23 de Novembro de 2011
Estamos em consulta, ou Quê?
Ou Quê, o quê?
Tic-tac,
tic-tac, tic-tac, o relógio continuava a sua marcha, mas o Tobias não aparecia,
estava atrasado aproveitei o tempo para refrescar a memória e tirar algumas
teias de aranha, e viajei por onde me apeteceu pelo passado, o meu passado, não
sabendo quem conduziu esta reprodução de memórias, mas deixando fluir e vendo,
porque vejo também de olhos fechados e também sei sonhar de olhos abertos e
noutros momentos não vejo nada e acredito que tenho os olhos abertos, nem sei
sonhar a dormir, como diz o poeta «Os meus olhos são uns olhos, e é com estes
olhos uns, que eu vejo escolhos, onde outros com outros olhos não vêm escolhos
nenhuns». As coisas, que eu consigo e não consigo fazer, só por ser humano e
adoro visitar-me a mim e as situações vividas. Se Narciso ouvisse isto, iria se
sentir mais só. As saudades são coisas bem portuguesas, mas também pode ser por
causa dos Velhos do Restelo. É como uma peça, um filme que vou seguindo com
calma e segurança, pois visitar o passado é seguro porque sei onde vai dar, não
vou ser surpreendido pelas consequências, mas posso sê-lo pelo tempo onde se
desenrola a acção, como as crianças que vêem e repetem os desenhos animados,
porque assim aprendem a lidar com o efeito surpresa e passam a ter a sensação
de controlo sobre a situação, antecipam, preparam o simpático e o parassimpático,
e sentem que controlam os seus sentimentos pois já conhecem o que vai suceder e
assim antecipam o inesperado pois ele torna-se esperado. O que é que isto tudo
tem a ver com ansiedade, aparentemente apresenta-se uma calma aparente mas os
momentos são divididos entre esse espaço seguro, onde quero esperar, zona de
conforto, em consciência, no entanto o emocional conduz-me a uma preocupação,
ao por quê de este atraso? Algo aconteceu? Aqui abre-se um parentese curvo pois
qualquer senso comum diria que é normal, porque nos preocupamos quando
gostamos, outros mais introspectivos e relacionados com a causa efeito,
falariam de controlo, de querer saber e controlar o que se passa na sua vida, elevando
isto ao controlo do momento e no mesmo sentido me fariam ver ou reconhecer que
talvez fosse no acto da vinculação, onde fiquei com medo da perda ou se não fosse
do acto, seria do processo. Há sempre uma razão, uma explicação, procura-se
reduzir e medir algo que é, tão da vida, e apreendê-lo numa estatística
preditiva, modelos complexos de tomada de decisão, onde servirá para escrever e
colocar notas de rodapé, credibilizando um momento, uma reacção, uma
preocupação, para que talvez se possa fazer uma medicação ou mais uma sessão. E,
que a minha segurança é adquirida pelo que os outros fazem ou não fazem, se
estão ou não estão quando é esperado, se sou um actor ou um reactor é tudo
culpa do coping, da modulagem e mesmo dos arquétipos. Tudo tem uma
responsabilidade, as circunstâncias servem de atenuante ou de culpa. Bem vou
esperar para ver o que aconteceu, é por isso que o mesmo tic-tac pode ser
relaxante ou intolerável, então a culpa não é do relógio, mas de quem o fez,
“The Blind Watchmaker”. O controlo sobre
o imprevisto tem esta monotonia pois não há simpático, nem parassimpático que o
ature. O medo condiciona a entrega, mas alerta para o perigo. Mais dúvidas,
neste momento, onde estou? Entre o esperar ansiosamente, sem o sentir e
enganando o meu ser, dizendo: estou calmo, estou relaxado, confio e entrego.
Posso continuar a minha busca silenciosa, ouvindo o silêncio, parando o tempo, rebobinando
as viagens da mente no tempo real e no imaginário. No real no que foi ou direi
antes aquilo que eu penso que foi, no imaginário, aquilo que eu penso que
poderia ter sido, na negação é ficar naquilo que eu acho que devia ter sido.
Ouvi, sim vem aí, no seu andar em quatro patas, movimento de quatro tempos que
ele consegue fazer parecer dois bites, um tic-tac, relaxante do coração, e lá
vem ele, ao ritmo do relógio. Então? Perguntei, então Tobias! o que aconteceu?
Ele sentou-se e disse: estive a apanhar sol e que agora, o que era giro, era ir
à rua. Ok Tobias, anda, vamos a rua! Como o complicado pode ser tão simples.
Mas como as memórias podem ser uma boa companhia.
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