Estávamos há mais de 10 minutos em silêncio, a demora
depende do tempo que estamos a atribuir ao tempo. Quanto tempo dura dez minutos? para
uns uma eternidade, para outros um curto espaço de tempo. É aquela coisa da
relatividade, do tempo. Mas, se há silêncio é porque algo acontece no silêncio
do momento. Mas que silêncio é este, é mudo? é contemplativo na arte oriental,
deixamos de pensar? Não e sim, o oposto do contraditório, a negação do som não impossibilita
de ouvir os meus pensamentos. Ainda não consigo é ouvir os pensamentos dos
outros, mas para isso há remédio, medicação. Nem tenho muito a ilusão, da
telepatia, lembra-me mais a Lara Li, a cantar do que algo atingível. Nem sou
golfinho que em boa verdade continuo a acreditar que são muito mais evoluídos do
que eu. Sem nada para pensar não significa, sem nada para dizer. O Tobias diz
muitas coisas no seu silêncio, é uma forma de dizer. Pois se ele caminha em
quatro patas isso é um comportamento de locomoção e sinal de bom equilíbrio e
de que tem 4 patas. E ele não precisa de me dizer nada, para eu identificar
este comportamento, que tem uma finalidade, um método, e objectivos, que é
caminhar sobre quatro patas. Então descobrimos ou revelamos que o Tobias se
desloca e que isso não é um comportamento no vazio. Ok, intuição. Mas indo mais
longe raciocínio intuitivo. Algo que eu faço com a maior das naturalidades
também, porque quando estou a caminhar para o trabalho, não me recordo, de que
sou eu, que caminho sobre duas pernas, mas caminho. Será que isto pode querer
dizer que me esqueço de mim, que não valorizo as pequenas coisas. Esqueço-me de
estar grato. O Tobias não se sente grato por caminhar para a cama ou para o seu
prato rico em alimentos, nutrientes. Ele vai e torna tudo tão simples. Não se
preocupa com coisas do cansaço e do estar farto de estar farto, vai e pronto, “Keep
It Simple”. Portanto o silêncio fala por si. E convidei-o a ficar mais alguns
momentos em silêncio e ele concordou ladrando, o que eu entendi como um sim,
mas que deveria ter sido interpretado como um não por interrompeu o silêncio,
então o silêncio quebrado perdeu o seu sentido, deixou de ter o que significava
por si. Morreu o silêncio, Nietzsche disse pior, quando pôs Zaratustra a falar,
eu não diria tanto, mas neguei o momento e preferi ficar em silêncio. O Tobias
não ladrou mais. Onde há silêncio há espaço e tempo, há angústia, lágrimas no
silêncio, silêncio na voz, escuta-se em silêncio, faz-se voto de silêncio e outros
votos que ninguém na realidade sabe se são “compridos ou largos” e porque se
fazem. O silêncio tem ritmo, tempo e medida, faz parte da vida, ele está na
vida. Aí, as memórias silenciosas. As maiorias ou minorias silenciosas e
silenciadas. Então eu e o Tobias ficamos em silêncio, respeitando o silêncio
das nossas palavras sem acção. Escutando o silêncio que nunca vem só, mas por
vezes mal acompanhado. O silêncio de um passado, o silêncio do vazio, o
silêncio do sorriso, o mistério do silêncio. E foi neste silêncio convidativo
que estivemos ao pé um do outro, como se não houvesse amanhã, nem depois. Nada,
não há nada, para além do momento que é único e impossível de se repetir. Extraordinário
silêncio que me está na Alma.
Eu e o Tobias vamos à rua no silêncio da noite.
Sem comentários:
Enviar um comentário