sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Hoje sem consulta por causa da greve, fizemos o contrasenso que é ter uma consulta sem o ser.


24 de Novembro de 2011.
Hoje não houve consulta por causa da greve, foi o que o Tobias justificou. Eu aceitei. Mas perguntei-lhe: Porque não vieste a consulta? Porque houve greve! -Eu disse-lhe, que isso não era justificação e que podíamos ter adiado ou arranjado outra forma. Argumentei que na última consulta ele tinha trocado as suas prioridades e que tinha ido apanhar sol, como se isso fosse fazer qualquer ou alguma coisa, confrontei-o com a sua pouca preocupação, direi mesmo negação sobre o seu problema. Porque não admite? Porque lhe custa a aceitar a sua condição? A sua perspectiva distorcida, na sua luta interior entre ser um caniche ou um rottweiler, entre ser ele e ser um desejo de si próprio, esta alma anda confusa, falta-lhe estrutura. Foi óbvio de mais para min as suas dificuldades, nem preciso de usar qualquer método de aferição, pois na minha consciência social das necessidades sociais e vitais para a própria existência ele está inconsciente na sua consciência, se fosse ingenuidade, se fosse demência compreendia-se agora negar a sua real existência está relacionado com o seu propósito, se aqui viesse o pai dele de certeza que o confrontava na sua atitude de despreocupação perante as responsabilidades. Sê tu próprio, sê forte, porta-te bem, vê-la o que fazes, não aguento mais um desgosto. Nele a neurose subjectiva de Flaubert é provocada pela situação particular e familiar. A valorização do fracasso para a sobrevalorização do êxito. A imagem como produção imaginária é a possibilidade de negar o mundo, ao negar o mundo pode negar a si próprio. Mais confuso fica e desorientado pois não entende o que está para além da sua perspectiva, e na sua diferença é anormal, incapaz por comparação com os demais. Vá-la a gente entender o comportamento humano que se fez para ser tal como a palavra define humanidade, ser igual ao outro, quebra de regras aceitar os outros na sua diferença e não na sua indiferença. Então Tobias não tens nada para me dizer, fala sobre isso, fiz-lhe o convite, generoso, dê-lhe a permissão de falar, a oportunidade de o ouvir e este ingrato não aproveita, se ele deixar de investir é porque não está motivado. Bem pode ser depressão. Pois com aquela euforia toda é bem capaz de estar a deprimir, há então é por isso que está em negação, depois virá a aceitação. Bem, disse o Tobias depois de reflectir um pouco sobre o que devia dizer, pelo menos foi o que eu pensei, que foi esse o significado do seu silêncio. Porque o silêncio quer sempre dizer qualquer coisa, nem que seja estar sem vida ou estar calado, para não dizer asneira, o que, já é, por si mesmo uma forma de representação de algo fechado ou oculto, sendo preferível torná-lo manifesto, para se poder catalogar, curar, ajudar a gerir e outras formas afim. Que poder é este? Que se julgam ter, sobre o inconsciente, ninguém conhece ninguém, na realidade, porque não sabemos, quem é ninguém, quem está por detrás da máscara, da persona. Quem assim fala, é porque é desconfiado e então é preso por ter e por não ter. Bem, disse ele! Penso que ando mais calmo, menos contente, mas também não ando aborrecido. Ah, um sintoma! Confusão, uma porta aberta, abri mais uma porta aberta. Presença de alguns sinais de alguma falta de ambição, de motivação, mais algumas pitadas de falta de expressão facial das emoções e uma forte tendência para a ambiguidade. Desnorte que pode querer dizer rumo ao Sul e não ter falta de Norte. Enfim voltando a consulta que não houve, então marcamos a próxima sessão, sim com certeza. Mas o que devo fazer até lá? Boa pergunta deves fazer o que todos fazem, ser como os outros, não te ponhas a inventar. A Imitação é um processo natural de crescimento e ainda és muito pequeno para tomares decisões, segue as orientações, vai com calma e não tomes nada que te possa fazer mal. Como assim? perguntou o Tobias zangado. Aqui está, pensei logo eu esta zanga quer dizer alguma coisa, tanta reactividade, apanhei-o, anda a tomar algo, de certeza que está! Nem umas migalhas do chão, posso apanhar? Não posso ladrar a janela, a quem passa? Estou confuso. Confuso não, não estás, estás é a ser desonesto, sem h. Estás é em negação, confrontei-o, eu, do alto da minha serenidade, num tom amigo e compreensivo. Ele continuava zangado, queria quebrar regras, não lhes via o sentido. E mais, disse ele, mais ainda, com este corpo de rottweiler não sou assim tão pequeno, tenho que me mostrar, de que vale a pena ser um rottweiler se não posso exercer, é como um advogado, ou qualquer outra profissão, só o é, se exerce, e numa feira de vaidades pode constatar o seu conhecimento pondo-se em perspectiva com outros, atestar o seu certificado, incluir-lhe notas de rodapé, que servem apenas para isso, serem notas de rodapé, estabelecendo uma hierarquia de conhecimento que se quer cientifica e precisa, tal como a fome ou a ilusão da lucidez. Afinal ele está mesmo neste problema de personalidade, sou forte ou sou fraco, ganho ou perco, sei ou não sei, sou assertivo ou mole, sei ter razão ou não. Aí Tobias, assim não dá. Anda Tobias, vamos à rua.

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