisas que o Tobias pensa e num ápice saltou de conversa: -Bem! Disse o Tobias com firmeza deixemos-mos de coisas e vamos em frente que atrás vem gente. Estás com o humor apurado, não será raiva, pareces-me algo irónico, sarcástico, não? Não, o quê? O Tobias parecia não querer compreender do que é que eu estava a falar. Queres me falar de ti, hoje na consulta. Mas eu estou a falar de mim, interrompeu ele indignado comigo. _O que é que queres que eu diga mais? Então Tobias, queres dizer mais alguma coisa. Não, acho que já falei de tudo hoje, porquê? Intrigado, olhou para o lado, disfarçando como se estivesse a pensar em algo que ele não se lembrava. Então! Não falamos de fazeres mudanças? E de planos para as mudanças e de seguires sugestões. Sim tu falaste nisso, já não me lembro porquê, mas está tudo bem comigo, não há qualquer problema. Quem tem um problema é o meu amigo, eu não estou doente. Disse já a ficar chateado. E deslocou-se para a porta para eu perceber que a sessão tinha terminado e que ele queria era ir à rua.
Pronto, anda Tobias vamos à rua. E lá fomos correr os dois, não foi os dois a correr, fomos correr.

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