quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O silêncio é um tempo que existe, o Tobias sabe usá-lo.


       Estávamos há mais de 10 minutos em silêncio, a demora depende do tempo que estamos a atribuir ao tempo. Quanto tempo dura dez minutos? para uns uma eternidade, para outros um curto espaço de tempo. É aquela coisa da relatividade, do tempo. Mas, se há silêncio é porque algo acontece no silêncio do momento. Mas que silêncio é este, é mudo? é contemplativo na arte oriental, deixamos de pensar? Não e sim, o oposto do contraditório, a negação do som não impossibilita de ouvir os meus pensamentos. Ainda não consigo é ouvir os pensamentos dos outros, mas para isso há remédio, medicação. Nem tenho muito a ilusão, da telepatia, lembra-me mais a Lara Li, a cantar do que algo atingível. Nem sou golfinho que em boa verdade continuo a acreditar que são muito mais evoluídos do que eu. Sem nada para pensar não significa, sem nada para dizer. O Tobias diz muitas coisas no seu silêncio, é uma forma de dizer. Pois se ele caminha em quatro patas isso é um comportamento de locomoção e sinal de bom equilíbrio e de que tem 4 patas. E ele não precisa de me dizer nada, para eu identificar este comportamento, que tem uma finalidade, um método, e objectivos, que é caminhar sobre quatro patas. Então descobrimos ou revelamos que o Tobias se desloca e que isso não é um comportamento no vazio. Ok, intuição. Mas indo mais longe raciocínio intuitivo. Algo que eu faço com a maior das naturalidades também, porque quando estou a caminhar para o trabalho, não me recordo, de que sou eu, que caminho sobre duas pernas, mas caminho. Será que isto pode querer dizer que me esqueço de mim, que não valorizo as pequenas coisas. Esqueço-me de estar grato. O Tobias não se sente grato por caminhar para a cama ou para o seu prato rico em alimentos, nutrientes. Ele vai e torna tudo tão simples. Não se preocupa com coisas do cansaço e do estar farto de estar farto, vai e pronto, “Keep It Simple”. Portanto o silêncio fala por si. E convidei-o a ficar mais alguns momentos em silêncio e ele concordou ladrando, o que eu entendi como um sim, mas que deveria ter sido interpretado como um não por interrompeu o silêncio, então o silêncio quebrado perdeu o seu sentido, deixou de ter o que significava por si. Morreu o silêncio, Nietzsche disse pior, quando pôs Zaratustra a falar, eu não diria tanto, mas neguei o momento e preferi ficar em silêncio. O Tobias não ladrou mais. Onde há silêncio há espaço e tempo, há angústia, lágrimas no silêncio, silêncio na voz, escuta-se em silêncio, faz-se voto de silêncio e outros votos que ninguém na realidade sabe se são “compridos ou largos” e porque se fazem. O silêncio tem ritmo, tempo e medida, faz parte da vida, ele está na vida. Aí, as memórias silenciosas. As maiorias ou minorias silenciosas e silenciadas. Então eu e o Tobias ficamos em silêncio, respeitando o silêncio das nossas palavras sem acção. Escutando o silêncio que nunca vem só, mas por vezes mal acompanhado. O silêncio de um passado, o silêncio do vazio, o silêncio do sorriso, o mistério do silêncio. E foi neste silêncio convidativo que estivemos ao pé um do outro, como se não houvesse amanhã, nem depois. Nada, não há nada, para além do momento que é único e impossível de se repetir. Extraordinário silêncio que me está na Alma.
Eu e o Tobias vamos à rua no silêncio da noite.

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