24 de Novembro de 2011.
Hoje não
houve consulta por causa da greve, foi o que o Tobias justificou. Eu aceitei.
Mas perguntei-lhe: Porque não vieste a consulta? Porque houve greve! -Eu disse-lhe,
que isso não era justificação e que podíamos ter adiado ou arranjado outra
forma. Argumentei que na última consulta ele tinha trocado as suas prioridades
e que tinha ido apanhar sol, como se isso fosse fazer qualquer ou alguma coisa,
confrontei-o com a sua pouca preocupação, direi mesmo negação sobre o seu
problema. Porque não admite? Porque lhe custa a aceitar a sua condição? A sua
perspectiva distorcida, na sua luta interior entre ser um caniche ou um
rottweiler, entre ser ele e ser um desejo de si próprio, esta alma anda
confusa, falta-lhe estrutura. Foi óbvio de mais para min as suas dificuldades,
nem preciso de usar qualquer método de aferição, pois na minha consciência
social das necessidades sociais e vitais para a própria existência ele está
inconsciente na sua consciência, se fosse ingenuidade, se fosse demência
compreendia-se agora negar a sua real existência está relacionado com o seu
propósito, se aqui viesse o pai dele de certeza que o confrontava na sua
atitude de despreocupação perante as responsabilidades. Sê tu próprio, sê
forte, porta-te bem, vê-la o que fazes, não aguento mais um desgosto. Nele a
neurose subjectiva de Flaubert é provocada pela situação particular e familiar.
A valorização do fracasso para a sobrevalorização do êxito. A imagem como
produção imaginária é a possibilidade de negar o mundo, ao negar o mundo pode
negar a si próprio. Mais confuso fica e desorientado pois não entende o que
está para além da sua perspectiva, e na sua diferença é anormal, incapaz por
comparação com os demais. Vá-la a gente entender o comportamento humano que se
fez para ser tal como a palavra define humanidade, ser igual ao outro, quebra
de regras aceitar os outros na sua diferença e não na sua indiferença. Então
Tobias não tens nada para me dizer, fala sobre isso, fiz-lhe o convite,
generoso, dê-lhe a permissão de falar, a oportunidade de o ouvir e este ingrato
não aproveita, se ele deixar de investir é porque não está motivado. Bem pode
ser depressão. Pois com aquela euforia toda é bem capaz de estar a deprimir, há
então é por isso que está em negação, depois virá a aceitação. Bem, disse o
Tobias depois de reflectir um pouco sobre o que devia dizer, pelo menos foi o
que eu pensei, que foi esse o significado do seu silêncio. Porque o silêncio
quer sempre dizer qualquer coisa, nem que seja estar sem vida ou estar calado,
para não dizer asneira, o que, já é, por si mesmo uma forma de representação de
algo fechado ou oculto, sendo preferível torná-lo manifesto, para se poder
catalogar, curar, ajudar a gerir e outras formas afim. Que poder é este? Que se
julgam ter, sobre o inconsciente, ninguém conhece ninguém, na realidade, porque
não sabemos, quem é ninguém, quem está por detrás da máscara, da persona. Quem
assim fala, é porque é desconfiado e então é preso por ter e por não ter. Bem, disse
ele! Penso que ando mais calmo, menos contente, mas também não ando aborrecido.
Ah, um sintoma! Confusão, uma porta aberta, abri mais uma porta aberta. Presença
de alguns sinais de alguma falta de ambição, de motivação, mais algumas pitadas
de falta de expressão facial das emoções e uma forte tendência para a
ambiguidade. Desnorte que pode querer dizer rumo ao Sul e não ter falta de
Norte. Enfim voltando a consulta que não houve, então marcamos a próxima
sessão, sim com certeza. Mas o que devo fazer até lá? Boa pergunta deves fazer
o que todos fazem, ser como os outros, não te ponhas a inventar. A Imitação é
um processo natural de crescimento e ainda és muito pequeno para tomares
decisões, segue as orientações, vai com calma e não tomes nada que te possa
fazer mal. Como assim? perguntou o Tobias zangado. Aqui está, pensei logo eu
esta zanga quer dizer alguma coisa, tanta reactividade, apanhei-o, anda a tomar
algo, de certeza que está! Nem umas migalhas do chão, posso apanhar? Não posso
ladrar a janela, a quem passa? Estou confuso. Confuso não, não estás, estás é a
ser desonesto, sem h. Estás é em negação, confrontei-o, eu, do alto da minha
serenidade, num tom amigo e compreensivo. Ele continuava zangado, queria
quebrar regras, não lhes via o sentido. E mais, disse ele, mais ainda, com este
corpo de rottweiler não sou assim tão pequeno, tenho que me mostrar, de que
vale a pena ser um rottweiler se não posso exercer, é como um advogado, ou
qualquer outra profissão, só o é, se exerce, e numa feira de vaidades pode
constatar o seu conhecimento pondo-se em perspectiva com outros, atestar o seu
certificado, incluir-lhe notas de rodapé, que servem apenas para isso, serem
notas de rodapé, estabelecendo uma hierarquia de conhecimento que se quer
cientifica e precisa, tal como a fome ou a ilusão da lucidez. Afinal ele está
mesmo neste problema de personalidade, sou forte ou sou fraco, ganho ou perco,
sei ou não sei, sou assertivo ou mole, sei ter razão ou não. Aí Tobias, assim
não dá. Anda Tobias, vamos à rua.
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